quinta-feira, setembro 18, 2008


As Eleições Americanas e o Voto Evangélico






Nenhum analista da actividade política, nacional ou internacional, é mais assertivo do que o Dr. António Vitorino.

Perante a entrada em cena da candidata a Vice-Presidente pelo Partido Republicano, Sarah Palin, governadora do Estado do Alasca, o candidato McCain, não só recuperou o atraso relativamente a Obama como o ultrapassou nas sondagens.

Muitas foram as vozes a apontar a escolha da Srª. Palin como uma aposta clara no eleitorado feminino que teria ficado descontente com a derrota de Hillary Clinton nas primárias democráticas mas, independentemente desta escolha poder ter agradado a alguma parcela do eleitorado feminino, do que não restam dúvidas é que o prestígio pessoal e político destas duas mulheres não se pode comparar e a segunda nunca poderá fazer esquecer a primeira.

Mas Vitorino, conhecedor da realidade social americana, não se deixou enganar e no seu programa da última segunda feira, foi directo ao voto evangélico como o verdadeiro responsável pela recuperação nas sondagens do Partido Republicano.

Quem é esta Sr.ª Palin?

-Governadora do estado do Alasca, foi Presidente da Câmara de uma cidade com 9.000 habitantes, Wasilla, e tem experiência zero em política externa pelo que pôs fim, em definitivo, ao argumento do Partido Republicano sobre a inexperiência de Obama.

- Tem 44 anos, há 20 casada com um senhor que trabalha na indústria dos petróleos, 5 filhos de idades compreendidas entre os 18 anos e os 5 meses sendo que o mais velho partiu agora, como voluntário, para a guerra do Iraque e o mais novo nasceu com a síndrome de Down que foi detectada durante a gravidez mas que, por convicções religiosas, a mãe permitiu que nascesse.

- A síndrome de Dawn não é uma doença mas sim um evento genético natural e universal estando presente em todas as raças de uma forma relativamente comum, um caso entre 800 a mil nascimentos.

Com esta síndrome as crianças apresentam atraso mental, podendo mesmo ser profundo e correm um risco muito grande de sofrerem de sérias anomalias tais como, defeitos cardíacos congénitos, otites, apnéia do sono obstrutiva, disfunções da glândula tiróide, problemas de visão e de audição e como não se trata de uma doença tão pouco se pode falar em cura.

A Srª Palin apresentou-se a si própria como uma “típica mãe de família” mas é evidente que não o é pois uma “típica mãe de família” não condena um filho à doença, ao sofrimento e à descriminação sem qualquer espécie de esperança, desde o nascimento até à morte, quando o poderia ter evitado.

Uma “típica mãe de família” também não é membro do poderoso lobbie das armas NRA, (Associação Nacional do Rifle), não se diverte a matar alces a tiro e não advoga a construção de um gasoduto no Alasca e a exploração petrolífera em áreas de Reserva Natural, pondo em causa o futuro do ambiente onde os seus filhos e netos irão viver.

As convicções religiosas da Srª Palin fazem as delícias daquele sector da população da América profunda, ultra conservador, cristã fundamentalista, ignorante e obscurantista, o chamado “Cinturão da Bíblia” que estava órfão de candidato e que provavelmente, muito dele, não votaria McCain porque este não lhe dava suficientes garantias.

E aqui temos o voto evangélico no qual António Vitorino pôs o acento tónico mais do que numa guerra de conquista de votos no eleitorado feminino depois da derrota de Hillary Clinton.

A Srª Palin tem uma fixação em Deus porque até 2002 ela pertencia à Assembleia de Deus em Wasilla, uma comunidade pentecostal da qual foi praticante durante 20 anos.

Desde que deixou a Assembleia de Deus, Palin frequenta a Igreja Bíblica de Wasilla que não tem denominação.

O movimento pentecostal enfatiza “expressões do Espírito Santo” na forma de “dons espirituais” tais como a capacidade de falar línguas estranhas, fazer profecias, curas pela fé, além de acreditarem no “fim dos tempos”, uma enorme revolução que supostamente antecederia a segunda vinda de Jesus.

