A Volúpia da Morte
Estranhos tempos, estes, em que vivemos.
Jovens possuídos de uma serena determinação, matam com um sorriso de felicidade nos lábios pessoas inocentes, estranhas a qualquer conflito, cujo único crime foi estarem ali, naquele local e momento.
Como é isto possível? Como se transformam jovens que nasceram normais, crianças iguais a tantas outras, que amaram pais mães e restante família, que brincaram como todas as crianças brincam, que choraram e riram por razões em tudo idênticas àquelas que também a nós nos fizeram rir e chorar, em autenticas “máquinas” de matar?
Quem são os mentores que conseguiram transformar jovens em monstros?
Como actuam, onde actuam, às ordens de quem e com que objectivos?
O único sobrevivente do grupo de jovens que na cidade de Bombaim, através de uma autentica acção de carácter militar, provocou 172 mortos e 282 feridos, confessou ter sido treinado pelo grupo radical islâmico Lashkar-e-Taiba (LeT), que em urdu significa Exército de Deus, que foi ilegalizado após os atentados do 11 de Setembro.
Mais uma vez o problema foi formulado com perspicácia e frontalidade por Sam Harris ao referir o exemplo do líder da Al-Qaida, Osama bin Laden.
Por que razão haverá alguém de querer destruir as Torres do World Trade Center e todas as pessoas que lá estão dentro, as que viajam no metro de Londres e de Madrid e as que se encontravam nos Hotéis e em outros locais da cidade de Bombaim?
Só a força da fé religiosa é capaz de motivar loucuras extremas em pessoas que em tudo o mais dão mostras de sanidade e compostura.
Chamar de “mau” a um homem como Bin Laden é fugir à nossa responsabilidade de dar uma resposta adequada a tão importante pergunta.
A resposta a esta questão é óbvia – quanto mais não seja porque foi pacientemente repetida “ad nauseam” pelo próprio Bin Laden.
Homens como ele acreditam efectivamente naquilo em que dizem que acreditam. Acreditam na verdade literal do Corão.
Por que motivo jovens instruídos, pertencentes à classe média, trocam as suas vidas neste mundo pelo privilégio de matar milhares dos nossos semelhantes?
- Por que acreditavam que iriam direitos ao paraíso se o fizessem.
É raro encontrar comportamentos humanos explicados de forma tão completa e satisfatória.
Por que temos nós demonstrado tanta relutância em aceitar esta explicação?
O jornalista Muril Gray, no Herald (de Glasgow) a 24 de Julho de 2005, a propósito das bombas de Londres, propunha idêntica conclusão:
“Culpa-se toda a gente desde o óbvio duo de vilões, Geoge Bush / Tony Blair, até à inacção das “comunidades muçulmanas”. Mas nunca terá sido tão claro que existe apenas um culpado e que sempre assim foi e continuará a ser.
A causa de toda esta desgraça, do caos, da violência, do terror e da ignorância é, evidentemente, a própria religião; e, embora pareça ridículo ter de afirmar uma verdade tão óbvia, o facto é que o governo e os media se esforçam ao máximo para fingir que assim não é.”
Os nossos políticos ocidentais evitam mencionar a palavra religião. Preferem chamar à batalha que vêm travando de guerra contra o “terrorismo” como se este fosse uma espécie de força ou espírito dotado de vontade e mente próprias.
Ou então caracterizam os terroristas dizendo que eles são motivados por “puro mal”.
Mas não é o mal que lhes dá a motivação. Por muito transviados que possamos pensar que eles andam, aquilo que os motiva, tal como aos cristãos que assassinam os médicos das clínicas abortistas, é o que julgam ser rectidão, seguindo fielmente aquilo que a religião lhes diz.
Não se trata de mentes afectadas por doenças psiquiátricas, são idealistas religiosos, que de acordo com o seu ponto de vista, são racionais.
Consideram bons os actos que praticam, não devido a uma qualquer idiossincrasia pessoal distorcida ou porque estejam possuídos por Satanás, mas porque desde o berço foram educados a ter uma fé total e inquestionante.
