segunda-feira, março 28, 2011

TEREZA

BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA

Episódio Nº 66


Além do Porco e do Lobisomem, existiam vários outros personagens igualmente assustadores, dona Brígida não consegue retê-los a todos na cabeça confusa, mas apenas um deles surge na roça, mercadejando carne ou carniça, de imediato o reconhece. Mercadora de carniça é a Mula-Sem-Cabeça, por exemplo. A Mula-Sem-Cabeça pode travestir-se em dama nobre, boa madrinha ou cortesã, nunca mais enganará dona Brígida.
Quando ela apareceu na cancela pela primeira vez, uns dez dias após o enterro de Dóris, quem atendeu e lhe fez sala foi dona Brígida, o capitão saíra a cavalo para um desafio de galos.

A rapariga pela mão, apresentou-se dona Gabi, madrinha e protectora; a mocinha, o senhor capitão a encomendara para ajudar no trato da órfã, era boazinha mesmo. Dona Gabi tinha maneiras distintas, conversa agradável, velhota de fina educação, melhor não se podia desejar para visita de pêsames, foi de muito consolo para a mãe desfeita.

Trocando confidências quase íntimas, nem se deram conta do regresso do capitão.

Na porta da sala apontando-as com o dedo grosso, sacudiu-se Justiniano Duarte da Rosa em frouxos de riso cada vez maiores, logo gargalhadas sem fim, a barriga tremelicando; homem de pouco rir, quando o capitão Justo ria dessa maneira, não era agradável de ver-se.
Queria falar e não podia, as palavras enroladas no riso: - Amigas, amigonas, quem houvera de dizer? Dona Gabi levantava-se encabulada, sem jeito, numa desculpa:

- Aproveitei para dar os pêsames. – Despedia-se: - Adeus siá dona. Tinha pressa em deixar a sala, puxava a mocinha pela mão, mas o capitão a deteve:

- Para onde vai, pode falar aqui mesmo. - Aqui? Não é melhor… - Aqui mesmo. Desembuche.

- Pois arrumei esta bichinha, pode ajudar na criação da menina…

– Olhou para dona Brígida, a viúva enxugava as lágrimas obrigatórias na aceitação das condolências; a casteleira baixou a voz:

- Para o principal é papa fina… O capitão continha o riso com dificuldade, Gabi não sabia se devia rir de medo ou chorar de compaixão.

- Hoje tiro a limpo; se valer a pena, amanhã passo por lá e lhe pago o prometido.

- Por favor, capitão, me dê um pedaço hoje. Estou necessitada, tenho de pagar a portadora, veio de longe.

- Dinheiro meu adiantado você não há-de ver nem hoje nem nunca. Já se esqueceu ou quer que eu lhe lembre?

Pago amanhã se tiver o que pagar. Se quiser, pode vir receber aqui. Assim faz companhia à minha sogra; companhia à minha sogra, ah! essa é boa… Novamente rebolava-se a rir, Gabi suplicante:

- Me pague alguma coisa hoje, capitão, por favor. - Venha amanhã de manhã. Se for cabaço, pago na tampa. Mas, se não for, lhe aconselho a não aparecer por aqui… (clik e aumente a imagem)

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