sexta-feira, setembro 04, 2009


TIETA DO AGRESTE
EPISÓDIO Nº 224





Mas ele próprio perguntou:

- Não vejo aqui a assinatura de dona Antonieta Cantarelli. A assinatura dela deve abrir a lista, se o Comandante deseja que o povo assine.

Barbozinha compõe poema sobre poema, já possui matéria para um livro que pretende publicar, os Poemas da Maldição, escreve cartas a Giovanni Guimarães mas como colector de assinaturas é um fracasso. Em troca, dona Milú é de rara eficiência, até agora é seu o recorde da colecta. Imprevisto aliado, Osnar, de tocaia no botequim, faz um esforço. Tudo isso soma apenas cento e dezasseis nomes, trinta e sete obtidos por dona Milú. Para os mil previstos, uma derrota. O Comandante balança a cabeça, preocupado.

- Minha boa Carmosina, não sei, não… Ou Tieta se decide a tomar a frente ou não iremos muito além disso. Volto amanhã para Mangue Seco, vou tentar convencê-la a vir nos ajudar. Não vai ser fácil: o curral está pronto, ela quer gozar um pouco da casa que lhe deu tanto trabalho e custou um bom dinheiro. Inclusive me encarregou de levar a enteada comigo. Me toco com Laura e Leonora amanhã cedo, vou suplicar a Tieta que venha nem que seja por uns dias e diga a todo o mundo, espalhe pela cidade inteira, que é contra a fábrica, que se a Brastânio se instalar em Mangue Seco nunca mais porá os pés aqui.

Dona Carmosina concorda, o sucesso da campanha depende de Tieta:

- Domingo apareço por lá para reforçar o seu pedido. Penso que entre nós dois vamos conseguir.

É lamentável. Com tanto advogado aqui, o cartório cheio de gente, toda a gente julga que se vai fartar de dinheiro com a Brastânio. Até em Rocinha o preço da terra subiu, imagine.

- Estive matutando nessa história dos advogados e dos herdeiros do coqueiral e cheguei à conclusão que tem um lado bom: enquanto eles brigam, a fábrica não tem onde se instalar. Até que o caso se resolva…

- Não se iluda, minha boa Carmosina. Esses advogados vão entrar logo em acordo, logo vai ver. Os herdeiros se unem e encarregam Modesto Pires, que é o mais sabido de todos os que estão metidos nisso, de negociar a venda do coqueiral à Brastânio. E não podemos fazer nada…

- Nesse caso, nem Tieta.

Mostra-se, à porta da agência, a figura bisonha de Fidélio. A ele, nem tinham pedido para assinar o memorial, pois o sabem um dos herdeiros das terras onde a Companhia Brasileira de Titânio S.A. cogita instalar a sua indústria, um dos que tem possibilidade real de ganhar dinheiro.

- Boa tarde, dona Carmosina. Boa tarde, Comandante. Queria trocar umas palavras com o senhor.

- Se é particular, vou lá para dentro – declara Carmosina, morta de curiosidade.

- Que é particular, é, mas não para a senhora – Devia ter pedido a Aminthas para acompanhá-lo. Calado de natureza, como há de se arranjar para expor assunto tão delicado? Não vá o Comandante se ofender: - É sobre essa história do coqueiral em que estou metido, sou um dos herdeiros, penso que o senhor sabe.

Curva-se dona Carmosina no balcão, para ouvir melhor.

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