sábado, outubro 15, 2011

TEREZA


BATISTA


CANSADA


DE


GUERRA


Episódio Nº 231



Emiliano ressurge das cinzas na voz apaixonada de Tereza.

Nestes anos, Tereza, tu ficaste sabendo como eu sou, conheces meu lado bom, meu lado ruim, aquilo de que sou capaz. Meti a mão no coração e os arranquei de dentro, mas meu coração não ficou vazio e não morri. Porque te tenho. A ti, a mais ninguém.

Repentina timidez de adolescente, de aflito postulante, desprotegida criatura, em contradição com o senhor habituado ao mando, directo e firme, insolente e arrogante quando necessário. A voz quase embargada, comovida:

- Ontem, na quermesse, começou em verdade nossa vida, Tereza. Agora o tempo inteiro nos pertence, e o mundo inteiro. Já não te deixarei sozinha, agora estaremos sempre juntos, aqui e onde seja; viajarás comigo. Acabou-se a amigação, Tereza.

Antes de levantar-se, alta estatura de árvore, e tomá-la nos braços, encerrando o discurso terrível, a doce conversa de amor, Emiliano Guedes disse:

- Quem me dera ser solteiro para casar contigo. Não que isso modificasse em nada o que significas para mim. És minha mulher.

Ao término do beijo, ela murmura:

- Ai, Emiliano, meu amor.

- Nunca mais me tratarás de doutor. Seja onde for.

- Nunca mais Emiliano.

Seis anos tinham-se passado desde a noite em que ele a retirara do prostíbulo. O doutor levantou Tereza nos braços e a conduziu ao quarto nupcial. Haviam transposto os últimos obstáculos, Emiliano Guedes e Tereza Batista. Um velho de prata, uma moça de cobre.

38

A ambulância partiu, os curiosos continuaram na calçada em frente ao chalé, comentando, à espera. Nina mistura-se com eles, a dar com a língua, após haver prendido os filhos.

No quarto, o sacristão acabou de recolher os castiçais, os tocos de vela. Um último olhar de inveja ao grande espelho, ah! os debochados!, vai-se embora. O padre se despedira antes:

- Que Deus te ajude. Tereza.

Tereza termina de arrumar a mala. Na mesa de trabalho de Emiliano, o rebenque de prata sobre uns papéis. Pensa em levá-lo. O rebenque, porquê? Melhor uma rosa. Cobre a cabeça com um xaile negro de flores vermelhas, o derradeiro presente do doutor, trazido na quinta-feira passada.

No jardim colhe a rosa mais polpuda e rubra, carne e sangue. Gostaria dizer adeus às crianças e à velha Eulina, mas Nina escondeu os filhos e a cozinheira só chega às seis.

A mala na mão direita, a rosa na esquerda, o xale na cabeça, Tereza abre o portão. Atravessa entre os curiosos como senão os visse. Passo firme, olhos secos, dirige-se ao ponto das marinetis a tempo de embarcar na das cinco da manhã para salgado, onde passa o trem do Leste.


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