sábado, outubro 11, 2008


A Crise…





Como se dizia, na aldeia dos meus avós, desta vez é que temos mesmo o “baile armado” e com uma tão grande “pista de dança” todos iremos “entrar na roda”.

Claro que aqueles que mais tinham irão, obviamente, perder mais que os restantes mas em termos de qualidade de vida deverá ainda sobrar o suficiente para poderem aguardar calmamente o regresso à normalidade que já não voltará a ser precisamente como a anterior.

Todas as análises e comentários que têm sido feitos sobre a situação actual deram já para compreendermos o que aconteceu, não obstante alguma complexidade de pormenor só acessível aos “experts” das finanças.

Alguns mesmo, oportunistamente, “atiraram-se” ao sistema de economia de mercado e ao capitalismo como se todos tivéssemos esquecido os resultados a que chegaram as experiências das economias estatizadas em que os Estados eram donos e senhores de tudo quanto produzia riqueza e os cidadãos não passavam de funcionários ou empregados de uma elite de senhores com poderes absolutos sobre tudo e todos.

É que, na realidade, não existem terceiras soluções e quaisquer “nuances”, por importantes que sejam, na regulação dos sistemas de mercado e financeiros, eles não devem ser postos em causa por uma razão muito simples:

- É que, apesar de todos os defeitos e riscos que encerram, são eles que se mostram compatíveis com as características idiossincráticas dos homens, fundamentalmente no que se refere à importância da liberdade, ao respeito pelos seus direitos e à livre iniciativa que permite a sua realização nos vários domínios da actividade humana.

Mas, como diz o ditado, “não há bela sem senão” e a liberdade tem destas coisas:

- Alguns senhores, com poderes de decisão em grandes Bancos americanos, toldados pela ambição desmedida e despidos de sentido de responsabilidade, escrúpulos e completa ausência de ética, aproveitando-se de oportunidades que nunca lhes deviam ter sido concedidas, embarcaram numa espiral de aventuras e engenharias financeiras que alastraram por todo o mundo com os resultados que agora estão à vista.

Ao que dizem, parece que eram jovens, provavelmente os mais bem classificados dos seus cursos, que foram atirados para esses lugares por outros senhores, esses não tão jovens mas sedentos de ambição, que esta não escolhe idades, com instruções para se comportarem como pitbulles dos accionistas e de chorudos prémios para eles.

Enfim, terá sido uma história triste que envergonha a democracia e que, mais uma vez, vem comprovar que um Estado democrata não pode abdicar, esquecer ou negligenciar a sua principal responsabilidade:

- Estar vigilante e defender os interesses e os direitos dos cidadãos em todos os domínios, porque os meus direitos terminam onde começam os direitos do meu vizinho e àqueles senhores foi-lhes permitido que infringissem este princípio e, com todas as probabilidades, impunemente.

O desenlace desta história triste é que a sua dimensão é tão grande, a corda foi esticada a tais limites, que todo o sistema de crédito bancário está ferido e a confiança perdida.

Aqueles que deviam ter desconfiado antes, e tinham boas razões para isso, não o fizeram, inebriados que estavam pelo dinheiro que entrava a rodos, agora suspeitam e desconfiam todos uns dos outros…e os cidadãos, os depositantes, já fizerem aumentar as vendas dos cofres para guardarem em casa o seu dinheiro por mais irracional que isso seja.

Se os governos dos Estados não conseguirem dotar os bancos de liquidez, se o crédito não fluir para as empresas, se a confiança não for minimamente restabelecida, o motor da economia como que deixa de ser lubrificado, e isso equivale a dificuldades nas empresas que, em alguns casos, passa pelo seu encerramento com despedimentos, desemprego e um profundo e perigoso mau estar na sociedade.

É inevitável, todos vão perder, mesmo aqueles que já nada tinham e vivem no limiar da subsistência podem agora morrer porque os países dadores de meios financeiros que ainda lhes vão permitindo sobreviver, podem cortar essas verbas por dificuldades resultantes da crise, e isto mesmo foi referido há poucos dias por António Guterres, Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados.

Não sei, neste caso, se a globalização vai ajudar, diluindo a crise, ou pelo contrário, dificultar a recuperação pela generalização do mal.

De todos quantos se pronunciaram, e parece que já não falta ninguém, nenhum avançou ainda com previsões para o futuro desta crise, exceptuando o apelo generalizado à confiança que é necessário restabelecer como condição essencial para se sair dela mas, infelizmente, a confiança mostra um comportamento idêntico ao dos cavalos selvagens que não se deixam domar.

Tudo aquilo que cai no foro íntimo das pessoas revela-se de controlo muito difícil. Neste caso, o instinto de defesa dá lugar ao medo e este dificulta a capacidade de raciocinar friamente sobre as situações.

O resultado, são reacções e comportamentos exactamente contrários aos seus interesses, como se o cérebro bloqueasse e voltássemos milhões de anos atrás, aos animais que já fomos, lançados em pânico na direcção do precipício.

Esperemos que isso não venha a acontecer, esperemos que não tenhamos de pagar um preço tão alto pelas “brincadeiras criminosas” de “meninos muito espertos” que resolveram brincar com o dinheiro que não era deles e, acima de tudo, aproveite-se esta oportunidade como uma grande lição para o futuro.

Gerir Bancos e o Sistema Financeiro é uma actividade sujeita a grandes tentações e por isso os mecanismos de vigilância têm que ser completos e actuantes, nada pode ser descurado.

Se não for desta vez que se aprenda, se este calafrio de resultados ainda em suspenso não chegar, então teremos que concluir que a vida em sociedade, no estádio a que se chegou, tornou-se numa actividade alto risco.

Site Meter