TEREZA
BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA
Episódio Nº 188
- Bia se agarrou ao telefone até conseguir Aracaju, foi de grande ajuda. Quando descobrimos onde a família estava chegou a dar um viva.
A princípio não se escutava nada por causa da música do baile, a sorte é que o telefone do Iate fica no bar e Cristóvão estava lá bebendo uísque.
Quando dei a notícia, acho que perdeu a voz porque largou o fone e me deixou gritando até que veio um outro cara e foi chamar o genro. Ele disse que iam sair para aqui imediatamente…
Com o médico chega João Nascimento Filho, triste, comovido, amedrontado:
- Ai Tereza que desgraça! Emiliano era mais moço do que eu, três anos mais moço, ainda não completara os sessenta e cinco. Nunca pensei que se fosse antes de mim. Tão forte, não me lembro de tê-lo visto queixar-se de doença.
Tereza os deixa no quarto, sai para providenciar café. Hierática, lacrimosa, Nina parece inconsolável sobrinha ou prima, enlutada parenta. Lula dorme sentado junto à mesa da copa, a cabeça sobre os braços. Tereza vai ela própria passar o café.
Na cama de lençóis limpos, vestido como se devesse presidir reunião dos directores do Banco Interestadual da Bahia e Sergipe, jaz doutor Emiliano Guedes, os olhos claros bem abertos, ainda curioso acerca da vida e das pessoas, querendo tudo ver e acompanhar no começo do longo velório de seu corpo, em casa de amásia onde morrera estrebuchando em gozo. João Nascimento Filho, as pálpebras molhadas, volta-se para o médico:
- Nem parece morto, meu pobre Emiliano. De olhos abertos para melhor comandar a todos nós, como sempre comandou desde a Faculdade. A rosa na mão, só falta o rebenque. Duro e generoso, o melhor amigo, o pior inimigo, Emiliano Guedes, o senhor das Cajazeiras…
- Os desgostos o mataram… – O médico repete o diagnóstico – nunca se abriu comigo, mas as notícias circulam, fica-se sabendo mesmo sem perguntar. Tão seu amigo, nunca lhe disse nada, João? Nem anteontem? Sobre o filho, sobre o genro?
Emiliano não era homem de andar contando a vida nem mesmo aos amigos mais íntimos. Nuca ouvi da sua boca senão elogios à família, todos bons, todos perfeitos, a família imperial. Era orgulhoso demais para contar a alguém, fosse a quem fosse, qualquer coisa desabonadora de sua gente. Sei que tinha um fraco pela filha; quando ela era mocinha, toda a vez que ele aparecia por aqui falava sobre ela o tempo todo, a beleza, a inteligência, a contar gracinhas. Depois que ela se casou, não falou mais…
- Falar do quê? Falar dos chifres que ela põe ao marido?
Aparecida saiu ao pai, tem o sangue quente é sensual, fogosa, dizem que está devastando os lares de Aracajú. Ela por um lado, o marido pelo outro, que ele não faz por menos, cada um levando a vida como quer…
- São os tempos modernos e os casamentos amalucados… – conclui João Nascimento Filho: - Pobre Emiliano, doido pela família, pelos filhos, pelos irmãos, pelos sobrinhos, ajudando até o último parente. Aí está, parece vivo, só lhe falta o rebenque na mão…
Tereza de volta, a bandeja com as xícaras de café:
- O rebenque, e por quê, seu João?
- Porque Emiliano usava ao mesmo tempo a rosa e o rebenque, rebenque de prata.
- Não comigo, seu João, não aqui.
A princípio não se escutava nada por causa da música do baile, a sorte é que o telefone do Iate fica no bar e Cristóvão estava lá bebendo uísque.
Quando dei a notícia, acho que perdeu a voz porque largou o fone e me deixou gritando até que veio um outro cara e foi chamar o genro. Ele disse que iam sair para aqui imediatamente…
Com o médico chega João Nascimento Filho, triste, comovido, amedrontado:
- Ai Tereza que desgraça! Emiliano era mais moço do que eu, três anos mais moço, ainda não completara os sessenta e cinco. Nunca pensei que se fosse antes de mim. Tão forte, não me lembro de tê-lo visto queixar-se de doença.
Tereza os deixa no quarto, sai para providenciar café. Hierática, lacrimosa, Nina parece inconsolável sobrinha ou prima, enlutada parenta. Lula dorme sentado junto à mesa da copa, a cabeça sobre os braços. Tereza vai ela própria passar o café.
Na cama de lençóis limpos, vestido como se devesse presidir reunião dos directores do Banco Interestadual da Bahia e Sergipe, jaz doutor Emiliano Guedes, os olhos claros bem abertos, ainda curioso acerca da vida e das pessoas, querendo tudo ver e acompanhar no começo do longo velório de seu corpo, em casa de amásia onde morrera estrebuchando em gozo. João Nascimento Filho, as pálpebras molhadas, volta-se para o médico:
- Nem parece morto, meu pobre Emiliano. De olhos abertos para melhor comandar a todos nós, como sempre comandou desde a Faculdade. A rosa na mão, só falta o rebenque. Duro e generoso, o melhor amigo, o pior inimigo, Emiliano Guedes, o senhor das Cajazeiras…
- Os desgostos o mataram… – O médico repete o diagnóstico – nunca se abriu comigo, mas as notícias circulam, fica-se sabendo mesmo sem perguntar. Tão seu amigo, nunca lhe disse nada, João? Nem anteontem? Sobre o filho, sobre o genro?
Emiliano não era homem de andar contando a vida nem mesmo aos amigos mais íntimos. Nuca ouvi da sua boca senão elogios à família, todos bons, todos perfeitos, a família imperial. Era orgulhoso demais para contar a alguém, fosse a quem fosse, qualquer coisa desabonadora de sua gente. Sei que tinha um fraco pela filha; quando ela era mocinha, toda a vez que ele aparecia por aqui falava sobre ela o tempo todo, a beleza, a inteligência, a contar gracinhas. Depois que ela se casou, não falou mais…
- Falar do quê? Falar dos chifres que ela põe ao marido?
Aparecida saiu ao pai, tem o sangue quente é sensual, fogosa, dizem que está devastando os lares de Aracajú. Ela por um lado, o marido pelo outro, que ele não faz por menos, cada um levando a vida como quer…
- São os tempos modernos e os casamentos amalucados… – conclui João Nascimento Filho: - Pobre Emiliano, doido pela família, pelos filhos, pelos irmãos, pelos sobrinhos, ajudando até o último parente. Aí está, parece vivo, só lhe falta o rebenque na mão…
Tereza de volta, a bandeja com as xícaras de café:
- O rebenque, e por quê, seu João?
- Porque Emiliano usava ao mesmo tempo a rosa e o rebenque, rebenque de prata.
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