quinta-feira, fevereiro 19, 2009


Tieta do Agreste

EPISÓDIO Nº 55



ONDE TIETA RECUSA A PROPOSTA DE DONA ZULMIRA E EM TROCA VÊ UMA PROPOSTA SUA VETADA PELO PAI, PELO CUNHADO E POR ELISA, ESSA POBRE ELISA



Alguém, cujo nome não importa, aconselhara dona Zulmira a vender a casa e a colocar o dinheiro vivo no altar necessitado da Senhora Sant’Ana, livre de contestação, garantindo-lhe o lugar no céu, à direita de Deus, entre os mais justos. Quem sabe, a mesma voz divina o aconselhou a pedir à ricaça de São Paulo o dobro do preço proposto a Modesto Pires. A bolsa de imóveis funcionando pela primeira vez em Agreste.

Se Antonieta não soubesse do preço anterior, talvez nem discutisse pois, mesmo pelo dobro, a vivenda ampla e fresca em centro de terreno, com árvores e jardim não lhe parece cara. Tinha porém horror de ser explorada, sabia o valor do dinheiro. Generosa mas não esbanjadora. Perpétua se engana ao julgá-la. Conhecera dias podres, conservava vivo o travo da miséria. Custou-lhe esforço, habilidade, tato e malícia o que conseguiu juntar a duras penas, não pensa desperdiçar o seu pé-de-meia. Com a morte Filipe secou-se a fonte.

Recusa a proposta de dona Zulmira, oferece a quantia pedida a Modesto Pires. Não teve ainda resposta.

Em lua-de-mel com a família dá-se conta, no entanto, do encoberto interesse de cada um, da avidez maior ou menor a movê-los, apenas os sobrinhos escapam, ainda limpos, fora do círculo mesquinho onde os demais se movimentam. Mais do que os pedintes, os parentes a apoquentam.

Preocupada com o facto de Astério pagar aluguel, levantara a hipótese de, comprada a casa de dona Zulmira ou outra semelhante, igual em conforto, residirem juntos os dois casais: o pai e Tonha, Astério e Elisa. Consultou a uns e a outros em separado.

- Não minha filha, não me obrigue a isso! – o velho bate com o cajado no chão, lança uma cusparada negra, de fumo mascado – Elisa só pensa em moda e figurinos, o rádio naquelas alturas o dia todo. Astério, aqui para nós não vale um peido. Tenho que estar controlando para
ele não meter a mão no dinheiro que você me manda. Se você faz questão e como não tenho outro jeito, vou morar com eles. Mas se você tem piedade de seu pai, me poupe esse desgosto. Pode ser meu fim.

Tieta termina rindo, que outra coisa pode fazer? O Velho, forte, sadio,
mandão a fazer-se fraco e humilde para viver com a filha e o genro.

- E se fosse com Perpétua, Pai? Vosmicê aceitava?

- Deus me livre e guarde, minha filha! Antes a morte. Me crave logo um punhal no peito mas não me peça isso.

- Vosmicê não toma jeito.

- Com você eu posso morar minha filha. Você é direita, saiu a mim. Nossos génios combinam.

Não menos categórica a reacção de Astério e Elisa:

- Enquanto puder pagar aluguel prefiro que a gente more só, Elisa e eu. Não por mãe Tonha, mas seu Zé Esteves é osso duro de roer. Tem cisma comigo – desculpa-se Astério cheio de dedos.

- Pai só tem modos com você, com a gente é aos pontapés. Já pensou, ele e a gente morando na mesma casa? Quer saber de uma coisa mana? Eu não tenho vontade de ter casa própria em Agreste. Até prefiro não ter.

Tieta não perguntou porquê. Sorriu para a irmã, essa pobre Elisa.

- Se é assim, não se fala mais nisso.

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