domingo, dezembro 28, 2008



A MEMÓRIA








Falo da Memória a propósito de um texto sobre este tema que a Revista do National Geographic, do mês de Outubro, apresentou com a intrigante pergunta colocada logo na capa:

- PORQUE LEMBRAMOS, PORQUE ESQUECEMOS

Com o objectivo de nada esquecer o investigador Gordon Bell desenvolveu o projecto MylifeBites, uma gigantesca memória informática onde armazena todos os momentos da sua vida para se poupar ao esforço de recordá-los.

Comigo aconteceu procurar uma médica da especialidade no Hospital de Santarém que no fim me confidenciou que eu não constituía motivo de preocupação…e eu fiquei arrependido por lhe ter feito perder tempo mas, o que é facto, é que nos habituamos mais facilmente à perda progressiva da visão que vamos compensando aumentando as dioptrias das lentes dos óculos do que às falhas de memória.

Os meus amigos que se encontram na minha faixa etária e que não têm problemas de saúde de que se queixarem todos se referem o mesmo mal: falhas de memória mais ou menos acentuadas.

Uma auxiliar administrativa californiana de 42 anos recorda-se de cada dia da sua vida desde os 11 anos; o técnico de Laboratório, reformado, de 85 anos apenas se lembra do seu pensamento mais recente.

Há pessoas com uma memória inesgotável: um jornalista russo era capaz de recordar longas sequências de palavras, números e sílabas soltas impossíveis de memorizar por outros, vários anos depois de as ter ouvido pela primeira vez.

Afinal, o que é a memória?

- De momento, a melhor definição fornecida pelos neurocientistas é a seguinte: “A memória é um padrão de ligações entre os neurónios armazenado no cérebro. Existem cem mil milhões destes neurónios, cada qual capaz de gerar possivelmente 5 a 10.000 ligações sinápticas com outros neurónios, o que dá um total de cerca de 500 a 1.000 biliões de sinapses no cérebro de um adulto médio.

Se quisermos uma comparação, existem apenas 32 biliões de bytes (unidade que mede a capacidade de armazenamento ou de memória de um computador) de informação na totalidade da colecção de obras impressas da Biblioteca do Congresso dos EUA.

Cada sensação que recordamos, cada pensamento que nos ocorre, altera as ligações existentes no interior dessa vasta rede. As sinapses reforçam-se, enfraquecem ou formam-se de novo. A nossa substância física altera-se. Aliás, está sempre a alterar-se, a cada momento, mesmo quando dormimos.”

O Sr. EP perdeu a memória o que na prática significa que perdeu a noção da actualidade, esquece-se de que está sempre a esquecer-se.

Num dia normal, EP levanta-se de manhã, toma pequeno-almoço e regressa à cama para ouvir rádio, mas quando volta para a cama nem sempre sabe se acabou de tomar o pequeno almoço ou de acordar.

Muitas vezes toma de novo o pequeno-almoço e regressa à cama para ouvir mais rádio. Há manhãs em que toma três vezes o pequeno almoço.

Não possui um fluxo contínuo de consciência, apenas gotículas que se evaporam de imediato.

O Sr. EP está preso no limbo de um eterno presente, entre um passado do qual não se lembra e um futuro que não consegue prever, leva uma vida sedentária, plenamente liberto de preocupações.

“Está sempre feliz. Muito feliz. Acho que isso se deve a não existir qualquer stress na sua vida” afirma a filha, Carol.

Que idade tem agora? Pergunta-lhe Larry Squire:

- “Deixe-me pensar…59 ou 60. Apanhou-me, a minha memória não é muito perfeita”… para ele foi apenas uma falha de memória casual… esquece-se que está sempre a esquecer-se.

Já não vou queixar-me mais quando não me lembrar onde larguei os óculos… vou ter mais atenção, vou estar mais atento quando os largar da mão.

Site Meter