HOJE É
DOMINGO
(Da minha cidade de Santarém)
De novo sentado à mesa do meu Café nesta manhã de Domingo, abstraído do ruído da restante clientela, olho para o jornal aberto na minha frente e leio que “os portugueses estão cada vez menos confiantes quer em relação à situação económica do País quer à sua própria situação”, segundo apurou o prestigiado Barómetro da Marktest, nunca esses valores foram tão baixos.
Sinceramente, não esperava diferente: uma população extremamente envelhecida, dependente de reformas e pensões cujos valores não sabem quanto irão baixar ou, sei lá, mesmo pior se a Europa não se concertar em emprestar-nos dinheiro;
A mais baixa taxa de natalidade, a maior taxa de desemprego dos últimos 90 anos, a segunda maior vaga emigratória dos últimos 160 anos;
A produtividade e o PIB a crescerem à taxa de 0%, a taxa de poupança mais baixa dos últimos 50 anos e a maior dívida pública dos últimos 120 quando, em 1891, tivemos de declarar a bancarrota.
Em 1983 solicitámos a intervenção do FMI que nos disponibilizou 650 milhões de dólares… Hoje estamos a discutir um resgate até 100.000 milhões!!!
As famílias estão apreensivas, desconhecendo até onde poderão continuar a funcionar como “almofada” de apoio à geração dos filhos e dos netos.
Claro que, nesta situação e com estas perspectivas, os valores registados pela Marktest só podem ser os piores de sempre.
Por outro lado, o momento político também não podia ser pior. A disputa do poder nas eleições que estão aí à porta têm levado os políticos a acusarem-se mutuamente da responsabilidade da crise.
Os homens da “Troika” fazem a avaliação das nossas Contas, tintin por tintin, mergulhados nos papéis, nos mapas, nos relatórios, ouvindo, escutando, enquanto o governo manda tudo para férias da Páscoa…
Provavelmente, na maioria das cabeças dos cidadãos, governarem uns ou outros já não é o mais importante, confrontados e preocupados que estão com o seu futuro imediato desejariam mesmo era vê-los concertados, humildes, com sentido de responsabilidade, na posição correcta de quem estende a mão…
Em 1983, Ernâni Lopes, Ministro das Finanças e do Plano e o seu Secretário do Tesouro, António de Almeida, no regresso de uma deslocação a Washington de conversações com o FMI, tiveram de fazer escala e pernoitar em Nova York. A situação do país era grave e o Ministro mandou reservar no Hotel apenas um quarto para os dois, adiantando para Secretário do Tesouro:
- “António, é preciso austeridade”…
Este tipo de pessoas despertam-me uma enorme saudade… recordo-o de São Martinho do Porto – onde ele tinha casa e eu passava férias no Parque de Campismo - do alto do seu cachimbo, passeando na marginal.
Penso nas pessoas de mais baixos rendimentos, nos que ficaram sem rendimento algum, e torna-se evidente que a nossa sociedade nunca se apresentou tão perigosa e estranhamente desequilibrada como hoje, quando oiço os valores das remunerações dos gestores de certas empresas, GALP, EDP, PT, etc… a ultrapassarem em muito o milhão de euros anual e, pior ainda, quando se pretende fazer passar a ideia de que nada há de mal nesses valores e que devíamos até estar agradecidos a essas pessoas que gerem empresas criando riqueza e postos de trabalho…
Continuo a ler as notícias do jornal e, para meu espanto, verifico que Barack Obama teve de mandar publicar a sua Certidão de Nascimento para desfazer dúvidas de que é mesmo um cidadão americano, nascido no Havai, filho de mãe americana e de um queniano… vejam lá!...Afinal foi só há 43 anos, a 4 de Abril de 1968, que Martin Luther King, com 39 anos de idade, foi assassinado por ódios raciais. Pressentindo a sua morte, King, poucos dias antes, pedia aos seus seguidores:
- “ No meu elogio fúnebre, que não deve ser demorado, não mencionem o facto de eu ter ganho o Prémio Nobel da Paz além de 300 ou 400 Condecorações. Digam antes: Martin Luther King procurou praticar o amor e servir a humanidade.”
Mas a vida vai continuar… talvez tenhamos que rectificar algumas “coisitas”, descobrir outras…umas aprendem-se a bem, por nós próprios, outras a “mal”, impostas. Foi sempre assim na história das sociedades e também nas nossas vidas… vencer a inércia para mudar atitudes pode ser doloroso mas muito importante para o nosso futuro colectivo. No próximo Domingo já saberemos.
Bom Domingo a todos.
