TEREZA
BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA
Episódio Nº 268
Tiras e guardas trazem do interior das casas alguns móveis, vários colchões, roupa de cama, roupa de vestir, uma imagem de santo, uma vitrola.
O material é acumulado diante das portas. Mais tarde um caminhão da polícia recolhe aqueles abregueces a trouxe-mouxe e vai atirá-los em frente aos sobradões da Ladeira do Bacalhau.
Está feita a mudança simbólica, as próprias donas de pensão, quando postas em liberdade, providenciarão o transporte do resto, o grosso da mobília e dos objectos de uso. Assim informou o vitorioso comissário Labão ao delegado Hélio Cotias, ao fim da refrega.
Reina calma em todo o imenso puteiro: a inadmissível desobediência foi liquidada, o foco de sediação foi extinto. Se o doutor quiser pode ir dormir tranquilo, deixe os presos por conta do comissário, os machos e as fêmeas, para ele é um divertimento. No xadrez, doutor, a noite vai ser de pagode.
27
Não, não reina a calma, ledo engano do valoroso comissário. Na zona a boataria cresce, desbragada.
O delegado Cotias retira-se para o merecido repouso, nos olhos a dupla visão das mulheres semi-nuas atiradas como fardos para o xilindró e do comissário Labão prelibando, divertida noite de pagodeira, visão incómoda a reduzir a euforia da vitória. Ao cruzar a Praça Castro Alves constata existir absoluta tranquilidade na Barroquinha onde os guardas rondam. Tudo terminou, ainda bem. Noite ao mesmo tempo, exaltante e deprimente, suspira o bacharel.
Enquanto o delegado vai dormir posto em sossego, a notícia das violências e prisões circula, rápida, pelos becos e ruas, castelos e pensões, penetra nos bordéis, nos cabarés, nos bares.
Dona Paulina de Sousa escuta dramático relato da boca de um freguês, recorda as palavras de Ogum Peixe Marinho ditas na véspera: quem não arrisca não petisca. Quando chegará a vez do Pelourinho? Por ora, avisa as raparigas:
- Quem se encontrar com criatura da Barroquinha, diga que pode vir fazer vida aqui, enquanto as coisas não se decidem.
Também Vavá logo é posto a par do sucedido. Inquieto espera a chegada de pai Natividade, impedido por obrigações de fundamento de sair do terreiro durante o dia para vir fazer o jogo. Na hora do almoço, o cafetão não pudera dar a Tereza a resposta prometida:
- Só depois da meia-noite, me desculpe. Não depende só de mim.
Sorte não ter aparecido o detective com a maconha, mas pode passar a qualquer momento. Dalmo Coca participara da batida na Barroquinha, Vavá recebera detalhada informação. Também lá estivera a formosa mas não fora presa. Por milagre.
Na cadeira de rodas, joguete de contraditórias emoções, receio e raiva, ambição e amor, Vavá controla o andamento do negócio e os ponteiros do relógio.
No Bar Flor de São Miguel, um tanto alta, Nília Cabaré, rapariga muito popular no meretrício e fora dele, amiga de todos e de uma farra, mil vezes presa por baderna e desacato, proclama aos quatro ventos:
- Fique sabendo todo o mundo que enquanto elas não voltarem para a Barroquinha estou de balaio fechado, não recebo homem. Por nenhum dinheiro. Quem for mulher direita que me siga, tranque o xibiu, faça de conta que é Semana Santa!
(click na imagem)
O material é acumulado diante das portas. Mais tarde um caminhão da polícia recolhe aqueles abregueces a trouxe-mouxe e vai atirá-los em frente aos sobradões da Ladeira do Bacalhau.
Está feita a mudança simbólica, as próprias donas de pensão, quando postas em liberdade, providenciarão o transporte do resto, o grosso da mobília e dos objectos de uso. Assim informou o vitorioso comissário Labão ao delegado Hélio Cotias, ao fim da refrega.
Reina calma em todo o imenso puteiro: a inadmissível desobediência foi liquidada, o foco de sediação foi extinto. Se o doutor quiser pode ir dormir tranquilo, deixe os presos por conta do comissário, os machos e as fêmeas, para ele é um divertimento. No xadrez, doutor, a noite vai ser de pagode.
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Não, não reina a calma, ledo engano do valoroso comissário. Na zona a boataria cresce, desbragada.
O delegado Cotias retira-se para o merecido repouso, nos olhos a dupla visão das mulheres semi-nuas atiradas como fardos para o xilindró e do comissário Labão prelibando, divertida noite de pagodeira, visão incómoda a reduzir a euforia da vitória. Ao cruzar a Praça Castro Alves constata existir absoluta tranquilidade na Barroquinha onde os guardas rondam. Tudo terminou, ainda bem. Noite ao mesmo tempo, exaltante e deprimente, suspira o bacharel.
Enquanto o delegado vai dormir posto em sossego, a notícia das violências e prisões circula, rápida, pelos becos e ruas, castelos e pensões, penetra nos bordéis, nos cabarés, nos bares.
Dona Paulina de Sousa escuta dramático relato da boca de um freguês, recorda as palavras de Ogum Peixe Marinho ditas na véspera: quem não arrisca não petisca. Quando chegará a vez do Pelourinho? Por ora, avisa as raparigas:
- Quem se encontrar com criatura da Barroquinha, diga que pode vir fazer vida aqui, enquanto as coisas não se decidem.
Também Vavá logo é posto a par do sucedido. Inquieto espera a chegada de pai Natividade, impedido por obrigações de fundamento de sair do terreiro durante o dia para vir fazer o jogo. Na hora do almoço, o cafetão não pudera dar a Tereza a resposta prometida:
- Só depois da meia-noite, me desculpe. Não depende só de mim.
Sorte não ter aparecido o detective com a maconha, mas pode passar a qualquer momento. Dalmo Coca participara da batida na Barroquinha, Vavá recebera detalhada informação. Também lá estivera a formosa mas não fora presa. Por milagre.
Na cadeira de rodas, joguete de contraditórias emoções, receio e raiva, ambição e amor, Vavá controla o andamento do negócio e os ponteiros do relógio.
No Bar Flor de São Miguel, um tanto alta, Nília Cabaré, rapariga muito popular no meretrício e fora dele, amiga de todos e de uma farra, mil vezes presa por baderna e desacato, proclama aos quatro ventos:
- Fique sabendo todo o mundo que enquanto elas não voltarem para a Barroquinha estou de balaio fechado, não recebo homem. Por nenhum dinheiro. Quem for mulher direita que me siga, tranque o xibiu, faça de conta que é Semana Santa!
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