TIETA DO AGRESTE
EPISÓDIO Nº 201
EPISÓDIO Nº 201
O engenheiro faz perguntas sobre a estrada. Desculpe-lhe a franqueza: aquele caminho de mulas não merece ser tratado sequer de estrada carroçável.
Trilha incerta, estreita picada repleta de lombadas, lamaçais, cacundas, valetas, crateras, em suma, uma escrotidão. Será necessário refazê-la por completo, modificando-lhe talvez o traçado, considerável mão-de-obra. Ascânio fornece alguns dados mas somente Jairo, proprietário da marinete, familiar da travessia, pode dar informação precisa, quando chegar de Esplanada.
Um sorriso zombeteiro desenha-se no rosto macambúzio de doutor Quarantini; na saída de Esplanada haviam deixado para trás o extraordinário veículo, tão obsoleto a ponto de ser ultrapassado pelas máquinas de marcha reduzida. Realmente, quem a leva e traz deve conhecer aquela buraqueira palmo a palmo. Ascânio recomenda-lhe prudência no trato com Jairo: o dono da marinete anda de mau humor desde que vira no jornal mural da Prefeitura o desenho dos magníficos ônibus previstos para o serviço de passageiros na nova estrada, essa que o engenheiro vai traçar e construir.
Falando nisso, solicita ao engenheiro um minuto do seu precioso tempo para admirar o jornal mural, antes de ir ver o trecho a asfaltar pelo qual, aliás, vem de passar pois fica na entrada da cidade. O barbudo, diante do desenho, concede outro sorriso, dúbio. Ascânio fica sem saber se devido à discutível vocação artística de Lindolfo ou ao entusiasmo, demonstrado no mural, pela Brastânio e seus efluentes progressistas. O visitante não comenta nem os desenhos nem as afirmações, em letras coloridas:
- Vamos indo. Quanto antes se comece, melhor.
Tem pressa. Exceptuando-se o doutor Mirko Stefano, pausado e calmo, todas as demais pessoas ligadas ao progresso não admitem perder tempo, estão sempre correndo, impacientes. Seguindo a careca para o jipe, Ascânio comprova que ele próprio deve mudar de ritmo. Distante da capital, habituara-se, nos últimos anos, ao lento compasso das horas de Agreste.
Jipe, caminhão e máquinas descem a rua, acompanhados pela massa crescente de basbaques. Na entrada da cidade param, despejando técnicos, capatazes e operários. Ascânio, os dois engenheiros e o fiscal da Companhia percorrem o trecho do caminho a ser pavimentado, a futura rua Antonieta Esteves Cantarelli.
- Esse pedacinho, só? – doutor Quarantini dirige-se aos capatazes:
- Não precisa armar as tendas, essa bobagem a gente factura hoje mesmo. Pensei que fosse coisa de vulto – fala para Ascânio: - Muito bem, meu caro, vamos meter mãos à obra. Quem sabe o amigo pode providenciar a gororoba para o pessoal e uns cascos de cerveja? E almoço para nós. Tem algum restaurante que preste? Pelo jeito… – Um desanimado gesto de resignação: - Qualquer coisa serve.
- Fique descansado, cuidarei disso. Que horas pensa voltar?
- No fim da tarde. Vamos fazer o possível para terminar antes do pôr-do-sol. Dá, não dá, Sante?
- Sante, possante mulato a mastigar uma ponta de charuto, confirma:
- Demais – Ordena aos homens: - Toca o bonde.
Cavaletes pintados de amarelo demarcam os limites onde o trânsito torna-se proibido, os curiosos são afastados, as grandes máquinas entram em acção.
Acotovelando-se por detrás dos cavaletes, sob o sol intenso, o povo acompanha atento o desenvolvimento do trabalho. A patrola levanta, espalha a terra e aplaina, sua pá enorme causa admiração. Ainda mais o rolo compressor, indo e vindo nos cem metros de caminho, sujeitando a terra solta, transformando-a em sólido leito de rua. Da rua Antonieta Esteves Cantarelli, curta mas asfaltada, primeira beneficiária do progresso trazido pela Brastânio.
