Miguel Sousa Tavares
Miguel Sousa Tavares é escritor e um homem da comunicação social escrita, falada e televisionada mas é, para além de tudo isso, uma pessoa de fortes convicções que defende com ardor e coerência causas que têm a ver com valores que nos são queridos, como a defesa da natureza, dos espaços públicos nas cidades, a justiça, a defesa das pessoas anónimas contra os detentores da riqueza fraudulenta e do poder opaco dos políticos exercido de forma suspeita quanto aos beneficiários das suas decisões.
Por tudo isto, Miguel Sousa Tavares é uma pessoa da minha simpatia como já o era o seu pai, incorrigível defensor da liberdade, na primeira linha do 25 de Abril, rebelde a um certo tipo de autoridade e de disciplina que chegou ao extremo de desafiar um oficial do exército, seu superior, para um duelo à espada para dirimir um desacordo que na sua opinião constituía motivo suficiente para ser resolvido pelo sangue.
Da mãe, Sophia de Mello Breyner, o seu valor como uma das maiores poetisas portuguesas do século XX, dispensa qualquer referência e portanto, Miguel S. Tavares, herdou qualidades genéticas de grande potencial as quais, na minha opinião, não tem desiludido.
É evidente que há nele um “toque” de “alta sociedade” que tem a ver com as suas origens de menino privilegiado mas isso é inevitável, como diz o povo, “o que o berço o dá só a tumba o leva” e ninguém pode ser responsabilizado pelas suas origens sejam elas quais forem…importante é o que vem depois.
Talvez por isto, Miguel S. Tavares gostaria de um Alentejo onde as lebres e as perdizes pudessem correr e voar livremente e uma costa vicentina onde a paisagem continuasse virgem apenas modificada pelos inevitáveis factores da erosão natural.
Sinceramente, eu também gostava muito desse Alentejo, especialmente se, por artes mágicas, pudessem lá repor os alentejanos e as alentejanas de há sessenta anos atrás para emprestarem àqueles campos uma nota de vida e de cor.
Mas não devemos ser egoístas, os quadros sociais não devem ser vistos na óptica daquilo que agrada à nossa vista e à nossa sensibilidade, e eu não deveria gostar de um Alentejo que conheci em 1961, quando assentei praça no Regimento de Infantaria 16, em Évora, como Aspirante a Oficial Miliciano, para dar uma recruta antes de partir para a guerra de Angola.
Nomeado para alguns “Processos de Amparo” requeridos por soldados que pretendiam a dispensa da vida militar por serem os únicos suportes de vida das mães, fui obrigado a perceber as condições reais em que aquelas pessoas viviam nas regiões do grande latifúndio rural.
Não tinham nada de seu: um quintal, uma horta, apenas os braços para trabalhar quando o latifundiário precisava deles e fora desses períodos passavam fome e comiam as bolotas das azinheiras e dos sobreiros caídas no chão dos senhores da terra.
Pois é, nestas coisas, há sempre duas realidades que por vezes se chocam: a da natureza e a das pessoas, ornamentada esta, no caso do Alentejo, com os belos cantos alentejanos e os seus trajes tradicionais com os indispensáveis cajados, chapéus na cabeça e os lenços do pescoço.
A grande planície alentejana por onde o olhar se espraiava conferiu aos seus habitantes uma personalidade própria, desenvolveu-lhes um sentido comunitário bem evidente nos seus grupos de cantores e fez deles, em resultado das suas condições de vida, os únicos trabalhadores do campo em Portugal com um sentido apurado de classe operária.
Bem, mas voltemos a Miguel S. Tavares, agora envolvido na liderança de mais uma luta, desta vez contra o alargamento do cais de Alcântara para movimentar mais contentores que, acamados uns em cima dos outros atingirão, segundo ele, 15 metros de altura, 10 na versão dos responsáveis do porto, de qualquer forma os suficientes para privarem os cidadãos, especialmente os lisboetas, de usufruírem à vontade da beleza que é todo o estuário do rio Tejo do Mar da Palha até ao Farol do Bugio.
Mais uma vez compreendo Miguel S. Tavares e a minha vontade seria juntar-me a ele nesta luta, tanto mais que nasci em Lisboa, exactamente na continuação para leste daquela linha de costa, lá para os lados do Poço do Bispo, e durante os meus primeiros 12 anos de vida, no percurso quase diário do Poço do Bispo até ao Terreiro do Paço, só me lembro de ver porto e actividade portuária.
