As Origens da Pretensa Superioridade Biológica
Na história da Europa moderna assistimos a grandes expansões políticas e económicas: a Inglaterra e a França tiveram séculos de grandeza e glória que não estando completamente apagados estão, no entanto, drasticamente redimensionadas.
A Espanha teve também séculos de riqueza e de conquistas e noutras partes do mundo surgiram igualmente impérios que duraram períodos maiores ou menores.
No entanto, a mudança constante do poder, mostra como é difícil mantê-lo por muito tempo mas enquanto dura transmite às pessoas desses países uma sensação inebriante que facilmente a induz a considerar que a sua superioridade é objectiva e inata quando, afinal, ela não passa do resultado de uma política inteligente que beneficiou de um conjunto de circunstâncias que num determinado momento da história se conjugaram para levá-la ao sucesso.
Mas o poder e o sucesso são efémeros, como todos sabemos, e sendo assim constitui um grave erro basearmo-nos neles para reivindicar qualquer espécie de superioridade.
Não se pode pensar que nas poucas gerações necessárias para o naufrágio, mesmo das maiores civilizações, o património genético de um povo possa mudar e degradar-se por culpa de cruzamentos entre raças, como pensava Gobineau.
E isto resulta da confusão ou da ignorância relativamente a conceitos que embora coexistam no tempo são distintos uns dos outros: cultura e civilização por um lado e por outro património genético, sem que nenhum deles confira uma pretensa superioridade biológica que jamais alguém conseguiu demonstrar.
Os argumentos de Gobineau a favor da sua teoria racista são aviltantes porque sem nenhuma espécie de fundamentação pretendia demonstrar que a decadência de todas as civilizações ficou a dever-se à mistura entre as raças e que todos os progressos da humanidade foram o resultado da obra de uns quantos arianos.
Mas o que é estranho, ou talvez não seja, é que esta falsa tese racista convenceu não só a “intelligentsia” europeia como, ainda mais facilmente, os alemães que como directos beneficiários da teoria acreditaram nela com os funestos resultados que todos hoje conhecemos.
O racismo é apenas uma manifestação específica de um síndrome mais vasto que é a xenofobia: o medo ou o ódio aos estrangeiros ou, mais em geral, àqueles que são diferentes de nós.
O grupo social a que se pertence desempenha um papel muito importante na vida de um indivíduo pois é perfeitamente razoável que as pessoas, na sua maneira de agir e pensar, gostem de estar de acordo com o grupo para receber apoio dele e oferecê-lo caso seja necessário.
Isto conduz-nos a uma entidade a que chamamos “Nós”, que sou eu e o meu grupo e a um “Eles” que são os outros em oposição ao “Nós”.
Se aceitarmos esta hipótese vamos ter que reconhecer que este “Nós” tem várias dimensões a primeira das quais será a nossa família, eventualmente com a exclusão de algum membro que não mereça a nossa confiança.
Depois do “Nós” da família virá o “Nós”, companheiros do jogo, colegas da escola, colegas adeptos do mesmo clube, do mesmo trabalho, que habitam na mesma cidade, na mesma região ou no mesmo país.
Há, portanto, muitos “Nós” e alguns deles estão em oposição a outros “Nós” como é fácil de perceber da mesma forma que não atribuímos a mesma importância a todos eles.
Numa cidade onde existam dois clubes adversários é muito difícil não pertencer a um deles e participar activa e emotivamente na vida daquele que nos coube em sorte.
Este último “Nós” é vivido com tal intensidade e adquire tanta importância que bem justifica estudos no plano antropológico os quais, de resto, já foram feitos.
A autenticidade e veemência com que são vividos levam a pensar que existe uma tendência inata para “fabricarmos” estes “Nós” que, por sua vez, são uma extensão do nosso Eu e que nos ajudam formando uma espécie de cinto de protecção.
Mas esta explicação não é suficiente para perceber o racismo e existem outros elementos importantes que ajudam a determiná-lo como o preconceito que por vezes atinge níveis de verdadeira neurose.
O ciúme e a inveja também são, frequentemente, causa do racismo da mesma forma que o é a excessiva valorização da própria pessoa e do seu grupo e o desprezo pelos outros.
O racismo não é apenas uma herança dos europeus ou americanos, está por todo o lado e vem de todos os tempos.
Na República Centro Africana uma Circular do Presidente da República, o famigerado Bokassa, antes de se ter tornado um megalómano e se ter proclamado imperador, dizia:
- É preciso respeitar cada homem como indivíduo e não basear-se no grupo a que ele pertence. E repetia na língua oficial: “zo we zo”, um homem é um homem.