Trilha incerta, estreita picada repleta de lombadas, lamaçais, cacundas, valetas, crateras, em suma, uma escrotidão. Será necessário refazê-la por completo, modificando-lhe talvez o traçado, considerável mão-de-obra. Ascânio fornece alguns dados mas somente Jairo, proprietário da marinete, familiar da travessia, pode dar informação precisa, quando chegar de Esplanada.
Um sorriso zombeteiro desenha-se no rosto macambúzio de doutor Quarantini; na saída de Esplanada haviam deixado para trás o extraordinário veículo, tão obsoleto a ponto de ser ultrapassado pelas máquinas de marcha reduzida. Realmente, quem a leva e traz deve conhecer aquela buraqueira palmo a palmo. Ascânio recomenda-lhe prudência no trato com Jairo: o dono da marinete anda de mau humor desde que vira no jornal mural da Prefeitura o desenho dos magníficos ônibus previstos para o serviço de passageiros na nova estrada, essa que o engenheiro vai traçar e construir.
Falando nisso, solicita ao engenheiro um minuto do seu precioso tempo para admirar o jornal mural, antes de ir ver o trecho a asfaltar pelo qual, aliás, vem de passar pois fica na entrada da cidade. O barbudo, diante do desenho, concede outro sorriso, dúbio. Ascânio fica sem saber se devido à discutível vocação artística de Lindolfo ou ao entusiasmo, demonstrado no mural, pela Brastânio e seus efluentes progressistas. O visitante não comenta nem os desenhos nem as afirmações, em letras coloridas:
- Vamos indo. Quanto antes se comece, melhor.
Tem pressa. Exceptuando-se o doutor Mirko Stefano, pausado e calmo, todas as demais pessoas ligadas ao progresso não admitem perder tempo, estão sempre correndo, impacientes. Seguindo a careca para o jipe, Ascânio comprova que ele próprio deve mudar de ritmo. Distante da capital, habituara-se, nos últimos anos, ao lento compasso das horas de Agreste.
Jipe, caminhão e máquinas descem a rua, acompanhados pela massa crescente de basbaques. Na entrada da cidade param, despejando técnicos, capatazes e operários. Ascânio, os dois engenheiros e o fiscal da Companhia percorrem o trecho do caminho a ser pavimentado, a futura rua Antonieta Esteves Cantarelli.
- Esse pedacinho, só? – doutor Quarantini dirige-se aos capatazes:
- Não precisa armar as tendas, essa bobagem a gente factura hoje mesmo. Pensei que fosse coisa de vulto – fala para Ascânio: - Muito bem, meu caro, vamos meter mãos à obra. Quem sabe o amigo pode providenciar a gororoba para o pessoal e uns cascos de cerveja? E almoço para nós. Tem algum restaurante que preste? Pelo jeito… – Um desanimado gesto de resignação: - Qualquer coisa serve.
- Fique descansado, cuidarei disso. Que horas pensa voltar?
- No fim da tarde. Vamos fazer o possível para terminar antes do pôr-do-sol. Dá, não dá, Sante?
- Sante, possante mulato a mastigar uma ponta de charuto, confirma:
- Demais – Ordena aos homens: - Toca o bonde.
Cavaletes pintados de amarelo demarcam os limites onde o trânsito torna-se proibido, os curiosos são afastados, as grandes máquinas entram em acção.
Acotovelando-se por detrás dos cavaletes, sob o sol intenso, o povo acompanha atento o desenvolvimento do trabalho. A patrola levanta, espalha a terra e aplaina, sua pá enorme causa admiração. Ainda mais o rolo compressor, indo e vindo nos cem metros de caminho, sujeitando a terra solta, transformando-a em sólido leito de rua. Da rua Antonieta Esteves Cantarelli, curta mas asfaltada, primeira beneficiária do progresso trazido pela Brastânio.
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