Tieta do Agreste
EPISÓDIO Nº 123
- Ora, os jornais… Sempre sensacionalistas.
- Dizem que só existem cinco empresas dessas em todo o mundo, que nenhum país autoriza. Poluição, palavra suja, amedrontadora. Tremenda.
- Apenas cinco? Exagero dos jornais – rebate vitorioso – posso-lhe citar pelo menos seis.
- A diferença não é grande. Temo que… Os argumentos têm de ser de peso, sem o que não conseguiremos mover o nosso amigo e, se ele não se mover, não sei como obter autorização para o registro.
O Magnífico Doutor não é pastor de cabras mas também ele conhece o seu rebanho, para tanto é pago e bem pago. Para mercadejar, sabendo, quando indispensável, aumentar a parada e sabendo também até onde ir:
- Compreendo. Todavia não falta peso aos argumentos que já oferecemos à sua compreensão e à do nosso ilustre amigo.
- Insuficientes. Argumentos ridículos, disse-me ele. Ridículos, foi a palavra que ele usou. Mesmo porque, como é do seu conhecimento, não lhe cabe a decisão final, ele próprio deve argumentar, e para isso precisa de argumentos que convençam – serve-se de nova dose de uísque – Apenas cinco, cinco ou seis, no mundo inteiro… Está nos jornais. Apodrece a agua, mata os peixes, envenena o ar. Leu o artigo de O Estado de São Paulo? Na Itália, dá cana.
- Lança ao ar a fumaça azul do charuto cubano, subversivo porém inigualável.
O Magnífico Doutor baixa a voz apesar de estarem a sós na sala reservada do Refúgio dos Lordes onde não há perigo de ouvidos indiscretos, tampouco de microfones secretos como acontece nos romances de aventuras sobre petróleo árabe e contrabando de armas com espiões multinacionais e espiãs fabulosamente sexys.
- Os meus amigos estão dispostos a reforçar os argumentos – A voz amaneirada torna-se quase ininteligível: - Quanto?
O Jovem Parlamentar pensa, faz imaginárias contas nos dedos; calca no preço, pede alto. O Magnífico Doutor balança a cabeça negativamente.
- Metade.
- Metade? É muito pouco.
- Nem um centavo a mais. – A voz ainda mais afectada: - Tenho quem faça por menos.
- Vá lá… de acordo. Afinal os jornais mentem tanto e o estadão com essa mania que o Julinho Mesquita tem de democracia se coloca contra tudo que nos interessa. Vai acabar se dando mal…
Da pasta o Magnífico Doutor extrai um talão de cheque.
- Ao portador – recomenda o Jovem Parlamentar, revelando inexperiência. O Magnífico Doutor esconde um sorriso de debique.
O Jovem Parlamentar recebe, levanta-se, vai ao armário, guarda o cheque no bolso do paletó. Servem-se de mais uma dose, erguem os copos, num brinde mudo. Marcam novo encontro, em data próxima, ali mesmo, impossível local mais discreto e apropriado para assuntos de relevante importância para o desenvolvimento nacional. O Jovem Parlamentar bate palmas, a porta se abre, as meninas retornam. Afinal a vida não se resume a cuidar dos assuntos da pátria.
O Magnífico Doutor não aceita a gentil oferta da troca de parceiras. Apressado, reduz-se a coito rápido, deve pegar o avião, tem encontro marcado no Rio. Demora-se o Jovem Parlamentar, satisfeito da vida. Peixes, águas, caranguejos, ostras, algas marinhas… Tudo isso no Nordeste, vagamente. Existirá mesmo o Nordeste ou se trata de invenção subversiva de literatos e cineastas?
A rapariga a seu lado é loira como uma escandinava. No Nordeste uma sub-raça escura. O Jovem Parlamentar sente-se redimido, em paz com a consciência.
Na saída, a gerente vem despedi-lo: satisfeito, Deputado? O Deputado, cliente novo, ainda não um habitue, agradece e solicita notícias de Madame Antoinette:
- Madame está em Paris, visitando a família. O senhor sabe que Madame é filha de um General de França? La mère est de la Martinique. Très chic! – Começa a treinar o seu francês para um dia suceder à patroa actual na propriedade da casa. Quando Tieta se cansar de vez e resolver mudar para o sertão do Agreste.