Esta Circular vinha do 1º Presidente, Barthelemy Boganda, homem de grande valor que morreu demasiado cedo num desastre de avião.
Nesta fase, o país estava sob o controle político de uma pequena tribo, os “ngabaka” que tinham contactos muito estreitos com os pigmeus de quem aqui já falámos pelas suas grandes qualidades morais e éticas e a quem o conteúdo desta circular se ajusta perfeitamente.
Os actos de racismo que hoje se praticam um pouco por toda a Europa já não são actos isolados de um delinquente maluco mas crimes atrozes praticados por compactos bandos de jovens que passeiam excitados pelos bairros pobres à procura de vítimas.
E esses jovens racistas não são todos filhos de pais malvados incapazes de compreender os seus problemas, muitos são simplesmente desempregados ou infelizes por outros motivos, irritados por verem pessoas “diferentes” às quais não querem reconhecer o direito de viverem no seu país, encontrarem um trabalho e levarem um vida digna.
Poderá também haver pequenos grupos políticos de extrema-direita e outros, talvez, não tão pequenos, que se aproveitam desta situação e que deitam mais achas na fogueira do racismo.
O Racismo é uma doença social em que a profilaxia deve ser praticada de forma intensiva na família e na escola logo a partir dos primeiros anos de vida mas neste momento pede-se à Comunidade Europeia uma atenção muito especial à política de imigração com o mais rigoroso controle sobre a entrada de estrangeiros que não façam parte dos contingentes definidos pelos governos de cada país, como possíveis de integrar na sociedade em condições dignas.
Temos que reconhecer com humildade que a Europa não tem condições para receber todos aqueles que aqui desejam beneficiar de condições de vida que os seus países não têm condições para lhes oferecerem e não levar isso em linha de conta é criar situações de risco para os que entram e para os que cá estão.
Por outro lado, a Europa tem que ter a coragem e o bom senso de por termo à actual Política Agrícola Comum (PAC) que é insustentável e provavelmente o maior obstáculo a uma relação de trocas comerciais de produtos agrícolas mais favorável aos países africanos e que possa constituir os estímulos certos para criar trabalho e riqueza permitindo fixar esses contingentes migratórios nos seus próprios países.
Em vez disto parece haver mais propensão para a política das ajudas e dos subsídios que ao fim de tantos anos já provaram que são ineficazes.
Apenas uma excepção: que eles se destinem directamente a matar a fome àquelas crianças que vemos na televisão e constituem a vergonha de todos nós.
A Espanha teve também séculos de riqueza e de conquistas e noutras partes do mundo surgiram igualmente impérios que duraram períodos maiores ou menores.
No entanto, a mudança constante do poder, mostra como é difícil mantê-lo por muito tempo mas enquanto dura transmite às pessoas desses países uma sensação inebriante que facilmente a induz a considerar que a sua superioridade é objectiva e inata quando, afinal, ela não passa do resultado de uma política inteligente que beneficiou de um conjunto de circunstâncias que num determinado momento da história se conjugaram para levá-la ao sucesso.
Mas o poder e o sucesso são efémeros, como todos sabemos, e sendo assim constitui um grave erro basearmo-nos neles para reivindicar qualquer espécie de superioridade.
Não se pode pensar que nas poucas gerações necessárias para o naufrágio, mesmo das maiores civilizações, o património genético de um povo possa mudar e degradar-se por culpa de cruzamentos entre raças, como pensava Gobineau.
E isto resulta da confusão ou da ignorância relativamente a conceitos que embora coexistam no tempo são distintos uns dos outros: cultura e civilização por um lado e por outro património genético, sem que nenhum deles confira uma pretensa superioridade biológica que jamais alguém conseguiu demonstrar.
Os argumentos de Gobineau a favor da sua teoria racista são aviltantes porque sem nenhuma espécie de fundamentação pretendia demonstrar que a decadência de todas as civilizações ficou a dever-se à mistura entre as raças e que todos os progressos da humanidade foram o resultado da obra de uns quantos arianos.
Mas o que é estranho, ou talvez não seja, é que esta falsa tese racista convenceu não só a “intelligentsia” europeia como, ainda mais facilmente, os alemães que como directos beneficiários da teoria acreditaram nela com os funestos resultados que todos hoje conhecemos.
O racismo é apenas uma manifestação específica de um síndrome mais vasto que é a xenofobia: o medo ou o ódio aos estrangeiros ou, mais em geral, àqueles que são diferentes de nós.
O grupo social a que se pertence desempenha um papel muito importante na vida de um indivíduo pois é perfeitamente razoável que as pessoas, na sua maneira de agir e pensar, gostem de estar de acordo com o grupo para receber apoio dele e oferecê-lo caso seja necessário.
