sábado, novembro 19, 2011

TEREZA

BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA





Episódio Nº 261




Ela atravessa o quarto, altiva e flexível, ao meu Deus do céu! Ocupa a mesma cadeira onde estivera o detective. As grandes mãos do aleijado impulsionam as rodas, ele se aproxima.

O que a traz ali? Frequentando o castelo de Taviana, de freguesia escolhida e rica, não virá propor-se para bordel barato às grandes massas da população. Lá, numa só tarde, com um único michê, velhote educado, limpo, generoso, ela ganha mais do que a féria de qualquer das raparigas do alcouce de Vavá em dois dias e duas noites de trabalho, recebendo homens, uns atrás do outro.

Com seu jeito franco e decidido, Tereza entra no assunto:

- O senhor ouviu falar na mudança da zona?

A voz cálida completa a figura de sonho a fugir na luz da madrugada. Os fulgurantes olhos negros na face serena com uma ponta de melancolia, a cabeleira desnastra sobre os ombros, a esbeltez, a cor de cobre, o dengue nas maneiras no entanto sérias, uma aura. Vavá mal entendeu a pergunta, perturbado. Deu-se conta apenas do tratamento cerimonioso; na Bahia ninguém lhe dizia senhor, nem mesmo as pessoas que tinham medo dele, e eram muitas. Como tratá-la? São complicados os ritos de gentileza do povo baiano.

- Me chame Vavá, assim eu posso lhe chamar Tereza, fica melhor. Que foi que me perguntou?

- Com prazer. Perguntei se já ouviu falar na mudança da zona.

- Indagorinha mesmo estava falando disso.

- O pessoal da Barroquinha tem prazo até amanhã para ir para a Ladeira do Bacalhau. Sabe do estado dos casarões da Ladeira?

- Ouvi falar.

- Sabe que o resto também vai mudar? Sabe para onde o Maciel vai?

- Pró Pilar, eu sei. Agora que tanto perguntou, deixe-me que eu lhe pergunte: a que vem tudo isso? A conversa o interessa devido ao assunto e porque a cada palavra a fisionomia de Tereza se ilumina, a moça parece erguer-se no ar, uma labareda. No sonho, assim a vira sobre um rochedo, facho de fogo no negrume.

- O pessoal da Barroquinha não vai se mudar.

- Hem? Não vão se mudar?

A afirmação continha ideia tão nova e revolucionária a ponto de Vavá sair do clima romântico a envolvê-lo desde a aparição de Tereza para fitá-la com olhos interrogativos, ao fundo a desconfiança repontando. Repetiu a pergunta:

- Como não vão se mudar?

- Ficando onde estão, continuando na Barroquinha.

- Quem lhe disse isso? A velha Acácia? Assunta? Mirabel? O que Mirabel diz não se escreve. A velha Acácia não vai obedecer à ordem?

- Isso mesmo. Ninguém vai obedecer à ordem.

- A polícia vai pintar o diabo.

- A gente sabe disso.

- É capaz de botar para fora na pancadaria.

- Nem assim o pessoal se muda. Ninguém vai para as casas do Bacalhau, nem que tenha de ficar na rua.

- Ou na cadeia
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