Há membros da comunidade de Wasilla que participam em experiências que são relatadas da seguinte forma por quem as presenciou: “quando o espírito entra, você profere coisas que mais ninguém entende…somente Deus pode compreender o que está saindo das nossas bocas”.

Sarah Palin por mais de duas décadas foi pentecostal praticante, discorda da biologia evolucionária, defende o ensino nas escolas do criacionismo e preferiria pôr um fim completo à educação sexual.

Este passado recente pentecostal explica muito do que ela diz em público e que a campanha de McCain, preocupada, pretende minimizar.

Será que um gasoduto pode, realmente, ser uma manifestação da vontade divina?

Mais de uma vez a candidata a Vice-Presidente dos EUA demonstrou o hábito de investir significado religioso em questões seculares:

- Um gasoduto de 30 biliões no Alasca foi “vontade de Deus”;

- A guerra no Iraque foi “uma tarefa de Deus”.

Palin, age como se todas as decisões políticas emanassem directamente de uma vontade divina, e como tal, indiscutivelmente certas.

No dia 17 de Agosto, pouco antes de ser nomeada como candidata a vice-presidente do Partido Republicano, de acordo com a CNN, participou num evento na sua actual congregação, a Igreja Bíblica de Wasilla.

Um dos oradores, David Brikner, fundador do movimento “Judeus por Jesus”deixou bem claro para a Assembleia que, em sua opinião, os ataques terroristas em Israel revelavam o julgamento de Deus sobre os judeus que não tinham encontrado Cristo e o palestiniano que se sentou ao volante do tractor esmagou carros e matou pessoas era, sem dúvida, um instrumento do julgamento de Deus”.

O Pastor Ed Calnin, um dos líderes da congregação da antiga Igreja pentecostal onde Palin militou durante 20 anos como praticante, disse, há 4 anos, fazendo campanha contra John Kerry , que quem votou em Kerry não irá para o céu.

A escolha desta senhora, que pôs Bush em delírio, foi um autêntico “golpe baixo” que McCain aplicou à generalidade do povo americano.

McCain, muito provavelmente, não comungará destas ideias religiosas a este ponto fanáticas, o seu Comité, de resto, tenta disfarçar e minimizar o problema junto da opinião pública mas os bonecos humorísticos pós eleições que já circulam, apresentam Palin a roer as unhas de nervosa à espera que McCain morra…

A América retrógrada, ignorante, perigosamente religiosa, encontrou nesta senhora a personagem que precisava para atingir os seus objectivos e, no caso do Partido Republicano vir a ganhar as eleições, esta escolha terá sido o pior contributo do Sr. McCain para o seu país e para o mundo, mesmo considerando que não vai morrer em funções.

A Srª Palin, conhecida também pela Deusa da Guerra por ter sido a principal instigadora à segunda guerra-fria, parou no tempo, pelo menos há duzentos anos, pois acredita que todas as espécies foram criadas separadamente no sexto dia da Génese e ignora todos os avanços da ciência embora, paradoxalmente, tire partido deles no dia a dia da sua vida porque, como diz um cientista da nossa “praça”, ela desloca-se de avião e não num tapete voador.

Sarah Palin, como fundamentalista que é, sabe bem aquilo em que acredita e sabe, igualmente, que nada a fará mudar de ideias.

Se todas as provas do universo acabassem por contrariar o criacionismo que ela pretende, não nos esqueçamos disso, que seja ensinado nas escolas às crianças, Palin poderia ser a primeira a admiti-lo, mas continuaria a ser criacionista “porque é para aí que a Palavra de Deus parece apontar”.

O dicionário da Microsoft diz, a propósito do significado da palavra “delusão” que uma falsa crença persistente, mantida apesar da forte evidência do contrário, constitui um sintoma de distúrbio psiquiátrico”.

No caso concreto de Sarah Palin, chamamos a esse distúrbio psiquiátrico religião, com mais propriedade deveríamos chamar-lhe insanidade.

Será grave para os EUA e para o mundo, que esta mulher venha a ser Vice-presidente do país que detém a maior máquina de guerra mas, se por um capricho do destino, vier a ser Presidente então, será catastrófico.

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