quinta-feira, agosto 21, 2008


Pensar é melhor que Rezar

Manifesto Ateísta de Sam Harris (Parte III)


Fé e Boa Sociedade

É hábito que as pessoas de fé reivindiquem para o ateísmo a responsabilidade por alguns dos crimes mais apavorantes do século XX.

Embora seja verdade que homens como Staline, Hitler, Mao e Polt não eram religiosos, em graus diferentes, eles também não eram especialmente racionais.

Na realidade os seus discursos políticos eram pouco mais que ladainhas de ilusão sobre raças, economias, identidade nacional, a marcha da história ou os perigos morais da intelectualidade. Em muitos aspectos a religião era directamente culpável.

Consideremos o Holocausto:

- O anti-semitismo que constituiu a base para o Nazismo era uma herança directa do Cristianismo Medieval. Durante séculos, alemães religiosos tinham visto os judeus como a pior espécie de hereges e tinham atribuído todos os males da sociedade à presença continuada dos judeus entre os crentes e enquanto o ódio aos judeus na Alemanha se expressou, predominantemente, de modo secular, a demonização religiosa aos judeus da Europa continuou com o silêncio cúmplice do Vaticano que perpetuou a calúnia.

Auschwitz, Gulag e os Campos da Morte não eram exemplos do que acontece quando as pessoas ficam muito críticas a convicções injustificadas, pelo contrário, estes horrores testemunham os perigos de não se pensar bastante em ideologias seculares específicas. Desnecessário é dizer que um argumento racional contra a fé religiosa não é um argumento para se abraçar o ateísmo como um dogma.

Enquanto a maioria dos americanos acredita que libertar-se da religião é uma meta impossível, grande parte do mundo desenvolvido já realizou isso e se quisermos explicar a religiosidade dos americanos e o facto de eles organizarem as suas vidas ao redor de antigas tradições de ficção religiosa à conta de um “gene” de deus existente no seu cérebro, então têm que explicar por que razão esse gene não está na cabeça de tantos habitantes de outras sociedades no mundo.

O nível de ateísmo no resto do mundo desenvolvido refuta qualquer argumento a favor da religião como, de alguma maneira, uma necessidade moral.

Países como a Noruega, a Islândia, Austrália, Canadá, Suécia, Suiça, Bélgica, Japão, Países Baixos, Dinamarca, Reino Unido estão entre as sociedades menos religiosas do mundo mas, de acordo com o Relatório do Desenvolvimento Humano das Nações Unidas de 2005, são também os mais saudáveis, mais alfabetizados, com maior nível educacional, maiores rendimentos per capita, mais baixa taxa de homicídios e de mortalidade infantil.

Ao contrário, as 50 Nações com menores taxas de desenvolvimento humano são precisamente as que apresentam maiores índices de religiosidade.



Os EUA não têm rival entre as democracias ricas, de maior religiosidade e de maior oposição à Teoria da Evolução e apresentam também as mais altas taxas de homicídio, aborto, gravidez de adolescentes, de doenças sexualmente transmissíveis e de mortalidade de crianças.

Dentro dos próprios EUA, são os Estados Sulistas e do Médio Oeste os que se caracterizam por níveis mais altos de superstição religiosa e hostilidade à Teoria da Evolução que são especialmente infestados pelos indicadores de deficiência orgânica da sociedade, enquanto os Estados comparativamente seculares do Nordeste estão conformes as normas europeias.

É evidente que a relacionação destes dados não responde a questões de casualidade, do género:

- A convicção em Deus pode conduzir a deficiências orgânicas da sociedade?

- As deficiências orgânicas da sociedade podem nutrir uma convicção em Deus?

- Cada factor destes pode habilitar o outro ou ambos podem provir de uma fonte mais profunda?

Mas deixando estas questões de lado, a realidade prova que o ateísmo é perfeitamente compatível com as aspirações básicas de uma sociedade civil, da mesma forma que fica provado que a fé religiosa não faz nada que assegure a saúde de uma sociedade.

Países com altos níveis de ateísmo são também os mais caridosos em termos de assistência aos países do mundo mais carecidos e a ligação entre países ditos cristãos e os valores cristãos é desmentida por outros índices de caridade.

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