Sam Harris cita um bombista-suicida que falhou os seus intentos e que afirmou que aquilo que o levava a matar israelitas foi “o amor pelo martírio…não queria vingar-me de nada, só queria ser mártir”.
A revista New Yorker publicou uma entrevista realizada por Nasra a outro bombista suicida capturado, um jovem palestiniano de 27 anos, educado, conhecido por “S”.
Esta entrevista é tão poeticamente eloquente quanto aos atractivos do paraíso, tal como este é pregado por professores e líderes religiosos moderados, que vale a pena transcrever para se perceber melhor este magno problema:
“…Qual é o motivo da atracção do martírio? – perguntei.
- O poder do espírito puxa-nos para cima, enquanto o poder das coisas puxa-nos para baixo – respondeu. –
Jovens possuídos de uma serena determinação, matam com um sorriso de felicidade nos lábios pessoas inocentes, estranhas a qualquer conflito, cujo único crime foi estarem ali, naquele local e momento.
Como é isto possível? Como se transformam jovens que nasceram normais, crianças iguais a tantas outras, que amaram pais mães e restante família, que brincaram como todas as crianças brincam, que choraram e riram por razões em tudo idênticas àquelas que também a nós nos fizeram rir e chorar, em autenticas “máquinas” de matar?
Quem são os mentores que conseguiram transformar jovens em monstros?
Como actuam, onde actuam, às ordens de quem e com que objectivos?
O único sobrevivente do grupo de jovens que na cidade de Bombaim, através de uma autentica acção de carácter militar, provocou 172 mortos e 282 feridos, confessou ter sido treinado pelo grupo radical islâmico Lashkar-e-Taiba (LeT), que em urdu significa Exército de Deus, que foi ilegalizado após os atentados do 11 de Setembro.
Mais uma vez o problema foi formulado com perspicácia e frontalidade por Sam Harris ao referir o exemplo do líder da Al-Qaida, Osama bin Laden.
Por que razão haverá alguém de querer destruir as Torres do World Trade Center e todas as pessoas que lá estão dentro, as que viajam no metro de Londres e de Madrid e as que se encontravam nos Hotéis e em outros locais da cidade de Bombaim?
Só a força da fé religiosa é capaz de motivar loucuras extremas em pessoas que em tudo o mais dão mostras de sanidade e compostura.
Chamar de “mau” a um homem como Bin Laden é fugir à nossa responsabilidade de dar uma resposta adequada a tão importante pergunta.
A resposta a esta questão é óbvia – quanto mais não seja porque foi pacientemente repetida “ad nauseam” pelo próprio Bin Laden.
Homens como ele acreditam efectivamente naquilo em que dizem que acreditam. Acreditam na verdade literal do Corão.
Por que motivo jovens instruídos, pertencentes à classe média, trocam as suas vidas neste mundo pelo privilégio de matar milhares dos nossos semelhantes?
- Por que acreditavam que iriam direitos ao paraíso se o fizessem.
É raro encontrar comportamentos humanos explicados de forma tão completa e satisfatória.
Por que temos nós demonstrado tanta relutância em aceitar esta explicação?
O jornalista Muril Gray, no Herald (de Glasgow) a 24 de Julho de 2005, a propósito das bombas de Londres, propunha idêntica conclusão:
“Culpa-se toda a gente desde o óbvio duo de vilões, Geoge Bush / Tony Blair, até à inacção das “comunidades muçulmanas”. Mas nunca terá sido tão claro que existe apenas um culpado e que sempre assim foi e continuará a ser.
A causa de toda esta desgraça, do caos, da violência, do terror e da ignorância é, evidentemente, a própria religião; e, embora pareça ridículo ter de afirmar uma verdade tão óbvia, o facto é que o governo e os media se esforçam ao máximo para fingir que assim não é.”
Os nossos políticos ocidentais evitam mencionar a palavra religião. Preferem chamar à batalha que vêm travando de guerra contra o “terrorismo” como se este fosse uma espécie de força ou espírito dotado de vontade e mente próprias.
