segunda-feira, agosto 11, 2008


Jogos Olímpicos




Sempre gostei de desporto, de todo o desporto, porque acima de tudo ele é uma poderosa manifestação de vida e tenha ele sido praticado ao longo dos tempos em honra dos deuses ou dos homens, mortos ou vivos, o fascínio que desperta tem a ver com essa manifestação de força e de vida que representa.

A vida é competição, nós próprios existimos porque competimos e ganhámos, por vezes mesmo à tangente, lutando contra o clima e as suas variações, os cataclismos naturais, os animais ferozes, a escassez de alimentos e contra nós próprios por causa desta nossa tendência para destruir grupos rivais.

Hoje, parece demonstrado que a verdadeira e grande competição é ao nível dos nossos genes e nós, que somos a sua casa e os seus transportadores, geração após geração, nem nos apercebemos dessa competição que se trava dentro de nós.

Os primeiros Jogos Olímpicos que se realizaram na antiga Grécia a partir do ano 776 A.C., julgava-se que fossem uma celebração ao desporto e à beleza estética do homem mas de acordo com o que Homero escreveu na sua Ilíada, a intenção seria mais de carácter místico e fúnebre, uma saudação aos mortos de cada cidade.

Num período de 4 em 4 anos, cada polis ou cidade-estado da Grécia, escolhia um dia para reverenciar os mortos do último quadriénio reunindo num campo os seus pertences e abandonando momentaneamente a cidade para que os espíritos passeassem à vontade entre as suas lembranças da vida terrena.

Antes, porém, as sacerdotisas acendiam uma chama que os rapazes levavam até ao templo do deus patrono da cidade.

Estas cerimónias precediam os Jogos que tinham nomes diferentes conforme a cidade em que ocorriam, assim, em Corinto, eram os Jogos Ístmicos, em Delfos eram os Písticos, em Argos eram os Nemeus e em Olímpia os Olímpicos. No conjunto, denominavam-se Pan–Helénicos.

Foi, no entanto, em Olímpia que eles atingiram a sua maior magnitude porque era aqui que existia um Templo de dimensões magníficas dedicado a Zeus que, na hierarquia dos deuses, era o mais importante, deus dos céus que dominava o monte Olimpo.

De notar que os deuses gregos são familiares, têm aparência humana, com qualidades e defeitos, contudo, são imortais e podem metamorfasear-se.

Era junto desse enorme Templo que tinham lugar os jogos, iguais aos de todas as restantes cidades, mas que aqui reuniam maior número de participantes e desenrolavam-se como competições regulares e de extrema importância para todos os helénicos.

Praticamente sem interrupção mas, naturalmente, com algumas modificações, os Jogos Olímpicos decorreram desde o século VIII A. C. até ao V D.C. logo, durante mais de mil anos, embora na sua parte final estivessem já muito descaracterizados, parecendo mais longas orgias e bacanais até que o Imperador Teodósio, que se tinha convertido ao cristianismo, os proibiu por serem considerados manifestações de paganismo.

As modalidades praticadas nos Jogos Olímpicos da Era Clássica eram os seguintes:

-Boxe;

-Luta Livre (combates brutais sem qualquer espécie de precauções para evitar ferimentos);

- Lançamento de Disco (de pedra ou de metal);

- Pentatlo (que incluía cinco provas: dardo, disco, salto em comprimento, luta e corrida);

- Salto;

- Corrida (os concorrentes corriam nus e com o corpo untado);

- Pankration (luta semelhante ao box no qual eram permitidos todos os golpes incluindo o estrangulamento);

- Corridas equestres (sem obstáculos, o cavaleiro apeava-se e cruzava a meta levando o cavalo à mão);

- Corrida de mensageiros e trompeteiros.

Aqueles que se comprometiam a participar nos Jogos eram obrigados a prepararem-se durante dez meses e deviam chegar a Olímpia com um mês de antecedência para completarem os treinos.