- Dizem que só existem cinco empresas dessas em todo o mundo, que nenhum país autoriza. Poluição, palavra suja, amedrontadora. Tremenda.
- Apenas cinco? Exagero dos jornais – rebate vitorioso – posso-lhe citar pelo menos seis.
- A diferença não é grande. Temo que… Os argumentos têm de ser de peso, sem o que não conseguiremos mover o nosso amigo e, se ele não se mover, não sei como obter autorização para o registro.
O Magnífico Doutor não é pastor de cabras mas também ele conhece o seu rebanho, para tanto é pago e bem pago. Para mercadejar, sabendo, quando indispensável, aumentar a parada e sabendo também até onde ir:
- Compreendo. Todavia não falta peso aos argumentos que já oferecemos à sua compreensão e à do nosso ilustre amigo.
- Insuficientes. Argumentos ridículos, disse-me ele. Ridículos, foi a palavra que ele usou. Mesmo porque, como é do seu conhecimento, não lhe cabe a decisão final, ele próprio deve argumentar, e para isso precisa de argumentos que convençam – serve-se de nova dose de uísque – Apenas cinco, cinco ou seis, no mundo inteiro… Está nos jornais. Apodrece a agua, mata os peixes, envenena o ar. Leu o artigo de O Estado de São Paulo? Na Itália, dá cana.
- Lança ao ar a fumaça azul do charuto cubano, subversivo porém inigualável.
O Magnífico Doutor baixa a voz apesar de estarem a sós na sala reservada do Refúgio dos Lordes onde não há perigo de ouvidos indiscretos, tampouco de microfones secretos como acontece nos romances de aventuras sobre petróleo árabe e contrabando de armas com espiões multinacionais e espiãs fabulosamente sexys.
- Os meus amigos estão dispostos a reforçar os argumentos – A voz amaneirada torna-se quase ininteligível: - Quanto?
O Jovem Parlamentar pensa, faz imaginárias contas nos dedos; calca no preço, pede alto. O Magnífico Doutor balança a cabeça negativamente.
- Metade.
- Metade? É muito pouco.
- Nem um centavo a mais. – A voz ainda mais afectada: - Tenho quem faça por menos.
- Vá lá… de acordo. Afinal os jornais mentem tanto e o estadão com essa mania que o Julinho Mesquita tem de democracia se coloca contra tudo que nos interessa. Vai acabar se dando mal…
Da pasta o Magnífico Doutor extrai um talão de cheque.
- Ao portador – recomenda o Jovem Parlamentar, revelando inexperiência. O Magnífico Doutor esconde um sorriso de debique.
O Jovem Parlamentar recebe, levanta-se, vai ao armário, guarda o cheque no bolso do paletó. Servem-se de mais uma dose, erguem os copos, num brinde mudo. Marcam novo encontro, em data próxima, ali mesmo, impossível local mais discreto e apropriado para assuntos de relevante importância para o desenvolvimento nacional. O Jovem Parlamentar bate palmas, a porta se abre, as meninas retornam. Afinal a vida não se resume a cuidar dos assuntos da pátria.
O Magnífico Doutor não aceita a gentil oferta da troca de parceiras. Apressado, reduz-se a coito rápido, deve pegar o avião, tem encontro marcado no Rio. Demora-se o Jovem Parlamentar, satisfeito da vida. Peixes, águas, caranguejos, ostras, algas marinhas… Tudo isso no Nordeste, vagamente. Existirá mesmo o Nordeste ou se trata de invenção subversiva de literatos e cineastas?
A rapariga a seu lado é loira como uma escandinava. No Nordeste uma sub-raça escura. O Jovem Parlamentar sente-se redimido, em paz com a consciência.
Na saída, a gerente vem despedi-lo: satisfeito, Deputado? O Deputado, cliente novo, ainda não um habitue, agradece e solicita notícias de Madame Antoinette:
- Madame está em Paris, visitando a família. O senhor sabe que Madame é filha de um General de França? La mère est de la Martinique. Très chic! – Começa a treinar o seu francês para um dia suceder à patroa actual na propriedade da casa. Quando Tieta se cansar de vez e resolver mudar para o sertão do Agreste.
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