Ou então caracterizam os terroristas dizendo que eles são motivados por “puro mal”.
Mas não é o mal que lhes dá a motivação. Por muito transviados que possamos pensar que eles andam, aquilo que os motiva, tal como aos cristãos que assassinam os médicos das clínicas abortistas, é o que julgam ser rectidão, seguindo fielmente aquilo que a religião lhes diz.
Não se trata de mentes afectadas por doenças psiquiátricas, são idealistas religiosos, que de acordo com o seu ponto de vista, são racionais.
Consideram bons os actos que praticam, não devido a uma qualquer idiossincrasia pessoal distorcida ou porque estejam possuídos por Satanás, mas porque desde o berço foram educados a ter uma fé total e inquestionante.
Sam Harris cita um bombista-suicida que falhou os seus intentos e que afirmou que aquilo que o levava a matar israelitas foi “o amor pelo martírio…não queria vingar-me de nada, só queria ser mártir”.
A revista New Yorker publicou uma entrevista realizada por Nasra a outro bombista suicida capturado, um jovem palestiniano de 27 anos, educado, conhecido por “S”.
Esta entrevista é tão poeticamente eloquente quanto aos atractivos do paraíso, tal como este é pregado por professores e líderes religiosos moderados, que vale a pena transcrever para se perceber melhor este magno problema:
“…Qual é o motivo da atracção do martírio? – perguntei.
- O poder do espírito puxa-nos para cima, enquanto o poder das coisas puxa-nos para baixo – respondeu. –
- Uma pessoa que opta pelo martírio torna-se imune às forças materiais. O nosso Controlador perguntou: «E se a operação falhar?» Nós dissemos-lhe: «Seja como for, sempre vamos conhecer o Profeta e os seus companheiros, In Sha’Allah».
- Nós flutuávamos, pairávamos naquele sentimento de que estávamos prestes a entrar na eternidade. Não tínhamos dúvidas. Fizemos, sob juramento, sobre o Corão, na presença de Alá, a promessa de que não iríamos vacilar.
- Esta promessa da “jihad” chama-se “bayt al-ridwan” nome que tem origem no jardim do Paraíso, reservado aos profetas e aos mártires.
- Sei que existem outras formas de travar a “jihad” mas esta forma é doce, a mais doce. As operações de martírio todas juntas, se executadas por amor a Alá magoam menos que a picada de um mosquito!”
“S” mostrou-me um vídeo que documentava os planos finais da operação. Nas imagens vi-o a ele e a mais dois jovens envolvidos num diálogo ritualista de perguntas e respostas acerca da glória do martírio…
Jovens e Controlador ajoelharam-se então e colocaram a mão direita sobre o Corão. O Controlador disse: «Estais prontos? Amanhã estareis no Paraíso.»
Se eu fosse “S”, sentir-me ia tentado a dizer ao Controlador:
- Nós flutuávamos, pairávamos naquele sentimento de que estávamos prestes a entrar na eternidade. Não tínhamos dúvidas. Fizemos, sob juramento, sobre o Corão, na presença de Alá, a promessa de que não iríamos vacilar.
- Esta promessa da “jihad” chama-se “bayt al-ridwan” nome que tem origem no jardim do Paraíso, reservado aos profetas e aos mártires.
- Sei que existem outras formas de travar a “jihad” mas esta forma é doce, a mais doce. As operações de martírio todas juntas, se executadas por amor a Alá magoam menos que a picada de um mosquito!”
“S” mostrou-me um vídeo que documentava os planos finais da operação. Nas imagens vi-o a ele e a mais dois jovens envolvidos num diálogo ritualista de perguntas e respostas acerca da glória do martírio…
Jovens e Controlador ajoelharam-se então e colocaram a mão direita sobre o Corão. O Controlador disse: «Estais prontos? Amanhã estareis no Paraíso.»
Se eu fosse “S”, sentir-me ia tentado a dizer ao Controlador:
«Bem, nesse caso, porque não arriscas tu o pescoço? Porque não desempenhas tu a missão de suicídio e vais já direito para o Paraíso?»
