sábado, setembro 27, 2008



Porque Existem as Pessoas?



É com esta pergunta que Richard Dawkiins inicia o seu livro “O Gene Egoísta” cujo argumento é de que nós, e todos os restantes animais, somos máquinas criadas pelos nossos genes sendo que, cada gene, constitui a unidade fundamental da hereditariedade.

Os milhares de gerações que nos precederam deixaram como herança o resultado das suas acções e a sua constituição biológica, às quais devemos a nossa própria existência.

Em cada novo dia que se abre para o mundo, tudo depende de quem está vivo e do exemplo que transmitirá a quem nasce.

A nossa história está escrita nos nossos genes e nas nossas acções. Sobre os primeiros a nossa capacidade de intervenção é escassa, sobre as segundas é quase total, se formos pessoas livres.

Nunca como neste momento da vida da humanidade tivemos os meios para fazer da Terra um jardim ou um deserto, para tornar a nossa vida agradável ou infernal e fazer a história hoje é fazer esta escolha.

É bom recordar que aquilo que nos torna semelhantes é preponderante comparativamente com o que nos torna dissemelhantes.

A variedade com que nos apresentamos em relação à cor da pele, forma do corpo, linguagem e cultura tem apenas a ver com a capacidade de enfrentarmos a mudança e de nos adaptarmos a ambientes diferentes e desenvolvermos estilos de vida originais que têm sido a melhor garantia para o futuro da nossa espécie.

A vida inteligente de um planeta atinge a maioridade quando, pela primeira vez, compreende a razão da sua própria existência.

Se criaturas vindas do espaço algum dia visitarem a Terra, a primeira pergunta que farão, para se aperceberem do nível da nossa civilização, será: “Eles já descobriram a evolução?”.

Os seres vivos existiram na Terra sem saberem porquê durante mais de 3 biliões de anos, antes da verdade ocorrer a um deles.

O seu nome foi Charles Darwin, embora outros, antes dele, também tenham suspeitado da verdade; mas foi Darwin quem, pela primeira vez, construiu uma explicação coerente e defensável da razão da nossa existência.

Devemos a Darwin podermos dar hoje uma resposta sensata à criança que, pela sua natural curiosidade, nos formule a pergunta com que R. Dawkins inicia o seu livro.

Já não temos que recorrer à superstição quando confrontados com os problemas de fundo: Há um sentido para a vida? Para que existimos? O que é o Homem?

A teoria da evolução está hoje tão sujeita à dúvida quanto a teoria de que a Terra gira à volta do Sol e as suas implicações ainda estão para serem completamente compreendidas embora ela toque todos os aspectos da nossa vivência social como: o amar e o odiar, o lutar e o cooperar, o doar e o roubar, a nossa ganância e a nossa generosidade.

Muitos autores interpretaram a evolução como se ela se processasse a favor da espécie, ou do grupo quando, na verdade, ela procura servir o indivíduo ou o gene. É com este objectivo que a evolução opera.

Tal como os gangsters de Chicago, os nossos genes sobreviveram, em alguns casos, durante milhões de anos, num mundo altamente competitivo e por isso, é natural esperar deles certas qualidades e uma dessas qualidades, apontada por R. Dawkins, é a do seu egoísmo implacável o qual, geralmente, originará um comportamento individual egoísta embora, em circunstâncias especiais, um gene possa atingir melhor os seus próprios fins egoístas manifestando-se, ao nível do comportamento individual, por um acto de altruísmo.

Por exemplo, a picada das abelhas obreiras é um comportamento defensivo muito eficiente contra os ladrões do mel, mas as abelhas que picam são lutadoras kamikaze porque no acto da picada os órgãos internos vitais da abelha são arrancados do corpo e ela morre pouco tempo depois.

A sua missão suicida poderá ter salvo a reserva de comida da colónia mas ela já não estará presente para colher os benefícios e, deste ponto de vista, e pelos nossos conceitos, este acto é um comportamento altruísta.

Mas, por muito que gostássemos de acreditar no contrário, o amor universal e o bem-estar da espécie como um todo são conceitos que, infelizmente, não têm sentido do ponto de vista evolutivo.

Se desejarmos construir, e essa deverá ser sempre a nossa preocupação, uma sociedade na qual os indivíduos cooperem generosa e desinteressadamente para o bem-estar comum, não poderemos contar com a ajuda da natureza biológica.

Tentamos ensinar generosidade e altruísmo exactamente porque nascemos egoístas e por isso, há que compreender o que pretendem os nossos genes egoístas para tentar frustrar-lhes as suas intenções.

Convém, no entanto, esclarecer que as características herdadas geneticamente não são, por definição, fixas e inalteráveis.

Por outras palavras, os nossos genes podem programar-nos para sermos egoístas mas nós não somos obrigados a obedecer-lhes durante toda a vida, simplesmente, essa desobediência, ser-nos-á mais difícil do que se estivéssemos programados geneticamente para sermos altruístas.

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