Tieta do Agreste
EPISÓDIO Nº 87
Pode dizer que eu pago bem…
Ascânio sai em trote rápido em busca de Elieser. Terá de convencê-lo; em matéria de bom sujeito, Elieser é exemplo discutível, mas Ascânio tem prestígio. Nada dirá sobre hotéis e asfalto, o outro pode considerar tais planos grave ameaça aos seus legítimos interesses. Ascânio já compreendeu que não se trata de simples visitantes ocasionais e sim de empresário estudando a possibilidade de inverter dinheiro grosso para fazer de Agreste o almejado centro turístico, projecto tantas vezes discutido na Agência dos Correios e Telégrafos.
Falta infra-estrutura dizia dona Carmosina. Falta alguém com dinheiro para estabelecê-la, o Município não tem condições, completava Ascânio. Pelo jeito, dinheiro ia sobrar.
Calados, sem tema de conversa, Osnar e seu Manuel sorriem bestamente para os estranhos. Não tarda Aminthas se junta a eles, interrompera um concerto dos Rolling Stones. A rainha do planeta Vénus freta com o olhar os três humanos, um a um, e a cada um sorri em particular, a revelar que teria prazer enorme em dormir com ele – só com você, amorzinho, e mais ninguém no mundo. Osnar está em vias de perder o fôlego. Ascânio volta a tempo. Elieser passou directo para o pequeno ancoradouro onde a lancha espera.
- Thanks! Andiamo, bela, não temos muito tempo. Arrivederci…
Quantas línguas falam no espaço? Osnar se engasga em português. O marciano estende a mão, Aminthas ainda está em dúvida se ele desmunheca ou não.
- É melhor deixar o veículo na praça, ir a pé, o caminho é ruim. Eu os acompanham…
Todos acompanham, mesmo seu Manuel, o bar vazio.
- Quanta gentileza… - agradece Miss Vénus num gemido.
No caminho, Ascânio busca comprovação:
- Diga uma coisa… o senhor pretende estabelecer-se aqui?
- Quem sabe? Vai depender dos estudos… É possível.
- Com um hotel? Pode explorar-se a água mineral, não há melhor.
- Hotel? Também. Vai ser indispensável. Água? Talvez. Mas serão apenas inversões secundárias, diversificação de capital. Água, depois pode-se pensar nisso.
Chegam ao ancoradouro. Projectos ambiciosos, reflecte Ascânio, grande empreendimento turístico, está na cara. Os seres magníficos embarcam na lancha, Elieser ao leme.
- Mais uma vez, merci, frère, Ciao! – acena adeus.
- Ascânio Trindade, secretário da prefeitura, às ordens.
- Secretário da prefeitura? E o prefeito, quem é?
- Doutor Mauritônio Dantas. Está enfermo, eu respondo pelo expediente. Qualquer coisa pode conversar comigo.
- OK, iremos conversar, com certeza. Brevemente e muito
A lancha parte, a da ruiva crina, da mecha platinada, lança um beijo, com o olhar se entrega; Elieser nem assim desamarra a cara. Ascânio Trindade sorri, parece um sonho: finalmente eles haviam desembarcado.
EPISÓDIO Nº 87
Pode dizer que eu pago bem…
Ascânio sai em trote rápido em busca de Elieser. Terá de convencê-lo; em matéria de bom sujeito, Elieser é exemplo discutível, mas Ascânio tem prestígio. Nada dirá sobre hotéis e asfalto, o outro pode considerar tais planos grave ameaça aos seus legítimos interesses. Ascânio já compreendeu que não se trata de simples visitantes ocasionais e sim de empresário estudando a possibilidade de inverter dinheiro grosso para fazer de Agreste o almejado centro turístico, projecto tantas vezes discutido na Agência dos Correios e Telégrafos.
Falta infra-estrutura dizia dona Carmosina. Falta alguém com dinheiro para estabelecê-la, o Município não tem condições, completava Ascânio. Pelo jeito, dinheiro ia sobrar.
Calados, sem tema de conversa, Osnar e seu Manuel sorriem bestamente para os estranhos. Não tarda Aminthas se junta a eles, interrompera um concerto dos Rolling Stones. A rainha do planeta Vénus freta com o olhar os três humanos, um a um, e a cada um sorri em particular, a revelar que teria prazer enorme em dormir com ele – só com você, amorzinho, e mais ninguém no mundo. Osnar está em vias de perder o fôlego. Ascânio volta a tempo. Elieser passou directo para o pequeno ancoradouro onde a lancha espera.
- Thanks! Andiamo, bela, não temos muito tempo. Arrivederci…
Quantas línguas falam no espaço? Osnar se engasga em português. O marciano estende a mão, Aminthas ainda está em dúvida se ele desmunheca ou não.
- É melhor deixar o veículo na praça, ir a pé, o caminho é ruim. Eu os acompanham…
Todos acompanham, mesmo seu Manuel, o bar vazio.
- Quanta gentileza… - agradece Miss Vénus num gemido.
No caminho, Ascânio busca comprovação:
- Diga uma coisa… o senhor pretende estabelecer-se aqui?
- Quem sabe? Vai depender dos estudos… É possível.
- Com um hotel? Pode explorar-se a água mineral, não há melhor.
- Hotel? Também. Vai ser indispensável. Água? Talvez. Mas serão apenas inversões secundárias, diversificação de capital. Água, depois pode-se pensar nisso.
Chegam ao ancoradouro. Projectos ambiciosos, reflecte Ascânio, grande empreendimento turístico, está na cara. Os seres magníficos embarcam na lancha, Elieser ao leme.
- Mais uma vez, merci, frère, Ciao! – acena adeus.
- Ascânio Trindade, secretário da prefeitura, às ordens.
- Secretário da prefeitura? E o prefeito, quem é?
- Doutor Mauritônio Dantas. Está enfermo, eu respondo pelo expediente. Qualquer coisa pode conversar comigo.
- OK, iremos conversar, com certeza. Brevemente e muito
A lancha parte, a da ruiva crina, da mecha platinada, lança um beijo, com o olhar se entrega; Elieser nem assim desamarra a cara. Ascânio Trindade sorri, parece um sonho: finalmente eles haviam desembarcado.
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