Não sei, neste momento, depois de ter olhado com mais atenção para os desenhos e fotografias do local, das explicações dadas pelos responsáveis do porto e pela reacção de centenas de pessoas que ali trabalham, se a razão lhe assiste na totalidade, mas o facto de ter obrigado a empresa e os responsáveis do porto a virem a público, pela 1º vez, explicarem-se melhor sobre o que vão fazer constitui, para já, uma boa vitória porque existem ali muitos aspectos, que não são simples pormenores, que devem ser bem esclarecidos.
Onde estou completamente de acordo sem qualquer espécie de reticências com MST é sobre a apreciação que ele faz hoje no Expresso sobre a actual crise, num artigo sob o título “O Fim de Um Mundo Falso”.
Num texto que aqui coloquei no dia 11 do passado mês e que denominei “O Âmago da Crise” procurei relacionar e explicar a actuação dos mais directamente responsáveis pela actual crise que começou por ser financeira e que, inevitavelmente, já está na economia, com a natureza dos nossos genes, os quais, de acordo com a teoria de Richard Dawkins, são egoístas, transcrevendo mesmo, a este propósito, uma passagem do seu livro.
É simples coincidência mas também eu, como agora MST, me socorri da pessoa de Greenspan, o “mago” da Reserva Federal na sua declaração perante o Senado dos EUA, que fez um “mea culpa” com uma tal sinceridade que me pareceu patética, aquilo que MST chamou de “declaração impressionante”.
Não há ética, moral ou escrúpulos que resistam à ganância por mais dinheiro, cada vez mais dinheiro, e se pensamentos houver, o que duvido, quanto às consequências para terceiros, eles serão de tal forma tímidos e envergonhados que não chegarão, sequer, a expressarem-se.
“Entregue a si mesmo, aos seus instintos mais primários, o homem é um animal perigoso, quer ande pela rua a deambular de revólver na mão ou sentado numa secretária a gerir o destino de milhares de famílias” escreve MST.
Pela minha parte repito o que escrevi no meu texto “ O Âmago da Crise”:
- “O Homem é, intrinsecamente, egoísta e desonesto, que é uma forma de ser egoísta e, portanto, não se espere dele aquilo que não está na sua natureza. Por isso, em sociedade, o homem tem de se defender de si próprio”.
Acrescento agora, perante a dimensão da crise que não sabemos ainda onde nos vai levar, que haja a coragem suficiente para que, à escala mundial, se adoptem as medidas certas porque o diagnóstico está feito, sem nunca esquecermos, mais uma vez, que o homem é animal perigoso a exigir uma dissuasora “rédea curta” que nada tem a ver com a liberdade mas antes com a responsabilidade.
Por tudo isto, Miguel Sousa Tavares é uma pessoa da minha simpatia como já o era o seu pai, incorrigível defensor da liberdade, na primeira linha do 25 de Abril, rebelde a um certo tipo de autoridade e de disciplina que chegou ao extremo de desafiar um oficial do exército, seu superior, para um duelo à espada para dirimir um desacordo que na sua opinião constituía motivo suficiente para ser resolvido pelo sangue.
Da mãe, Sophia de Mello Breyner, o seu valor como uma das maiores poetisas portuguesas do século XX, dispensa qualquer referência e portanto, Miguel S. Tavares, herdou qualidades genéticas de grande potencial as quais, na minha opinião, não tem desiludido.
É evidente que há nele um “toque” de “alta sociedade” que tem a ver com as suas origens de menino privilegiado mas isso é inevitável, como diz o povo, “o que o berço o dá só a tumba o leva” e ninguém pode ser responsabilizado pelas suas origens sejam elas quais forem…importante é o que vem depois.
Talvez por isto, Miguel S. Tavares gostaria de um Alentejo onde as lebres e as perdizes pudessem correr e voar livremente e uma costa vicentina onde a paisagem continuasse virgem apenas modificada pelos inevitáveis factores da erosão natural.
Sinceramente, eu também gostava muito desse Alentejo, especialmente se, por artes mágicas, pudessem lá repor os alentejanos e as alentejanas de há sessenta anos atrás para emprestarem àqueles campos uma nota de vida e de cor.
Mas não devemos ser egoístas, os quadros sociais não devem ser vistos na óptica daquilo que agrada à nossa vista e à nossa sensibilidade, e eu não deveria gostar de um Alentejo que conheci em 1961, quando assentei praça no Regimento de Infantaria 16, em Évora, como Aspirante a Oficial Miliciano, para dar uma recruta antes de partir para a guerra de Angola.
Nomeado para alguns “Processos de Amparo” requeridos por soldados que pretendiam a dispensa da vida militar por serem os únicos suportes de vida das mães, fui obrigado a perceber as condições reais em que aquelas pessoas viviam nas regiões do grande latifúndio rural.