Todas as provas tinham um carácter estritamente individual e conduziam à glorificação do atleta que se tivesse revelado melhor.

O que é curioso, no entanto, é que os Jogos não foram pensados e concebidos como um objectivo em si mesmo, porque aquilo de que se tratava era, como já foi referido acima, de cerimónias de culto aos mortos, simplesmente elas atraíam tantas pessoas oriundas de várias cidades que, inevitavelmente, ocorriam rixas e contendas entre os peregrinos o que perturbava e inviabilizava o ambiente próprio a uma cerimónia de culto religioso.

Então, para distrair os brigões e permitir que as manifestações religiosas se desenrolassem em paz, os organizadores do evento promoveram, em simultâneo, competições desportivas e sabe-se isto porque foi encontrado um disco de pedra nas ruínas do Templo de Hera, em Olímpia, que refere um Acordo de Tréguas e de manutenção de paz durante os Jogos Olímpicos.

Este Acordo foi selado entre os Reis Ifitos de Ilía, Licurgo de Esparta e Clístenes de Pisa e mais tarde muitos outros reinos se juntaram a este Acordo e é a partir daqui que os Jogos se tornam a primeira competição de paz entre os homens e depois entre as nações.

Eles eram tão importantes que as guerras, se as houvesse, eram suspensas e passava-se um salvo-conduto para permitir aos viajantes seguirem em paz para a cidade de Olímpia e no Calendário grego os anos eram contado pelas Olimpíadas.

Eram mais de quarenta mil pessoas que vinham de todo o lado da Grécia não só para ver os Jogos mas também para o festival religioso e conversarem com pessoas de outras cidades como Argos, Esparta, Atenas, Tebas, etc.

Os poetas e oradores aproveitavam-se do grande afluxo de gente para se tornarem mais conhecidos declamando as suas obras e outros para diversificarem os seus negócios.

À entrada de Olímpia estava o ginásio para os atletas se treinarem e mais de cem bois eram sacrificados no altar em frente do Templo (não devia ser agradável o local com os restos dos animais e o cheiro a carne e a sangue...)cujo interior era dominado pela estátua de Zeus coberta de ouro e frente a ela cada atleta tinha de fazer um sacrifício e orar antes do começo da sua prova mas era um comité organizador que decidia se a moral do atleta lhe dava o direito de competir.

A homenagem aos vencedores tinha lugar no último dia sendo-lhes então entregue uma coroa de ramos de oliveira selvagem, segundo a lenda plantadas por Hércules, e transformavam-se em ídolos, especialmente para os habitantes das cidades a que pertenciam.

Toda a gente podia assistir aos jogos com excepção das mulheres casadas sob pena de serem arremessadas do alto de uma rocha.

Apenas uma se sabe que tenha sido perdoada, Calipatira, que atravessou a arena para ir abraçar o filho e deixou cair o disfarce mas porque era mãe, irmã e filha de campeões olímpicos escapou ao castigo.

Os Jogos da Era Moderna foram relançados pelo francês, Barão Pierre de Coubertin, em 1896, numa França que acabara de ser humilhada numa guerra relâmpago com a Alemanha, com o objectivo de celebrar a paz entre as Nações.

O ideal olímpico representado pela velha máxima de que “o importante não é vencer mas participar”, cujo autor não foi Pierre de Coubertain, como muitas vezes se diz mas sim o Bispo da Pensilvânia, em 1908, durante um sermão aos atletas por ocasião das Olimpíadas de Londres, esteve longe, muitas vezes, de ter sido seguido sendo os casos mais notórios os de Ben Johnson e de Marion Jones que ingeriram substâncias dopantes com as quais obtiveram falsas vitórias.

Ambos tiveram que devolver as medalhas e Marion Jones foi mesmo condenada a prisão efectiva de seis meses... nas velhas Olimpíadas teriam sido açoutados.

O espírito olímpico não estava lá e por isso o atleta não resistiu à ambição da glória.

Site Meter