domingo, março 01, 2009


O PS E O SEU CONGRESSO




Inevitavelmente, sendo a eleição do Secretrário Geral por voto directo, os Congressos dificilmente poderão deixar de ser aquilo que este foi porque se chega a eles com o líder já eleito e o que resta fazer é consagrá-lo…é uma consequência das directas e traduz-se no enfraquecimento do debate de ideias e de políticas.

Portanto, não nos queixemos dos Congressos de Consagração de líderes mas antes da forma encontrada para chegar a eles.

Se se opta por ir directamente ao líder em vez de primeiro discutir e votar programas e finalmente eleger como líder o responsável do programa mais votado, os Congressos serão exactamente isto.

O mesmo se passa com o PSD sendo, esta opção por directas, uma evolução do nosso sistema político/partidário do “complicado e trabalhoso” processo de agregar pessoas, ideias e programas, para ir directamente atrás da solução simplista e algo demagógica dos chefes carismáticos que arrebatem as multidões com os seus discursos inflamados.

Mas cada sociedade tem a democracia que mais gosta e esta é tão legítima como qualquer outra porque se baseia no voto livre dos militantes de cada partido e corresponde a características idiossincráticas do “nosso povo”, como diria o “camarada” Jerónimo.

Ultrapassado este aspecto, permanece o sempre actual problema da governabilidade deste país de pessoas quezilentas, invejosas, sempre a “olhar para o seu umbigo”, para os seus “intressesinhos” e status pessoais, de grupo e classe tão difíceis de conciliar com os interesses do país e dos portugueses.

E aqui entronca a estabilidade política para que a acção governativa possa resultar de uma linha de decisões continuada dentro de um programa, que muito ou pouco discutido previamente, tenha sido eleito pelo voto dos cidadãos.

Sócrates governou com maioria absoluta o que é difícil de acontecer com o sistema consagrado na nossa Constituição que, neste aspecto, foi concebida para uma outra sociedade de pessoas que não a nossa.

Impor soluções políticas que passam por entendimentos entre pessoas que, declaradamente, não gostam nem querem entender-se, é colocar o país a viver sobre o “fio de uma navalha” que um dia pode acabar mal.

Nunca conseguirei esquecer “o queijo limiano” e “pântano político de António Guterres” que atirou para fora do país um dos nossos concidadãos de melhor qualidade e nos deixou apreensivos agarrados à tábua de salvação de que, “em democracia há sempre uma solução”, mesmo quando ela se chama Santana Lopes!

Todos temos presente as dificuldades de governação de Sócrates mesmo com a maioria absoluta na Assembleia. As reformas que tentou levar a cabo, mais ou menos bem sucedidas, umas mais incompletas do que outras, levantaram contestações de todos os lados até que se abateram sobre ele com o caso Freeport.

Esta nossa sociedade não quer reformas porque os grupos profissionais não aceitam ver mexidos e afectados os seus interesses e privilégios e só discutem aquilo que os possa melhorar ou deixar na mesma, nas tintas em que estão para o interesse do país e a apoiá-los têm:

1º - Uma certa Imprensa, o tal 4º Poder que se acha a si próprio e com razão, cada vez mais poderosa;

2º - Um Partido Comunista “filho” da ditadura de Salazar e que sobrevive como relíquia do passado, objecto de estimação do qual não nos conseguimos separar por uma questão de sentimentalismo e que repete tudo, da mesma forma, passe o pleonasmo, com qualquer partido que esteja no governo:

3º - Alguns líderes sindicais que concertados com o PCP lideram e orquestram manifestações e protestos por todo o país os quais, posteriormente, fazem abertura de telejornais;

4º - Finalmente, um Bloco que poderia e deveria ser o “braço esquerdo” do PS viabilizando soluções políticas de alcance social e fora dos grandes esquemas de interesses, comporta-se como um partido “reguila” liderado por um grande orador de palavra fácil e inflamada que soa aos ouvidos dos desempregados e mais necessitados como música celestial.

O PS tem que continuar as reformas, aprofundá-las, não ter medo mas explicar com clareza e muita paciência e humildade as decisões que toma. Os cidadãos não podem estar reféns da voz de certos líderes sindicais e de políticos de oposição.

O PS iniciou um percurso mas tem que o continuar, especialmente no sector da Justiça que será, provavelmente, o mais difícil e para isso não estará muito bem servido de ministro.

Acresce que à Justiça está ligada a segurança das pessoas e nos últimos 10 anos a criminalidade quase que duplicou e esta evolução tem que ser levada muito a sério não só pelas autoridades deste país mas de todo o mundo.

Veja-se o que se passa no Brasil:

- Segundo, a Secretaria de Segurança Púbica do Rio grupos de milícias constituídos por polícias, guardas prisionais e bombeiros corruptos obrigam habitantes de bairros pobres a pagarem pela sua segurança. Das 968 favelas da cidade, 200 já estão controladas por esses grupos “apenas” aproveitando brechas na legislação e morosidade na Justiça…e o Brasil é aqui ao lado.

A Reforma fiscal é outro sector prioritário para a intervenção do governo: as grandes fortunas, as fraudes e as fugas aos impostos e para já, enquanto não for possível acabar com as Ofshores, controlar os movimentos dos dinheiros para essas contas e o sigilo que as protegem. Entrámos num período em que as pessoas de todo o mundo vão sofrer muito na qualidade das suas vidas e essa situação é um convite para os governos tomarem medidas que talvez, fora dela, não fossem possíveis.

Temos um presidente nos EUA que caiu como “sopa no mel” para ajudar o mundo a superar esta crise e cada governo, seja onde for, tem que cumprir, neste aspecto, a parte que lhe cabe.

Sócrates e o seu governo não podem ficar em dívida nesse esforço colectivo e eu percebo perfeitamente que a continuação do governo nesta linha reformista necessite de estabilidade política que passa por uma nova maioria absoluta.

Fora dela, não vejo nenhum entendimento, acordo, coligação que seja vantajosa para o país…restando apenas negociatas políticas com o “famigerado” Paulo Portas que ganhou votos numa eleição com a promessa de dar uma pensão aos antigos combatentes do ultramar sem saber onde ir buscar o dinheiro e levando as pessoas a pensar que seria uma prestação mensal.

Estes políticos que se aproveitam da ingenuidade e boa fé dos cidadãos e os enganam com promessas fraudulentas deveriam ser castigados pelo eleitorado mas, pelos vistos, não neste país.

Sócrates e o PS fizeram, neste primeiro ciclo governativo de 4 anos, alguma coisa que representou melhorias importantes para o país e há muito deveriam ter sido efectuadas mas tem que continuar porque ainda há muito para fazer e, para o ajudar e ajudar o país, dar-lhe-ei o meu voto nas próximas eleições legislativas.

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