sexta-feira, outubro 21, 2011

TEREZA

BATISTA

CANSADA

DE

GUERRA



Episódio Nº 236




Se os anos anteriores já tinham sido de calma felicidade, os dois últimos, vendo o filho crescer, foram apaixonantes.

Ventura familiar brutalmente cortada pelo automóvel de um jovem filho-da-puta de família rica, em louca disparada na pressa de chegar a lugar nenhum; na urgência de não fazer nada. Atropelou Natália em frente à padaria, deixando Almério em desespero e o menino sem mãe pela segunda vez.

Em busca de consolo, o viúvo procurou Taviana, velha amiga, e assim conheceu Tereza.

Tereza só vinha ao castelo com hora previamente marcada, atendendo apenas estrita clientela designada pela eficiente proxeneta. Terminada a sessão, despachado o banqueiro ou o magistrado, por vezes demorava-se na sala em conversa com Taviana. Numa dessas ocasiões, foi apresentada ao “amigo Almério das Neves, pessoa muito da minha estima, desde os tempos em que ele era rapaz e eu já era velha”. Que idade teria Taviana ou não teria idade?

Mulato claro e gordo, pachola, repousado e pacato, bem-falante mas um tanto rebuscado nas palavras, tudo em Almério sugere tranquilidade e segurança. Para ser agradável a Taviana, aceitou Tereza marcar encontro com ele para daí a três dias, reservando-lhe uma tarde.

- Console um pouco o meu amigo, Tereza, ele perdeu a esposa não faz muito tempo, ainda não tirou o luto.

- Levarei luto na alma pela eternidade.

Mesuroso e agradável, após a segunda etapa da função (os fregueses habituais de Tereza chegavam a duras penas à primeira e única), Almério ficou a conversar, contando particulares de sua vida, referentes sobretudo a Natália, ao filho e à padaria, a nova muito maior do que a anterior, capaz de concorrer com os monopolistas espanhóis donos do mercado. Um dia, disse ele com orgulho, será um empório.

- Como é o nome?

- Panificadora Nosso Senhor do Bomfim.

Para dar sorte e em honra a Oxalá, em cuja intenção, Almério, só veste de branco, faça o tempo que fizer. Isso Tereza ficou sabendo com o correr dos dias, pois o comerciante tornou-se habitué.

A boa prosa prosseguiu no castelo e nas mesas do Flor de Lótus. Não podendo Tereza lhe reservar mais de uma tarde por semana, Almério começou a frequentar o cabaré num primeiro andar da Rua do Tijolo, onde Tereza era a “sensual encarnação do samba brasileiro”.

Pelo contrato (oral) estabelecido com Alinor Pinheiro, proprietário do estabelecimento, Tereza devia comparecer às dez da noite e não se retirar antes das duas da manhã. Exibia-se por volta da meia-noite, em trajes sumários, pretendida estilização da fantasia baiana, mas, antes e depois, aceitava convites para dançar e para sentar-se em certas mesas de bebida farta. Pedia sempre vermute, ou seja, chá de sabugueiro.

Sua actividade no Flor de Lótus não ia além disso: não fazia a vida, não aceitava sair com fregueses para pensões próximas. Do cabaré directamente para o quarto alugado no Desterro a dona Fina, antiga e estimada cartomante. Quarto limpo e decente: receba homem onde quiser menos aqui, sou viúva honesta, avisara dona Fina, um encanto de velhota, os olhos cansados da bola de cristal, ouvinte de novelas de rádio, doida por gatos, criava quatro.


(clik na imagem e aumente)

Site Meter