TEREZA
BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA
Episódio Nº 259
Dos três sócios da novel empresa destinada a acolher, proteger e alegrar os heróicos defensores da civilização ocidental na rápida escala no porto da Bahia, defendendo-lhes a saúde, aumentando-lhes a potência e possibilitando-lhes o sonho, o detective Coca era de longe o menos analfabeto e o mais tolo.
Sentou-se na cadeira de braços ao lado da escrivaninha e foi contando tudo ao cafetão sem sequer exigir a retirada de Amadeu Mestre Jegue, testemunha do diálogo. Camelos seriam espalhados por toda a extensão da zona a vender aos marinheiros camisas de Vénus e pequenos vidros de um elixir afrodisíaco fabricado por Heron Madruga, um conhecido de Peixe Cação.
Por aquela parte do empreendimento não precisava da cooperação de Vavá e, sim, para a outra, muito mais lucrativa: enquanto nas ruas os preservativos seriam mercados publicamente, gente de confiança, do metiê, na descrição dos prostíbulos, fornecia aos intrépidos hóspedes, a preço razoável, cigarros da melhor maconha nacional.
- Quer vender maconha, aqui, em minha casa?
Não só isso, eu chapa. Responsável pela importante quantidade de erva já encomendada, devendo recebê-la no dia seguinte à noitinha, Dalmo busca lugar seguro onde guardá-la até ao momento da venda a retalho. Os navios podem chegar a qualquer dia; quando, exactamente, ninguém sabe, são os tais segredos militares.
Lugar seguro, seguríssimo, os aposentos de Vavá. Não possui ele um cofre instalado na parede? Possui, sim, desde o caso da mulata Anunciação do Crato. Se for pequeno, um baú como aquele do canto serve, é só trancá-lo à chave. Bordel imenso, com tamanho e contínuo movimento de homens e mulheres, depósito ideal. Dali poderão distribuir tranquilamente o produto entre os agentes encarregados das vendas. No meio da azáfama habitual, ninguém reparará no número de maconheiros a entrar e a sair, confundidos com os fregueses apenas interessados em dar uma pitocada, em divertir o passarinho.
- Guardar em minha casa, em meu quarto? – Os olhos de Vavá parecem querer saltar das órbitas – Tá doido! Aqui de maneira nenhuma.
Por sorte, àquela hora os reflexos do detective Garcia ainda respondem à sua vontade, as narinas não palpitam em ânsia incontrolável. Mais tarde teria sido diferente, nem mesmo a presença de Amadeu Mestre Jegue conteria a mão do elegante secreta, acostumado a calar na tapa a boca dos teimosos.
Amadeu Mestre Jegue disputara ao todo trinta lutas, nas categorias amador e profissional, perdendo vinte e seis por pontos, por muitíssimos pontos, ganhando quatro por nocaute, as únicas em que conseguira acertar o adversário no queixo ou na caixa dos peitos. Patada mortal. Sinceramente votado a Vavá, mas revidaria se Dalmo esbofeteasse o patrão na sua vista? Ousaria levantar-se contra o detective? Só Deus sabe.
Dalmo contentou-se com ameaças. Pense duas vezes antes de recusar antes de recusar a homens da delegacia especializada um pequeno favor. Não está a par da ordem de mudança? Desta vez é para valer, decisão do alto, a ser cumprida em poucos dias. Amanhã, transfere-se o mulherio da Barroquinha para a Ladeira do Bacalhau. Em seguida, o Maciel. Os Bordéus aqui localizados irão ocupar os velhos pardieiros do Pilar, apenas dois ou três se encontram em condições. Todo o meretrício vai sumir do centro para instalar-se na Cidade Baixa ao sopé da montanha. Quem estiver nas graças da polícia terá franquias e vantagens, mas ai de quem estiver na lista negra!
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