terça-feira, dezembro 27, 2011

TEREZA

BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA





Episódio nº 292



Exactamente no momento em que, sob o comando supremo do comissário, as forças da polícia preparavam-se para encurralar as mulheres e obrigá-las a trabalhar, camelos e moleques entram mercando em inglês, numa algazarra infernal.

No desconhecimento da combinação, os soldados da polícia militar atiram os cavalos contra a inesperada praga de infractores das posturas municipais, tentando limpar as ruas da presença ilegal e numerosa a aumentar a confusão reinante.

Os vendedores esperavam encontrar ávida e gentil freguesia de marinheiros mascando chicletes, distribuindo cigarros, comprando preservativos e medicamento, pagando em dólares, tudo sob as vistas grossas da polícia de costumes, toda ela conivente.

Em vez de marinheiros e raparigas, a cavalaria a atropelar, expulsando-os.

A molecada se espalha, refugia-se nas casas. Nas ruas rolam cestos, espalhando-se no calçamento milhares de camisas-de-vénus. Os frascos se rompem, derrama-se nas sarjetas o milagroso preparado do ilustre químico e farmacêutico Heron Madruga.

As mulheres usam os vidros do “Cacete Rijo” como armas contra os guardas e tiras. De revólver em puno o comissário Labão tenta impedir a falência da empresa, o desmoronamento completo da organização. Ouve-se o silvo do carro dos bombeiros.

57

A partir da praça da Sé, Anália e Kalil dão se conta de algo grave a suceder na zona. No Terreiro de Jesus, muita gente a comentar, alguns poucos se atrevem a passar ao lado das viaturas de polícia e a penetrar na área do conflito.

A moça e o rapaz ladeiam a Faculdade de Medicina, descendo para o Largo do Pelourinho. Anália toma a imagem das mãos de Kalil:

- Hoje, você não pode ir lá a casa. Balaio fechado. Dão mais alguns passos juntos, encontram-se em meio à confusão, cercados pelos polícias. Um guarda avança para Anália, Kalil interfere, a rapariga corre, não sabe para onde ir, tonta. Vinda do alto, ouve uma voz masculina a lhe sussurrar ao ouvido:

- Para a Igreja, depressa, bela filha de Piauitinga.

Chega a brisa da noite, voz de melodia, condoreira, ao mesmo tempo doce e imperativa. Correndo, Anália dirige-se à Igreja, mas os tiras ocuparam a escadaria para impedir a passagem das mulheres. Como atravessar? Como, nem ela própria sabe, mas atravessou.

Sentiu-se tomada nos braços de um moço bonito, seu conhecido de vista, mas de onde o conhece, quem é ele? De súbito, estavam do lado de lá, ela e a imagem de Santo Onofre, na porta semi-aberta da Igreja, sãs e salvas. Dali espiou e viu Kalil sendo levado por dois guardas para um carro de presos, debatendo-se.

Quer correr para junto do amante, mas as outras mulheres não permitem, arrastam-na para dentro do templo, recebem a imagem em triunfo. Chorando, Anália abriga-se nos braços de Tereza Batista.

Não chore, pequena, tudo está bem – Tereza consola:

- Ele não vai ficar preso muito tempo. Dona Paulina também está presa, muita gente. Mas ninguém abriu o balaio. (click na imagem)

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