Mas o que para nós se torna tão difícil de compreender é que, e vamos repetir o ponto essencial da questão: «esta gente acredita efectivamente naquilo em que diz que acredita» e, por isso, é que devemos culpar a própria religião e não o extremismo religioso que dela é, apenas, uma consequência.
Voltaire acertou quando, há muito tempo, escreveu:
«Quem vos fizer acreditar em absurdos, conseguirá fazer-vos cometer atrocidades»
Bertrand Russel, por sua vez, afirmou:
«Muitos há que mais depressa aceitam morrer do que pensar e assim fazem de facto.»
Richard Dawkins no seu livro “A Desilusão de Deus” escreve:
«Enquanto aceitarmos o princípio de que a fé religiosa deve ser respeitada pelo simples facto de ser religiosa, será difícil negar o respeito à fé de Osama bin Laden e dos bombistas suicidas.
A alternativa, tão óbvia que não devia ser preciso insistirmos nela, é abandonar o princípio do respeito automático pela fé religiosa.
Esta é uma das razões pelas quais eu faço tudo o que está ao meu alcance para alertar as pessoas contra a fé em si mesma, e não apenas contra a chamada fé extremista porque, embora em si mesmos não sejam extremistas, os ensinamentos da religião moderada são um convite aberto ao extremismo.
Não há, neste aspecto, nada que faça da fé religiosa um caso à parte. O amor patriótico pelo país ou pelo grupo étnico a que se pertence também pode levar a querer afeiçoar o mundo a esta ou àquela versão de extremismo.
Não foi isso que aconteceu com os Kamikazes no Japão ou os Tigres Tamil no Siri Lanka?
A fé religiosa é um silenciador especialmente potente da reflexão racional, tendendo normalmente a sobrepor-se às outras filiações talvez por causa da fácil e enganadora promessa de que a morte não é o fim.»
Mas o que para nós se torna tão difícil de compreender é que, e vamos repetir o ponto essencial da questão: «esta gente acredita efectivamente naquilo em que diz que acredita» e, por isso, é que devemos culpar a própria religião e não o extremismo religioso que dela é, apenas, uma consequência.
Voltaire acertou quando, há muito tempo, escreveu:
«Quem vos fizer acreditar em absurdos, conseguirá fazer-vos cometer atrocidades»
Bertrand Russel, por sua vez, afirmou:
«Muitos há que mais depressa aceitam morrer do que pensar e assim fazem de facto.»
Richard Dawkins no seu livro “A Desilusão de Deus” escreve:
«Enquanto aceitarmos o princípio de que a fé religiosa deve ser respeitada pelo simples facto de ser religiosa, será difícil negar o respeito à fé de Osama bin Laden e dos bombistas suicidas.
A alternativa, tão óbvia que não devia ser preciso insistirmos nela, é abandonar o princípio do respeito automático pela fé religiosa.
Esta é uma das razões pelas quais eu faço tudo o que está ao meu alcance para alertar as pessoas contra a fé em si mesma, e não apenas contra a chamada fé extremista porque, embora em si mesmos não sejam extremistas, os ensinamentos da religião moderada são um convite aberto ao extremismo.
Não há, neste aspecto, nada que faça da fé religiosa um caso à parte. O amor patriótico pelo país ou pelo grupo étnico a que se pertence também pode levar a querer afeiçoar o mundo a esta ou àquela versão de extremismo.
Não foi isso que aconteceu com os Kamikazes no Japão ou os Tigres Tamil no Siri Lanka?
A fé religiosa é um silenciador especialmente potente da reflexão racional, tendendo normalmente a sobrepor-se às outras filiações talvez por causa da fácil e enganadora promessa de que a morte não é o fim.»
Difundir, mais uma vez, estas reflexões enquanto ainda estão quentes os cadáveres das vítimas de mais um tresloucado acto de extremismo religioso, talvez mobilize melhor a nossa concentração para a verdadeira raiz do problema.
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