Não tinham nada de seu: um quintal, uma horta, apenas os braços para trabalhar quando o latifundiário precisava deles e fora desses períodos passavam fome e comiam as bolotas das azinheiras e dos sobreiros caídas no chão dos senhores da terra.
Pois é, nestas coisas, há sempre duas realidades que por vezes se chocam: a da natureza e a das pessoas, ornamentada esta, no caso do Alentejo, com os belos cantos alentejanos e os seus trajes tradicionais com os indispensáveis cajados, chapéus na cabeça e os lenços do pescoço.
A grande planície alentejana por onde o olhar se espraiava conferiu aos seus habitantes uma personalidade própria, desenvolveu-lhes um sentido comunitário bem evidente nos seus grupos de cantores e fez deles, em resultado das suas condições de vida, os únicos trabalhadores do campo em Portugal com um sentido apurado de classe operária.
Bem, mas voltemos a Miguel S. Tavares, agora envolvido na liderança de mais uma luta, desta vez contra o alargamento do cais de Alcântara para movimentar mais contentores que, acamados uns em cima dos outros atingirão, segundo ele, 15 metros de altura, 10 na versão dos responsáveis do porto, de qualquer forma os suficientes para privarem os cidadãos, especialmente os lisboetas, de usufruírem à vontade da beleza que é todo o estuário do rio Tejo do Mar da Palha até ao Farol do Bugio.
Mais uma vez compreendo Miguel S. Tavares e a minha vontade seria juntar-me a ele nesta luta, tanto mais que nasci em Lisboa, exactamente na continuação para leste daquela linha de costa, lá para os lados do Poço do Bispo, e durante os meus primeiros 12 anos de vida, no percurso quase diário do Poço do Bispo até ao Terreiro do Paço, só me lembro de ver porto e actividade portuária.
Não sei, neste momento, depois de ter olhado com mais atenção para os desenhos e fotografias do local, das explicações dadas pelos responsáveis do porto e pela reacção de centenas de pessoas que ali trabalham, se a razão lhe assiste na totalidade, mas o facto de ter obrigado a empresa e os responsáveis do porto a virem a público, pela 1º vez, explicarem-se melhor sobre o que vão fazer constitui, para já, uma boa vitória porque existem ali muitos aspectos, que não são simples pormenores, que devem ser bem esclarecidos.
Onde estou completamente de acordo sem qualquer espécie de reticências com MST é sobre a apreciação que ele faz hoje no Expresso sobre a actual crise, num artigo sob o título “O Fim de Um Mundo Falso”.
Num texto que aqui coloquei no dia 11 do passado mês e que denominei “O Âmago da Crise” procurei relacionar e explicar a actuação dos mais directamente responsáveis pela actual crise que começou por ser financeira e que, inevitavelmente, já está na economia, com a natureza dos nossos genes, os quais, de acordo com a teoria de Richard Dawkins, são egoístas, transcrevendo mesmo, a este propósito, uma passagem do seu livro.
É simples coincidência mas também eu, como agora MST, me socorri da pessoa de Greenspan, o “mago” da Reserva Federal na sua declaração perante o Senado dos EUA, que fez um “mea culpa” com uma tal sinceridade que me pareceu patética, aquilo que MST chamou de “declaração impressionante”.
Não há ética, moral ou escrúpulos que resistam à ganância por mais dinheiro, cada vez mais dinheiro, e se pensamentos houver, o que duvido, quanto às consequências para terceiros, eles serão de tal forma tímidos e envergonhados que não chegarão, sequer, a expressarem-se.
“Entregue a si mesmo, aos seus instintos mais primários, o homem é um animal perigoso, quer ande pela rua a deambular de revólver na mão ou sentado numa secretária a gerir o destino de milhares de famílias” escreve MST.
Pela minha parte repito o que escrevi no meu texto “ O Âmago da Crise”:
- “O Homem é, intrinsecamente, egoísta e desonesto, que é uma forma de ser egoísta e, portanto, não se espere dele aquilo que não está na sua natureza. Por isso, em sociedade, o homem tem de se defender de si próprio”.
Acrescento agora, perante a dimensão da crise que não sabemos ainda onde nos vai levar, que haja a coragem suficiente para que, à escala mundial, se adoptem as medidas certas porque o diagnóstico está feito, sem nunca esquecermos, mais uma vez, que o homem é animal perigoso a exigir uma dissuasora “rédea curta” que nada tem a ver com a liberdade mas antes com a responsabilidade.
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