segunda-feira, março 01, 2010


A ILHA da
MADEIRA


No Rescaldo do Desastre






Contados os mortos - 42 mais 8 desaparecidos - calculados os prejuízos materiais e os respectvos apoios financeiros no montante de 1.400 milhões de euros, feitas as pazes entre o Dr. Alberto João e o Eng. José Sócrates, é a altura de uma reflexão.

Desculpem, mas o que aconteceu não foi, em grande medida, uma questão de desrespeito pela natureza. O que aconteceu na Ilha da Madeira, na componente de mortos, feridos, desaparecidos e avultados prejuízos materiais, foi uma questão de falta de respeito pelas pessoas.

A ganância, a vaidade, a procura de prestígio a qualquer preço, ditaram as decisões que estiveram na base de muitas das perdas humanas e materiais. Alguém se lembrou de perguntar por que razão a zona onde estão instalados os Hotéis nada sofreu e o seu funcionamento tão pouco foi interrompido?

A ilha da Madeira é um local de risco para se viver, especialmente na parte mais ocidental onde as vertentes da montanha mais se aguçam e por razões que os especialistas sabem explicar: maior queda de chuvas com a tendência para ser muita e em pequenos períodos de tempo num terreno com elevado grau de inclinação.

Era, portanto, do mais elementar bom senso que os vales que trazem até ao mar, numa distância relativamente curta, a água e todos os detritos que ela arrasta estivessem livres e completamente desimpedidos.

Ora, eu não acredito que os responsáveis da Madeira não possuam esse senso: vivem lá, conhecem a sua terra e o seu passado histórico, as grandes chuvadas sempre aconteceram estando registadas no papel ou na memória dos homens e não se pode falar em surpresa apenas porque elas não caem todos anos com aquela intensidade… surpresa era se assim fosse!

As decisões foram conscientes e deliberadas, decisões de risco, alto risco, muito à portuguesa, levadas a cabo por políticos ambiciosos que vivem inebriados de si próprios e se justificam em altos berros com as grandes vantagens do desenvolvimento económico produzido pelas receitas dos turistas.

De resto, tudo foi feito a pensar nesses senhores, ou melhor, no seu dinheiro e por isso, se um hospital, as instalações dos bombeiros ou de um grupo de futebol “atrapalham”, atiram-se com elas para o local das ribeiras e leitos de cheia porque, bem vistas as coisas, também já não há mais locais disponíveis…

As construções que estavam autorizadas até aos quinhentos metros de altitude já vão nos seiscentos porque é preciso agradar ao povo e o “grande chefe” espera os seus votos no dia das eleições.

Tudo isto obedece a uma estratégia de obtenção de dinheiro sem se respeitar os limites de segurança das vidas da população madeirense.

O Dr. Alberto João dirá que em todo o lado morrem pessoas vítimas de desastres naturais mas o que ele não diz é que era e é da sua estrita obrigação minimizar o número de vítimas dessas calamidades através de medidas que há anos lhe vêm sendo recomendadas e que ele olímpicamente desprezou.

O povo da Madeira, o mesmo que não deixa entrar nas igrejas o antúrio por considerar aquela flor símbolo de erotismo e pecado, confia cegamente nele. As maiorias absolutas obtidas em todas as eleições comprovam-no de forma indiscutível e afirmam-no como o líder que pensa e decide por eles…

O Chile não pode evitar os terramotos mas as regras anti-sísmicas impostas para a construção dos prédios permitiu que o número de vítimas deste último abalo, o maior de sempre, se contem por muitas centenas e não por muitos milhares. Esta, a grande diferença entre aquilo que o homem pode fazer para minimizar as vítimas de terramotos em centros urbanos e a outra que é ignorar essas medidas nas construções das casas e permitir que elas se construam como no Haiti.

É da responsabilidade das autoridades impor essas regras como obrigatórias como acontece, de resto, também no Japão onde os sismos são frequentes.

O que não se compreende é que na ilha da Madeira não só se tenha autorizado a construção de casas de habitação em locais de cheia, como o próprio governo edificou Serviços Públicos em ribeiras e alterou, estreitando, as linhas do relevo por onde deveria correr a água e os detritos demolidores no caso de grandes precipitações como aquela que ocorreu.

Resta aos madeirenses promoverem louvores à Virgem e Santos devotos, não que eles interfiram no número das vítimas, embora se diga que essas coisas do tempo têm a ver com o São Pedro… mas sempre consolam os espíritos devotos daqueles que cá ficaram para chorarem os que partiram.

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