Isto conduz-nos a uma entidade a que chamamos “Nós”, que sou eu e o meu grupo e a um “Eles” que são os outros em oposição ao “Nós”.
Se aceitarmos esta hipótese vamos ter que reconhecer que este “Nós” tem várias dimensões a primeira das quais será a nossa família, eventualmente com a exclusão de algum membro que não mereça a nossa confiança.
Depois do “Nós” da família virá o “Nós”, companheiros do jogo, colegas da escola, colegas adeptos do mesmo clube, do mesmo trabalho, que habitam na mesma cidade, na mesma região ou no mesmo país.
Há, portanto, muitos “Nós” e alguns deles estão em oposição a outros “Nós” como é fácil de perceber da mesma forma que não atribuímos a mesma importância a todos eles.
Numa cidade onde existam dois clubes adversários é muito difícil não pertencer a um deles e participar activa e emotivamente na vida daquele que nos coube em sorte.
Este último “Nós” é vivido com tal intensidade e adquire tanta importância que bem justifica estudos no plano antropológico os quais, de resto, já foram feitos.
A autenticidade e veemência com que são vividos levam a pensar que existe uma tendência inata para “fabricarmos” estes “Nós” que, por sua vez, são uma extensão do nosso Eu e que nos ajudam formando uma espécie de cinto de protecção.
Mas esta explicação não é suficiente para perceber o racismo e existem outros elementos importantes que ajudam a determiná-lo como o preconceito que por vezes atinge níveis de verdadeira neurose.
O ciúme e a inveja também são, frequentemente, causa do racismo da mesma forma que o é a excessiva valorização da própria pessoa e do seu grupo e o desprezo pelos outros.
O racismo não é apenas uma herança dos europeus ou americanos, está por todo o lado e vem de todos os tempos.
Na República Centro Africana uma Circular do Presidente da República, o famigerado Bokassa, antes de se ter tornado um megalómano e se ter proclamado imperador, dizia:
- É preciso respeitar cada homem como indivíduo e não basear-se no grupo a que ele pertence. E repetia na língua oficial: “zo we zo”, um homem é um homem.
Esta Circular vinha do 1º Presidente, Barthelemy Boganda, homem de grande valor que morreu demasiado cedo num desastre de avião.
Nesta fase, o país estava sob o controle político de uma pequena tribo, os “ngabaka” que tinham contactos muito estreitos com os pigmeus de quem aqui já falámos pelas suas grandes qualidades morais e éticas e a quem o conteúdo desta circular se ajusta perfeitamente.
Os actos de racismo que hoje se praticam um pouco por toda a Europa já não são actos isolados de um delinquente maluco mas crimes atrozes praticados por compactos bandos de jovens que passeiam excitados pelos bairros pobres à procura de vítimas.
E esses jovens racistas não são todos filhos de pais malvados incapazes de compreender os seus problemas, muitos são simplesmente desempregados ou infelizes por outros motivos, irritados por verem pessoas “diferentes” às quais não querem reconhecer o direito de viverem no seu país, encontrarem um trabalho e levarem um vida digna.
Poderá também haver pequenos grupos políticos de extrema-direita e outros, talvez, não tão pequenos, que se aproveitam desta situação e que deitam mais achas na fogueira do racismo.
O Racismo é uma doença social em que a profilaxia deve ser praticada de forma intensiva na família e na escola logo a partir dos primeiros anos de vida mas neste momento pede-se à Comunidade Europeia uma atenção muito especial à política de imigração com o mais rigoroso controle sobre a entrada de estrangeiros que não façam parte dos contingentes definidos pelos governos de cada país, como possíveis de integrar na sociedade em condições dignas.
Temos que reconhecer com humildade que a Europa não tem condições para receber todos aqueles que aqui desejam beneficiar de condições de vida que os seus países não têm condições para lhes oferecerem e não levar isso em linha de conta é criar situações de risco para os que entram e para os que cá estão.
Por outro lado, a Europa tem que ter a coragem e o bom senso de por termo à actual Política Agrícola Comum (PAC) que é insustentável e provavelmente o maior obstáculo a uma relação de trocas comerciais de produtos agrícolas mais favorável aos países africanos e que possa constituir os estímulos certos para criar trabalho e riqueza permitindo fixar esses contingentes migratórios nos seus próprios países.
Em vez disto parece haver mais propensão para a política das ajudas e dos subsídios que ao fim de tantos anos já provaram que são ineficazes.
Apenas uma excepção: que eles se destinem directamente a matar a fome àquelas crianças que vemos na televisão e constituem a vergonha de todos nós.
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