TIETA DO AGRESTE
EPISÓDIO Nº 211
EPISÓDIO Nº 211
- Ao que parece, Ascânio sabe. Ascânio Trindade, o secretário da Prefeitura, o tal que está namorando a paulista milionária, falei dele ao senhor, se lembra? Vai ser eleito prefeito mas já é como se fosse, é afilhado do coronel Artur e protegido dele.
- Lembro-me. Pelo que você me disse, ele é o homem da Brastânio aqui, é quem se bate pela instalação da fábrica no município, não é?
- Ascânio quer ver Agreste prosperar. Para isso tem lutado como um herói.
Animam-se de malícia os olhos do velho, tão inocentes na aparência:
- Um herói? Pois esse herói é nosso homem, caro Josafá. Precisamos que ele nos faça saber, a nós e a mais ninguém, onde a fábrica vai-se localizar, o ponto exacto. Esse dado é de fundamental importância. Provavelmente… Provavelmente, não, certamente vamos ter de soltar uma boa grana na mão desse funcionário para ter a informação com exclusividade. Talvez até lhe dar uma comissão no negócio.
- O doutor está dizendo que a gente deve comprar a informação a Ascânio? Pagar para ele não dizer aos outros?
- Acho que falei em português, meu filho.
- Negativo, doutor. Ascânio não é homem disso. A informação, eu penso que a podemos obter sem gastar um centavo, é só perguntar a ele. Mas conseguir que diga somente a nós, sonegar dos outros, por dinheiro, nem pensar. Se a gente propusesse, ele ia se ofender, seria pior.
Os olhos tranquilos e cansados do advogado consideram o constituinte quase com piedade:
- Você nem parece um homem que vive no sul, meu caro Josafá.
- Ascânio é homem de bem, doutor.
- Como é que sabe? Em que se baseia para afirmar com tanta segurança?
Tendo saído de Agreste há muitos anos, como se atreve a garantir pela honestidade de pessoas que mal conhece? Para você, todo mundo em Agreste é incorruptível. O tabelião, esse rapaz…Como você sabe?
- Bem, venho aqui todos os anos ver o velho, ouço o que o povo diz. Nunca escutei a menor alusão à honra de Ascânio.
- Examinemos os factos, são eles que contam. Estamos diante de um indivíduo que está fazendo o jogo da Brastânio, um jogo sujo, meu bom amigo. E que, ainda por cima, pretende dar o golpe do baú numa paulista rica. Para exemplo de honestidade não me parece o melhor.
- Mas… Ele deseja o progresso…
- Vamos acreditar que tenha sido assim, que ele fosse muito honesto como o povo diz e você repete. É até possível. Mas meu filho no momento em que se meteu nesse assunto, mesmo sem querer, ele mandou a honestidade pra cucuia. Mesmo que ele fosse de aço, enferrujava, sendo de carne e sangue, apodrece. Quanto você imagina que a Brastânio está pagando a ele? Se fosse um dinheirinho ele podia recusar. Mas se trata de dinheiro grosso, meu caro, grossíssimo. Apresente-me a esse Ascânio, eu sondo o bicho com jeito e agirei em consequência.
- Ascânio está na Bahia. Foi tratar dessa história da fábrica, os homens mandaram um jipe buscar ele.
- Que homens?
- Um chefão da Brastânio. Me disseram também que foi ver se o Tribunal marca logo as eleições. É o que ouvi falar na rua.
- Ora aí está, tudo claro como água e você a querer me vender o homem como o rei da honestidade! O indivíduo viaja a chamado da Brastânio que com certeza está mexendo os pauzinhos para fazer dele Prefeito e você a dizer que o fulano não come bola. Ora, seu Josafá…
Abalado com a argumentação do advogado, Josafá reflecte e admite:
- Pensando bem, talvez o doutor tenha razão: debaixo da capa de honesto, o cara está se enchendo. Me lembro de ter lido num jornal que os donos da Brastânio estavam tratando de apressar a eleição. Vai ver…
- Lembro-me. Pelo que você me disse, ele é o homem da Brastânio aqui, é quem se bate pela instalação da fábrica no município, não é?
- Ascânio quer ver Agreste prosperar. Para isso tem lutado como um herói.
Animam-se de malícia os olhos do velho, tão inocentes na aparência:
- Um herói? Pois esse herói é nosso homem, caro Josafá. Precisamos que ele nos faça saber, a nós e a mais ninguém, onde a fábrica vai-se localizar, o ponto exacto. Esse dado é de fundamental importância. Provavelmente… Provavelmente, não, certamente vamos ter de soltar uma boa grana na mão desse funcionário para ter a informação com exclusividade. Talvez até lhe dar uma comissão no negócio.
- O doutor está dizendo que a gente deve comprar a informação a Ascânio? Pagar para ele não dizer aos outros?
- Acho que falei em português, meu filho.
- Negativo, doutor. Ascânio não é homem disso. A informação, eu penso que a podemos obter sem gastar um centavo, é só perguntar a ele. Mas conseguir que diga somente a nós, sonegar dos outros, por dinheiro, nem pensar. Se a gente propusesse, ele ia se ofender, seria pior.
Os olhos tranquilos e cansados do advogado consideram o constituinte quase com piedade:
- Você nem parece um homem que vive no sul, meu caro Josafá.
- Ascânio é homem de bem, doutor.
- Como é que sabe? Em que se baseia para afirmar com tanta segurança?
Tendo saído de Agreste há muitos anos, como se atreve a garantir pela honestidade de pessoas que mal conhece? Para você, todo mundo em Agreste é incorruptível. O tabelião, esse rapaz…Como você sabe?
- Bem, venho aqui todos os anos ver o velho, ouço o que o povo diz. Nunca escutei a menor alusão à honra de Ascânio.
- Examinemos os factos, são eles que contam. Estamos diante de um indivíduo que está fazendo o jogo da Brastânio, um jogo sujo, meu bom amigo. E que, ainda por cima, pretende dar o golpe do baú numa paulista rica. Para exemplo de honestidade não me parece o melhor.
- Mas… Ele deseja o progresso…
- Vamos acreditar que tenha sido assim, que ele fosse muito honesto como o povo diz e você repete. É até possível. Mas meu filho no momento em que se meteu nesse assunto, mesmo sem querer, ele mandou a honestidade pra cucuia. Mesmo que ele fosse de aço, enferrujava, sendo de carne e sangue, apodrece. Quanto você imagina que a Brastânio está pagando a ele? Se fosse um dinheirinho ele podia recusar. Mas se trata de dinheiro grosso, meu caro, grossíssimo. Apresente-me a esse Ascânio, eu sondo o bicho com jeito e agirei em consequência.
- Ascânio está na Bahia. Foi tratar dessa história da fábrica, os homens mandaram um jipe buscar ele.
- Que homens?
- Um chefão da Brastânio. Me disseram também que foi ver se o Tribunal marca logo as eleições. É o que ouvi falar na rua.
- Ora aí está, tudo claro como água e você a querer me vender o homem como o rei da honestidade! O indivíduo viaja a chamado da Brastânio que com certeza está mexendo os pauzinhos para fazer dele Prefeito e você a dizer que o fulano não come bola. Ora, seu Josafá…
Abalado com a argumentação do advogado, Josafá reflecte e admite:
- Pensando bem, talvez o doutor tenha razão: debaixo da capa de honesto, o cara está se enchendo. Me lembro de ter lido num jornal que os donos da Brastânio estavam tratando de apressar a eleição. Vai ver…
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