domingo, novembro 22, 2009


Drª RITA LEVI
MONTALCINI


Presidente Honorária da Associação Italiana de Esclerose Múltipla



NOTÁVEL ENTREVISTA





A italiana neurologista, Drª Rita Levi – Montalcini, que completou 100 anos no dia 22 de Abril de 2009, recebeu o Prémio Nobel da Medicina há 23 anos, quando tinha 77.

Nasceu em Turim, Itália, em 1909 e obteve o título de médica na especialidade de Neurocirurgia.

Por causa da sua ascendência judia viu-se obrigada a deixar a Itália um pouco antes do começo da 2ª G.G.

Emigrou para os E.U.A. onde trabalhou no Laboratório Victor Hambuerger do Instituto de Zoologia da Universidade de Washington de Sant Louis.

- Como vai celebrar os seus 100 anos?

- Ah, não sei se viverei até lá, e, além disso, não gosto de celebrações. No que estou interessada é naquilo que faço todos os dias.

- E o que faz?

- Trabalho para dar uma bolsa de estudos para as meninas africanas para que estudem e prosperem… elas e os seus países. E eu continuo investigando, continuo pensando.

- Não se vai aposentar?

- Jamais! Aposentar é destruir o cérebro. Muita gente se aposenta e se abandona… e isso mata seus cérebros e adoecem.

- E como está seu cérebro?

- Igual a quando tinha 20 anos! Não noto diferença em ilusões nem em capacidades. Amanhã vou para um Congresso Médico.

- Mas terá algum limite genético?

- Não. Meu cérebro vai ter um século… mas não conhece a senilidade… o corpo se enruga, não posso evitar, mas não o cérebro!

- Como é que faz isso?

- Possuímos grande plasticidade neural: quando morrem neurónios, os outros se reorganizam para manter as mesmas funções, mas para isso é preciso estimulá-los.

- Ajude-me a fazê-lo.

- Mantenha seu cérebro com ilusões, activo, faça com que ele trabalhe e ele nunca se degenerá.

- E viverei mais anos?

- Viverá melhor os anos que viver, é isso o interessante. A chave é manter curiosidades, empenho, ter paixões… veja… não me refiro a paixões físicas especificamente…simplesmente tenha paixões.

- A sua foi a investigação científica…

- Sim e continua sendo.

- Descobriu como cresceu e se renovam as células do sistema nervoso…

- Sim, em 1942: dei o nome de Nerve Growth Factor (NGF, factor de crescimento nervoso), e durante quase meio século houve dúvidas, até que foi reconhecida a sua viabilidade em 1986, deram-me um prémio por isso.

- Como foi que uma garota italiana dos anos 20 se converteu em neurocientista?

- Desde menina que tive empenho em estudar. Meu pai queria ver-me bem casada, boa esposa, boa mãe… e eu não quis. Fui firme e confessei que queria estudar.

- Seu pai ficou magoado?

-Sim, mas eu não tive uma infância feliz: sentia-me feia, tonta e pouca coisa… meus irmãos mais velhos eram brilhantes e eu sentia-me tão inferior…

- Vejo que isso foi um estímulo…

- Meu estímulo foi também o exemplo do médico Albert Schweitzer, que estava em África para ajudar na lepra. Desejava ajudar os que sofrem, esse era o meu grande sonho!

- E você o tem feito… com a sua ciência.

- E hoje, ajudando as meninas de África para que estudem. Lutamos contra as enfermidades, a opressão da mulher nos países islâmicos por exemplo, além de outras coisas…

- A religião trava o desenvolvimento cognitivo?

- A religião marginaliza muitas vezes a mulher perante o homem afastando-a do desenvolvimento cognitivo mas algumas religiões estão tentando corrigir essa posição.

- Existem diferenças entre o cérebro do homem e da mulher?

- Só nas funções cerebrais relacionadas com as emoções vinculadas ao sistema endócrino. Mas quanto às funções cognitivas, não tem qualquer diferença.

- Por que existem ainda poucas cientistas?

- Não é assim! Muitas descobertas científicas atribuídas a homens foram, na realidade, feitas por irmãs, esposas ou filhas.

- É verdade?

- A inteligência feminina não era admitida e, por isso, deixada na sombra. Hoje, felizmente tem mais mulheres que homens na investigação científica: as herdeiras de Hipátia!

- A sábia Alexandrina do Sec. IV…

- Já não vamos acabar assassinadas nas ruas pelos monges cristãos misóginos, como ela foi. Claro, o mundo tem mudado alguma coisa…

- Ninguém tentou assassiná-la…

- Durante o fascismo, Mussolini quis imitar Hitler na perseguição aos judeus e eu tive de esconder-me por uns tempos. Não deixei de investigar: tinha o laboratório no meu quarto… e descobri a apoptose, que é a morte programada das células!

- Por que tem uma alta percentagem de judeus entre cientistas e intelectuais?

A exclusão estimula entre os judeus os trabalhos intelectuais: podem proibir tudo menos o pensamento! E é verdade que tem muitos judeus entre os Prémios Nobel…

- Como explica a loucura nazi?

- Hitler e Mussolini souberam falar ao povo, onde prevalece o cérebro emocional sobre o neocortical, o intelectual. Conduziram emoções, não razões!

- Isso está acontecendo agora?

- Por que acha você que em muitas escolas nos E.U.A. é ensinado o Criacionismo e não o Evolucionismo?

- A ideologia é emoção sem razão?

- A razão é filha da imperfeição. Nos invertebrados tudo está programado: são perfeitos. Nós não. E ao sermos imperfeitos temos que recorrer à razão, aos valores éticos: distinguir entre o bem e o mal é o mais alto grau da evolução Darwiniana!

- Você nunca se casou ou teve filhos?

- Não, entrei no campo do sistema nervoso e fiquei tão fascinada pela sua beleza que decidi dedicar-lhe todo o meu tempo, toda a minha vida!

- Conseguiremos algum dia curar a o Alzheimer, o Parkiinson, a demência senil?

- Curar… O que vamos conseguir é travar, atrasar, minimizar todas essas enfermidades.

- Qual é hoje o seu grande sonho?

- Que consigamos um dia utilizar ao máximo a capacidade cognitiva dos nossos cérebros.

- Quando é que deixou de se sentir feia?

- Ainda estou consciente das minhas limitações!

- O que tem sido o melhor da sua vida?

- Ajudar os demais.

- O que faria hoje se tivesse 20 anos?

- Mas eu estou fazendo!!!



A Drª Levi - Montalcini é, desde 2001, Senadora Vitalícia da República Italiana, nomeada directamente pelo Presidente Carlo Azeglio Ciampi.

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