segunda-feira, janeiro 17, 2011

TEREZA

BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA


Episódio Nº 6


Os fregueses tinham feito um círculo em torno da pista para melhor apreciar o empolgante espectáculo. A causa de tudo, ou seja a bisonha rapariga, acompanha os lances, de longe, sem saber com quem partirá.

Chegado já em meio ao cu-de-boi, um caboclo zarro, os músculos queimados do sol, a pele curtida aos ventos do mar, após assistir alguns lances, comentou para todos:

- Virgem Nossa Senhora, mulher mais boa de briga do que essa aí não vi até hoje.

Nessa hora, apareceram na sala, atraídos pelo barulho, dois guardas-civis; certamente reconheceram Libório e seus acompanhantes, pois, levantando os cassetetes partiram para Tereza com evidente disposição de lhe ensinar com quantos paus se faz uma cangalha.

- Lá vou eu, Iansã! – o caboclo lança seu grito de guerra e não se soube o porquê de Iansã: se o disse na intenção de Tereza, de designá-la com o nome do orixá sem temor, de todos o mais valente, ou se apenas quis informar o encantado da entrada na briga de mestre Januário Gereba, seu ogan no candomblé do Bogun.

Entrada bonita, pois voaram os dois guardas, um para cada lado. Em seguida o caboclo impede que um dos sequazes do galalau esfregue a sola do sapato na cara do poeta José Saraiva, peito fraco, indómito coração, estendido sem fala na arena. É um temporal o caboclo, um pé-de-vento, levanta o poeta e o prossegue. Retornam os guardas também.

Um dos companheiros do cafageste puxa do revólver, ameaçando atirar, as luzes se apagam. A última imagem a ser vista foi Lulu Santos, equilibrado numa só muleta, charuto na boca, girando a outra como um molinete. Já no escuro, ouve-se o berro do corno Libório, Tereza acertara-lhe o pé onde devido.

Estreia não houve naquela noite, conforme se vê, ao menos estreia da rainha baiana do samba, mas nem por isso foi menos memorável e inesquecível a primeira aparição pública de Tereza nas pistas de Aracajú. O cirurgião-dentista Jamil Najal, o tal da aposta dos vinte cruzeiros, nada lhe quis cobrar pelo dente de ouro, com a máxima perícia colocado na parte de cima, no lado esquerdo da boca de Tereza Batista onde a soqueira de ferro rompera o lábio. Se fosse pedir pagamento, ah! não seria em dinheiro
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