TEREZA
BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA
Episódio Nº 128
Nem Daniel nem ninguém percebeu quando, pouco antes das badaladas do sino, às nove da noite, no salão ás escuras, Berta, a mais feia das quatro, trouxe Magda, a irmã mais velha, para a fresta da Janela e juntas postaram-se na tocaia:
- Lá vem ele, veja – disse Berta, e ela sabia de líquida certeza porque apenas o pressentia lhe entrava um frio por baixo, urgência de fazer pipi.
Escondidas atrás da janela, acompanharam o vulto rua a fora, viram-no dobrar a esquina, escutaram os passos abafados e distantes no beco.
- Chegou no portão, deve estar entrando.
Magda era carne de pescoço; convicta da responsabilidade de primogénita, velou até de madrugada e o reconheceu belo e contente na barra da manhã voltando da noite de Tereza. O infame usara as quatro irmãs como para-vento; sólida, ideal cobertura a esconder de Justiniano Duarte da Rosa e da cidade aquele imundo bacanal com a moleca do armazém, rapariga do fátuo capitão: “Nenhuma se atrevera jamais a me enganar”.
Naturalmente o canalha comprara por qualquer dez reis de cachaça a cumplicidade de Chico Meia Sola – só um primata como Justiniano pode confiar bens e mulher a um bandido a soldo – e para garantir completa imunidade, abusara da boa-fé, da amizade, dos sentimentos, da mesa farta (ainda mais farta para recebê-lo das quatro irmãs, Magda, Amália, Berta, Teodora, as quatro na boca do mundo, na tesoura das comadres, e a moleca na cama, de grande.
No colégio Magda ganhara prémios de caligrafia, mas para certo tipo de correspondência prefere usar letra de imprensa, seguindo o atinado conselho de dona Ponciana de Azevedo. No rumoroso incidente, obteve apenas uma alegria de solteirona – poder escrever aquelas palavras malditas, de uso proibido às moças e senhoras distintas: corno, cabrão, chifrudo, gigolô de merda, a puta da moleca, ah, a puta da moleca!
43
Tereza era após a escalada do céu. Fumando um cigarro, Daniel pensa na melhor maneira de lhe anunciar a iminente partida para a Bahia, para a Faculdade e os cabarés, os colegas de curso, os companheiros de boémia, as velhas senhoras, as românticas raparigas: “Depois mandarei lhe buscar, querida, não se apoquente, não chore, sobretudo não chore e não se lastime, assim chegue lá tomarei providências”.
Difícil quarto de hora a vencer, uma chatice. Daniel tem horror a cenas, rompimentos, despedidas, lamentos e choro.
Irá estragar a última noite, a não ser que lhe diga no derradeiro momento, de madrugada, no portão do quintal, após o beijo de lábios, línguas e dentes.
Mais aconselhável, talvez, deixar para o dia seguinte: aparecerá pela manhã no armazém para se despedir de todos juntos – chamado urgente, inapelável, da faculdade, se não atender perde o ano, tem de tomar o primeiro trem, mas a ausência será de pouca demora, uma semana no máximo.
Mas se Tereza, percebendo-se traída, inconformada, puser a boca no mundo e armar escândalo na presença de Chico Meia Sola e dos caixeiros? Qual a reacção do capanga fiel ao tomar conhecimento dos chifres postos no patrão e protector, praticamente na sua vista? Criminoso de morte, o próprio Chico contara a Daniel dever a comutação da pena a esforços e manobras do capitão. (clik na imagem e aumente)
- Lá vem ele, veja – disse Berta, e ela sabia de líquida certeza porque apenas o pressentia lhe entrava um frio por baixo, urgência de fazer pipi.
Escondidas atrás da janela, acompanharam o vulto rua a fora, viram-no dobrar a esquina, escutaram os passos abafados e distantes no beco.
- Chegou no portão, deve estar entrando.
Magda era carne de pescoço; convicta da responsabilidade de primogénita, velou até de madrugada e o reconheceu belo e contente na barra da manhã voltando da noite de Tereza. O infame usara as quatro irmãs como para-vento; sólida, ideal cobertura a esconder de Justiniano Duarte da Rosa e da cidade aquele imundo bacanal com a moleca do armazém, rapariga do fátuo capitão: “Nenhuma se atrevera jamais a me enganar”.
Naturalmente o canalha comprara por qualquer dez reis de cachaça a cumplicidade de Chico Meia Sola – só um primata como Justiniano pode confiar bens e mulher a um bandido a soldo – e para garantir completa imunidade, abusara da boa-fé, da amizade, dos sentimentos, da mesa farta (ainda mais farta para recebê-lo das quatro irmãs, Magda, Amália, Berta, Teodora, as quatro na boca do mundo, na tesoura das comadres, e a moleca na cama, de grande.
No colégio Magda ganhara prémios de caligrafia, mas para certo tipo de correspondência prefere usar letra de imprensa, seguindo o atinado conselho de dona Ponciana de Azevedo. No rumoroso incidente, obteve apenas uma alegria de solteirona – poder escrever aquelas palavras malditas, de uso proibido às moças e senhoras distintas: corno, cabrão, chifrudo, gigolô de merda, a puta da moleca, ah, a puta da moleca!
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Tereza era após a escalada do céu. Fumando um cigarro, Daniel pensa na melhor maneira de lhe anunciar a iminente partida para a Bahia, para a Faculdade e os cabarés, os colegas de curso, os companheiros de boémia, as velhas senhoras, as românticas raparigas: “Depois mandarei lhe buscar, querida, não se apoquente, não chore, sobretudo não chore e não se lastime, assim chegue lá tomarei providências”.
Difícil quarto de hora a vencer, uma chatice. Daniel tem horror a cenas, rompimentos, despedidas, lamentos e choro.
Irá estragar a última noite, a não ser que lhe diga no derradeiro momento, de madrugada, no portão do quintal, após o beijo de lábios, línguas e dentes.
Mais aconselhável, talvez, deixar para o dia seguinte: aparecerá pela manhã no armazém para se despedir de todos juntos – chamado urgente, inapelável, da faculdade, se não atender perde o ano, tem de tomar o primeiro trem, mas a ausência será de pouca demora, uma semana no máximo.
Mas se Tereza, percebendo-se traída, inconformada, puser a boca no mundo e armar escândalo na presença de Chico Meia Sola e dos caixeiros? Qual a reacção do capanga fiel ao tomar conhecimento dos chifres postos no patrão e protector, praticamente na sua vista? Criminoso de morte, o próprio Chico contara a Daniel dever a comutação da pena a esforços e manobras do capitão. (clik na imagem e aumente)
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