TEREZA
BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA
Episódio Nº 169
De raiva e inveja fez-se honesto, carga incómoda, capital de juro baixo. Do doutor Emiliano tinha medo e ódio, responsabilizando-o pela longa temporada a marcar passo em mísera pretoria: candidato a juiz de direito em Cajazeiras do Norte, onde a esposa herdara umas terras boas de gado, fora preterido em nome de reles advogado da capital, cujo único título era o de marido chifrudo de uma parenta dos Guedes. Já tinha sido lavrada a nomeação do doutor Pio quando Emiliano interveio, obtendo a designação do cornudo. Tempos depois e a muito custo conseguira a promoção a juiz de direito, servindo na comarca de Barracão mas sua meta continuava a ser Cajazeiras do Norte, de onde poderia administrar a fazendola, tornando-a lucrativa fonte de renda, talvez ampliá-la.
Ao ser enviado para substituir doutor Eustáquio no discutido processo, julgou chegado a doce hora da vingança: por seu gosto Daniel seria o acusado principal e não apenas cúmplice, mas, infelizmente, dura lex sed lex!, quem erguera a faca fora a moleca.
Atrás do juiz vem o escrivão, morto de curiosidade; com um gesto doutor Emiliano o despede, fica na sala a sós com o magistrado.
- Deseja falar comigo, doutor? Estou às ordens. – Esforça-se o juiz para manter-se grave e digno, mas o lábio se contrai num tique nervoso.
- Sente-se, vamos conversar – ordena Emiliano como se fosse ele o magistrado, a suprema autoridade ali, no Fórum.
O juiz vacila: onde sentar-se? Na alta cadeira de espaldar, posta em cima do estrado para marcar a hierarquia e impor respeito a todos os demais, colocando-se acima do doutor, em posição de briga? Falta-lhe coragem e senta-se junto à mesa. O doutor continua de pé, o olhar perdido fora da janela, e assim fala, a voz neutra:
- O doutor Lulu Santos trouxe-lhe um recado meu, o senhor não recebeu?
- O provisionado esteve comigo, arrazoou e eu o atendi mandando em liberdade a menor mantida presa pelo delegado. Ele assinou termo de responsabilidade.
- Será que ele não lhe deu todo o recado? Mandei-lhe dizer para arquivar o processo. Já o arquivou, juiz?
Acentua-se o tique no lábio do juiz, as cóleras do doutor são tão famosas, se bem raras. Busca forças na amargura:
- Arquivar? Impossível. Trata-se de crime de morte cometido na pessoa de importante cidadão desta comarca…
Importante? Um pulha. Impossível, porquê? Do processo consta um jovem estudante, meu aparentado,, filho do juiz Gomes Neto, dizem que o senhor exige sua pronúncia.
- Na qualidade de cúmplice… - baixa a voz – se bem, a meu ver, seja mais do que isso, seja co-autor do delito.
- Apesar de bacharel em Direito, não vim aqui como advogado nem tenho tempo a perder. Ouça, doutor: o senhor deve saber quem manda nesta terra, já tirou a prova antes. Disseram-me que ainda deseja ser juiz em Cajazeiras. Está em suas mãos, pois eu continuo a achar que Lulu não lhe deu todo o recado.
Lavre agora mesmo a sentença de arquivamento, duas linhas bastam. Mas se lhe dói a consciência, então eu lhe aconselho a voltar para Barracão o quanto antes, deixando o resto do processo para juiz à minha escolha e gosto. Está em suas mãos, decida. (clik na imagem e aumente)
Ao ser enviado para substituir doutor Eustáquio no discutido processo, julgou chegado a doce hora da vingança: por seu gosto Daniel seria o acusado principal e não apenas cúmplice, mas, infelizmente, dura lex sed lex!, quem erguera a faca fora a moleca.
Atrás do juiz vem o escrivão, morto de curiosidade; com um gesto doutor Emiliano o despede, fica na sala a sós com o magistrado.
- Deseja falar comigo, doutor? Estou às ordens. – Esforça-se o juiz para manter-se grave e digno, mas o lábio se contrai num tique nervoso.
- Sente-se, vamos conversar – ordena Emiliano como se fosse ele o magistrado, a suprema autoridade ali, no Fórum.
O juiz vacila: onde sentar-se? Na alta cadeira de espaldar, posta em cima do estrado para marcar a hierarquia e impor respeito a todos os demais, colocando-se acima do doutor, em posição de briga? Falta-lhe coragem e senta-se junto à mesa. O doutor continua de pé, o olhar perdido fora da janela, e assim fala, a voz neutra:
- O doutor Lulu Santos trouxe-lhe um recado meu, o senhor não recebeu?
- O provisionado esteve comigo, arrazoou e eu o atendi mandando em liberdade a menor mantida presa pelo delegado. Ele assinou termo de responsabilidade.
- Será que ele não lhe deu todo o recado? Mandei-lhe dizer para arquivar o processo. Já o arquivou, juiz?
Acentua-se o tique no lábio do juiz, as cóleras do doutor são tão famosas, se bem raras. Busca forças na amargura:
- Arquivar? Impossível. Trata-se de crime de morte cometido na pessoa de importante cidadão desta comarca…
Importante? Um pulha. Impossível, porquê? Do processo consta um jovem estudante, meu aparentado,, filho do juiz Gomes Neto, dizem que o senhor exige sua pronúncia.
- Na qualidade de cúmplice… - baixa a voz – se bem, a meu ver, seja mais do que isso, seja co-autor do delito.
- Apesar de bacharel em Direito, não vim aqui como advogado nem tenho tempo a perder. Ouça, doutor: o senhor deve saber quem manda nesta terra, já tirou a prova antes. Disseram-me que ainda deseja ser juiz em Cajazeiras. Está em suas mãos, pois eu continuo a achar que Lulu não lhe deu todo o recado.
Lavre agora mesmo a sentença de arquivamento, duas linhas bastam. Mas se lhe dói a consciência, então eu lhe aconselho a voltar para Barracão o quanto antes, deixando o resto do processo para juiz à minha escolha e gosto. Está em suas mãos, decida. (clik na imagem e aumente)
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home