DONA
FLOR
E SEUS
DOIS
MARIDOS
No círculo das amigas em mofa e comentários sobre a gulodice de alguns convivas, dona Flor restabeleceu-se do choque, do sorriso de motejo, das palavras de escárnio do atrevido. Um cínico a convidá-la para ver o luar em noite negra como breu. Aos poucos foi participando da conversa, divertindo-se com as observações de dona Amélia e de dona Êmina. Dona Maria do Carmo nunca vira antes seu Sampaio em acção num almoço ou num jantar. Ficara aparvalhada.
Quando a conversa ia mais ruidosa e alegre, eis que o persistente galã san-franciscano surge outra vez, de braço dado com sua cunhada dona Enaide, a perguntar enxerido:
- Tem lugar para dois? Ou a conversa é proibida para homens?
- Vão se abancando…
Dona Flor não tomou conhecimento da presença do notário, o qual, no entanto, pouco depois já estava a ler a mão de dona Amélia, fazendo-as rir com suas pilhérias. Era espirituoso o tipo, a própria dona Flor sorriu uma ou duas vezes de suas graças. Anunciou viagens e riquezas para dona Amélia. Depois foi a vez de dona Êmina. Muito grave, lhe prometeu mais um filho, para breve.
- T’ esconjuro… Não bastou com Aninha, tão fora de tempo?... Vá azarar outro…
- Dessa vez vai ser menino… Não erro nunca…
Após a leitura da mão de dona Êmina, pôs os olhos em dona Flor, como se nada houvesse decorrido antes; olhos a despi-la novamente, passando ao mesmo tempo a ponta da língua nos lábios, num gesto tão descarado que ela sentiu seu coração parar; até onde pensava ir aquele tipo? Felizmente as demais não se deram conta. Estendendo a mão para segurar a de dona Flor, ele disse:
- Chegou a sua vez…
- Não quero saber disso. Tudo tolice…
Mas as demais exigiram entre gargalhadas. Que iriam pensar se ela persistisse em sua recusa? Seria pior. Numa decisão, concordou. Sorriu vitorioso doutor Aluísio, o especialista da alma feminina: nunca se enganava.
Colocou sobre a sua a mão esquerda de dona Flor, com a palma voltada para cima. Com o dedo de unha bem tratada ia marcando as linhas reveladoras, numa cócega distante e subtil, dona Flor rígida e tensa.
- Excelente linha de vida… Vai viver mais de oitenta anos… - ficava um segundo em silêncio, como a examinar atentamente a mão da viúva – Vejo grandes novidades…
FLOR
E SEUS
DOIS
MARIDOS
EPISÓDIO Nº 156
No círculo das amigas em mofa e comentários sobre a gulodice de alguns convivas, dona Flor restabeleceu-se do choque, do sorriso de motejo, das palavras de escárnio do atrevido. Um cínico a convidá-la para ver o luar em noite negra como breu. Aos poucos foi participando da conversa, divertindo-se com as observações de dona Amélia e de dona Êmina. Dona Maria do Carmo nunca vira antes seu Sampaio em acção num almoço ou num jantar. Ficara aparvalhada.
Quando a conversa ia mais ruidosa e alegre, eis que o persistente galã san-franciscano surge outra vez, de braço dado com sua cunhada dona Enaide, a perguntar enxerido:
- Tem lugar para dois? Ou a conversa é proibida para homens?
- Vão se abancando…
Dona Flor não tomou conhecimento da presença do notário, o qual, no entanto, pouco depois já estava a ler a mão de dona Amélia, fazendo-as rir com suas pilhérias. Era espirituoso o tipo, a própria dona Flor sorriu uma ou duas vezes de suas graças. Anunciou viagens e riquezas para dona Amélia. Depois foi a vez de dona Êmina. Muito grave, lhe prometeu mais um filho, para breve.
- T’ esconjuro… Não bastou com Aninha, tão fora de tempo?... Vá azarar outro…
- Dessa vez vai ser menino… Não erro nunca…
Após a leitura da mão de dona Êmina, pôs os olhos em dona Flor, como se nada houvesse decorrido antes; olhos a despi-la novamente, passando ao mesmo tempo a ponta da língua nos lábios, num gesto tão descarado que ela sentiu seu coração parar; até onde pensava ir aquele tipo? Felizmente as demais não se deram conta. Estendendo a mão para segurar a de dona Flor, ele disse:
- Chegou a sua vez…
- Não quero saber disso. Tudo tolice…
Mas as demais exigiram entre gargalhadas. Que iriam pensar se ela persistisse em sua recusa? Seria pior. Numa decisão, concordou. Sorriu vitorioso doutor Aluísio, o especialista da alma feminina: nunca se enganava.
Colocou sobre a sua a mão esquerda de dona Flor, com a palma voltada para cima. Com o dedo de unha bem tratada ia marcando as linhas reveladoras, numa cócega distante e subtil, dona Flor rígida e tensa.
- Excelente linha de vida… Vai viver mais de oitenta anos… - ficava um segundo em silêncio, como a examinar atentamente a mão da viúva – Vejo grandes novidades…
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