TEREZA
BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA
Episódio Nº 234
2
Assunto delicado toda a vida. Pela segunda vez Tereza Batista recebia proposta de casamento, mas a primeira não contava, estando o candidato por demais bêbado na ocasião solene.
Uma injustiça, aliás, pois Miguel Rosado, irremediável abstémio, encabulado como ele só, embriagara-se exclusivamente para criar a coragem necessária à declaração de amor. Sóbrio, não lhe faltavam paixão e disposição para amarrar-se: faltava-lhe, isso sim, coragem para enfrentar Tereza e lhe pedir a mão em casamento.
Entupiu-se de cachaça e, não estando habituado, foi aquele desastre: no momento culminante da confissão, vomitou a alma no castelo de Altamira, em Maceió, onde Tereza vinha encontrá-lo (e a uns poucos mais) vez por outra nas aperturas de dinheiro.
Tereza não se ofendeu, mas não acreditou nos propósitos do guarda-livros da poderosa firma Ramos & Meneses. Nem se deu ao trabalho de expor motivos mais sérios de recusa, levou na brincadeira e se acabou.
No vexame do acontecido e no pouco caso da pretendida, Marcelo sumiu do mundo arrastando consigo a lembrança e o gosto de Tereza, nunca a pôde esquecer. A mulher com quem finalmente se casou, anos depois, em Goiás, onde desembocara coberto de vergonha e dor de cotovelo, lembrava no jeito de ser, de rir e de olhar a frustrada noiva, a inigualável rapariga, frequentando por necessidade o castelo de Taviana, renomado e discreto, obtendo, é triste de constatar, mais sucesso na cama do rendez-vous do que no tablado do Flor de Lótus, “feérico templo de diversões nocturnas”, na frase popular e discutível de Alinor Pinheiro, dono do negócio.
Não tendo maiores despesas, pois não jogava nem mantinha xodós, Tereza exercia no castelo o menos possível, apesar das constantes solicitações. Competente no ofício, requestada formosura, louvada educação, maneiras finas, mantinha-se distante de qualquer interesse, sexual ou sentimental, indiferente aos homens.
Freguesia reduzida a uns poucos senhores de dinheiro, escolhidos a dedo por Taviana, clientes de longa data e de moeda forte. Jamais nenhum deles mereceu sequer um pensamento de Tereza. Alguns a quiseram exclusiva, exibindo carteiras recheadas em tentadoras propostas de amigação.
Amigação, jamais! Não repetirá o erro cometido quando experimentara viver com o director do posto médico de Buquim.
Desde os tempos distantes de Aracaju, não voltara a sentir o sangue pulsando mais forte nas veias, nem a trocar nem a trocar olhares carregados de luz e sombra, em emoção de frete. Tereza morta para o amor. Não, não é verdade. O amor queima seu coração, punhal cravado no peito, cruel saudade, esperança derradeira, ténue. Januário Gereba, marujo de mar largo e longínquo, onde andarás?
Insinuantes gaviões assediaram-na no cabaré, em busca de xodó, os bonitões da zona, intoleráveis. Com os fregueses do castelo Tereza emprega o saber da cama, a distinção, Tereza do Falar Macio; com os malandros usou do pouco caso e, quando preciso, da indignação, Tereza Boa de Briga: me deixa em paz, não me amole, vá tocar seu realejo noutra freguesia.
Botou para correr do Flor de Lótus, escada abaixo, rua afora, o irresistível janota Lito Sobrinho e enfrentou na raça Nicolau Peixe Calção, tira de polícia dos mais asquerosos; ambos tentaram se meter a besta.
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Assunto delicado toda a vida. Pela segunda vez Tereza Batista recebia proposta de casamento, mas a primeira não contava, estando o candidato por demais bêbado na ocasião solene.
Uma injustiça, aliás, pois Miguel Rosado, irremediável abstémio, encabulado como ele só, embriagara-se exclusivamente para criar a coragem necessária à declaração de amor. Sóbrio, não lhe faltavam paixão e disposição para amarrar-se: faltava-lhe, isso sim, coragem para enfrentar Tereza e lhe pedir a mão em casamento.
Entupiu-se de cachaça e, não estando habituado, foi aquele desastre: no momento culminante da confissão, vomitou a alma no castelo de Altamira, em Maceió, onde Tereza vinha encontrá-lo (e a uns poucos mais) vez por outra nas aperturas de dinheiro.
Tereza não se ofendeu, mas não acreditou nos propósitos do guarda-livros da poderosa firma Ramos & Meneses. Nem se deu ao trabalho de expor motivos mais sérios de recusa, levou na brincadeira e se acabou.
No vexame do acontecido e no pouco caso da pretendida, Marcelo sumiu do mundo arrastando consigo a lembrança e o gosto de Tereza, nunca a pôde esquecer. A mulher com quem finalmente se casou, anos depois, em Goiás, onde desembocara coberto de vergonha e dor de cotovelo, lembrava no jeito de ser, de rir e de olhar a frustrada noiva, a inigualável rapariga, frequentando por necessidade o castelo de Taviana, renomado e discreto, obtendo, é triste de constatar, mais sucesso na cama do rendez-vous do que no tablado do Flor de Lótus, “feérico templo de diversões nocturnas”, na frase popular e discutível de Alinor Pinheiro, dono do negócio.
Não tendo maiores despesas, pois não jogava nem mantinha xodós, Tereza exercia no castelo o menos possível, apesar das constantes solicitações. Competente no ofício, requestada formosura, louvada educação, maneiras finas, mantinha-se distante de qualquer interesse, sexual ou sentimental, indiferente aos homens.
Freguesia reduzida a uns poucos senhores de dinheiro, escolhidos a dedo por Taviana, clientes de longa data e de moeda forte. Jamais nenhum deles mereceu sequer um pensamento de Tereza. Alguns a quiseram exclusiva, exibindo carteiras recheadas em tentadoras propostas de amigação.
Amigação, jamais! Não repetirá o erro cometido quando experimentara viver com o director do posto médico de Buquim.
Desde os tempos distantes de Aracaju, não voltara a sentir o sangue pulsando mais forte nas veias, nem a trocar nem a trocar olhares carregados de luz e sombra, em emoção de frete. Tereza morta para o amor. Não, não é verdade. O amor queima seu coração, punhal cravado no peito, cruel saudade, esperança derradeira, ténue. Januário Gereba, marujo de mar largo e longínquo, onde andarás?
Insinuantes gaviões assediaram-na no cabaré, em busca de xodó, os bonitões da zona, intoleráveis. Com os fregueses do castelo Tereza emprega o saber da cama, a distinção, Tereza do Falar Macio; com os malandros usou do pouco caso e, quando preciso, da indignação, Tereza Boa de Briga: me deixa em paz, não me amole, vá tocar seu realejo noutra freguesia.
Botou para correr do Flor de Lótus, escada abaixo, rua afora, o irresistível janota Lito Sobrinho e enfrentou na raça Nicolau Peixe Calção, tira de polícia dos mais asquerosos; ambos tentaram se meter a besta.
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