DOMINGO
(Da minha cidade de Santarém)
De novo sentado à mesa do meu Café nesta manhã de Domingo, abstraído do ruído da restante clientela, olho para o jornal aberto na minha frente e leio que “os portugueses estão cada vez menos confiantes quer em relação à situação económica do País quer à sua própria situação”, segundo apurou o prestigiado Barómetro da Marktest, nunca esses valores foram tão baixos.
Sinceramente, não esperava diferente: uma população extremamente envelhecida, dependente de reformas e pensões cujos valores não sabem quanto irão baixar ou, sei lá, mesmo pior se a Europa não se concertar em emprestar-nos dinheiro;
A mais baixa taxa de natalidade, a maior taxa de desemprego dos últimos 90 anos, a segunda maior vaga emigratória dos últimos 160 anos;
A produtividade e o PIB a crescerem à taxa de 0%, a taxa de poupança mais baixa dos últimos 50 anos e a maior dívida pública dos últimos 120 quando, em 1891, tivemos de declarar a bancarrota.
Em 1983 solicitámos a intervenção do FMI que nos disponibilizou 650 milhões de dólares… Hoje estamos a discutir um resgate até 100.000 milhões!!!
As famílias estão apreensivas, desconhecendo até onde poderão continuar a funcionar como “almofada” de apoio à geração dos filhos e dos netos.
Claro que, nesta situação e com estas perspectivas, os valores registados pela Marktest só podem ser os piores de sempre.
Por outro lado, o momento político também não podia ser pior. A disputa do poder nas eleições que estão aí à porta têm levado os políticos a acusarem-se mutuamente da responsabilidade da crise.
Os homens da “Troika” fazem a avaliação das nossas Contas, tintin por tintin, mergulhados nos papéis, nos mapas, nos relatórios, ouvindo, escutando, enquanto o governo manda tudo para férias da Páscoa…
Provavelmente, na maioria das cabeças dos cidadãos, governarem uns ou outros já não é o mais importante, confrontados e preocupados que estão com o seu futuro imediato desejariam mesmo era vê-los concertados, humildes, com sentido de responsabilidade, na posição correcta de quem estende a mão…
Em 1983, Ernâni Lopes, Ministro das Finanças e do Plano e o seu Secretário do Tesouro, António de Almeida, no regresso de uma deslocação a Washington de conversações com o FMI, tiveram de fazer escala e pernoitar em Nova York. A situação do país era grave e o Ministro mandou reservar no Hotel apenas um quarto para os dois, adiantando para Secretário do Tesouro:
- “António, é preciso austeridade”…
Este tipo de pessoas despertam-me uma enorme saudade… recordo-o de São Martinho do Porto – onde ele tinha casa e eu passava férias no Parque de Campismo - do alto do seu cachimbo, passeando na marginal.
Penso nas pessoas de mais baixos rendimentos, nos que ficaram sem rendimento algum, e torna-se evidente que a nossa sociedade nunca se apresentou tão perigosa e estranhamente desequilibrada como hoje, quando oiço os valores das remunerações dos gestores de certas empresas, GALP, EDP, PT, etc… a ultrapassarem em muito o milhão de euros anual e, pior ainda, quando se pretende fazer passar a ideia de que nada há de mal nesses valores e que devíamos até estar agradecidos a essas pessoas que gerem empresas criando riqueza e postos de trabalho…
Continuo a ler as notícias do jornal e, para meu espanto, verifico que Barack Obama teve de mandar publicar a sua Certidão de Nascimento para desfazer dúvidas de que é mesmo um cidadão americano, nascido no Havai, filho de mãe americana e de um queniano… vejam lá!...Afinal foi só há 43 anos, a 4 de Abril de 1968, que Martin Luther King, com 39 anos de idade, foi assassinado por ódios raciais. Pressentindo a sua morte, King, poucos dias antes, pedia aos seus seguidores:
- “ No meu elogio fúnebre, que não deve ser demorado, não mencionem o facto de eu ter ganho o Prémio Nobel da Paz além de 300 ou 400 Condecorações. Digam antes: Martin Luther King procurou praticar o amor e servir a humanidade.”
Mas a vida vai continuar… talvez tenhamos que rectificar algumas “coisitas”, descobrir outras…umas aprendem-se a bem, por nós próprios, outras a “mal”, impostas. Foi sempre assim na história das sociedades e também nas nossas vidas… vencer a inércia para mudar atitudes pode ser doloroso mas muito importante para o nosso futuro colectivo. No próximo Domingo já saberemos.
Bom Domingo a todos.
(imagem do rio Tejo em período de cheias)
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