A Ota ou os Otários?
A OTA ou os OTÁRIOS?
Se este país precisa, realmente, de um novo Aeroporto, e começam a ser legítimas todas as dúvidas, há que reconhecer com sinceridade que qualquer cidadão com um mínimo de bom senso, sem necessidade de ser técnico de coisa alguma, não teria qualquer hesitação, perante as características de cada um dos locais, em apontar o Campo de Tiro de Alcochete como o local mais indicado comparativamente com o da Ota.
Quem teria dúvidas em escolher entre uma enorme zona completamente plana a perder de vista e uma outra acidentada, pantanosa e encostada a uma serra para lá colocar um aeroporto?
Mais, a opção era de tal modo óbvia que a construção do Aeroporto na Ota apenas era explicável pela simples razão de que ainda era possível, ali, colocar o Aeroporto.
Mas então, sendo assim, quais foram os argumentos ponderosos que excluíram à partida a solução óbvia tornando mesmo desnecessário continuar com os estudos no local?
As razões foram indicadas e tinham a ver com a defesa do património ambiental que, a não ser feita, e de acordo com os respectivos técnicos, provocaria prejuízos de valor muito superiores aos de qualquer Aeroporto por muito importante que ele fosse acreditando-se, inclusivamente, que Bruxelas dificilmente aceitaria financiar um investimento ferido de tão graves atentados à natureza.
E esse património dizia respeito a toda a biodiversidade dos estuários do Tejo e do Sado que são ambientes muito sensíveis e que ficariam irremediavelmente expostos a uma morte lenta, a um corredor de aves migratórias que por ali tem o seu percurso e um lençol freático subjacente a toda aquela zona e que se estende por uma área de grandes dimensões constituindo a maior reserva de água potável subterrânea não só de Portugal como da Península Ibérica.
Esta reserva estratégica de agua, de valor inquestionável, seria contaminada porque se a sua defesa, relativamente às aguas escorrentes do aeroporto, ainda era possível, o mesmo já não aconteceria com as partículas dos gases libertas pelos reactores dos aviões e que lentamente iriam infiltrar-se nos terrenos e atingir o referido lençol.
Ora, nestas condições, nenhuma pessoa de bom senso e muito menos um governo responsável se atreveria a construir um aeroporto que tivesse estes inconvenientes, impossíveis tecnicamente de minimizar e, nesta óptica, tinha inteiro cabimento o tal”jamais” do ministro Mário Lino.
Em conclusão, foram Pareceres Técnicos que apontaram inconvenientes de natureza ambiental gravíssimos impossíveis de evitar ou mesmo de minimizar, que estiveram na origem da decisão de colocar o aeroporto na Ota dada a impossibilidade de o construir na margem esquerda do Tejo.
Embora tomada por políticos, e por quem haveria de ser, a decisão foi dos técnicos do ambiente e a história poderia ter morrido aqui e passado para os nossos filhos e netos se um estudo da CIP que defendia a localização do aeroporto no Campo de Tiro de Alcochete apresentado ao governo à última da hora, não tivesse sido aceite e mandado avaliar ao LNEC, entidade de grande prestígio e reconhecida idoneidade, em paralelo com a solução da Ota.
Então, e os graves prejuízos para todo o património ambiental que eram inultrapassáveis e tinham excluído, à partida, a hipótese de localizar o aeroporto a sul do Tejo?
Terá acontecido algum passe de mágica que os tenha resolvido ou feito desaparecer?
Não, a explicação é outra e não tem nada de mágica:
Na tomada de decisão pela Ota os técnicos que tinham a seu cargo a defesa dos impactos ambientais eram cerca de 40 e cobriam toda a variedade de formas de vida animal e vegetal enquanto que os restantes especialistas em outras áreas não passavam de meia dúzia.
Esta enorme frente de ecologistas que tinham constituído uma importante base de apoio ao Eng. António Guterres e que, com a sua vitória nas eleição, ganhou, naturalmente, muito peso e influencia, formou como que um muro impenetrável na defesa de toda aquela área tornando impossível outra decisão que não fosse a de deslocar o aeroporto para a Ota.
Tendo-se concluído agora, pelo resultado dos estudos comparados do LNEC, que embora a Ota seja menos desvantajosa em termos de redução do valor ecológico do território, o Campo de Tiro de Alcochete, do ponto de vista técnico e financeiro é, globalmente, mais favorável”, é forçoso pensarmos que foram os ambientalistas, sob a capa de técnicos inocentes, simples amantes da natureza, a escolheram a Ota impondo a força política que à data possuíam, contra os superiores interesses do país.
Todos sabemos que não há desenvolvimento sem alterar e muitas vezes agredir a natureza, é inevitável, podemos mesmo dizer que é uma fatalidade, mas também não é menos verdade que a ciência e a tecnologia hoje disponíveis colocam na mão dos técnicos soluções que permitem minimizar ou até mesmo evitarem muitos prejuízos que, anos atrás, não era possível.
Portanto, qualquer fundamentalismo neste capítulo, só nos pode prejudicar porque os investimentos têm que ser optimizados numa solução de compromisso que respeite e defenda os interesses da natureza e do país que no fundo são comuns e esta solução tem que ser levada tão longe quanto possível sem preconceitos nem tabus.
Por outras palavras, se há soluções caras que defendam os habitats então gaste-se o dinheiro que for preciso mas ponham-se as coisas nos locais onde elas devem ficar.
E não me falem em pareceres técnicos e decisões políticas quando uma determinada classe de técnicos arranja a forma de impor, de acordo com os seus interesses, que até podem ser apenas de classe, a decisão final substituindo-se, eles próprios, aos políticos.
Por isso, eu que neste espaço defendi, há meses atrás, o direito do governo de Sócrates de avançar com o aeroporto na Ota ao fim de 30 anos de impasse, sinto-me agora no papel de otário e se ponho o ponto de interrogação é apenas porque ainda falta a Avaliação Ambiental Estratégica e… gato escaldado de água fria tem medo.
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