GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 8
Juntos andaram até à garagem; o coronel, afoito, anunciou:
- Dessa vez vou viajar nessa sua máquina. Me decidi…
O russo riu:
- Com a estrada seca a viagem vai durar pouco mais do que uma hora…
- Que coisa! Quem diria! Trinta e cinco quilómetros em hora e meia… Antigamente a gente levava dois dias, a cavalo… Pois, se Mundinho Falcão chegar hoje no Ita, pode-me reservar passagem para amanhã de manhã…
- Isso é que não, coronel. Amanhã, não.
- E porque não?
- Porque amanhã é o nosso jantar de comemoração e o senhor é meu convidado. Um jantar de primeira, com o coronel Ramiro Bastos, o Prefeito, o daqui e o de Itabuna, o Juiz de Direito e o de Itabuna também, Mundinho Falcão, tudo gente de primeira… o gerente do banco do Brasil… Uma festa de arromba!
- Quem sou, Jacob, para essas lordezas… Vivo no meu canto.
- Faço questão de sua presença. É no Bar Vesúvio, o do Nacib.
- Nesse caso, fico para pra ir depois de amanhã…
- Vou-lhe reservar lugar no primeiro banco.
O fazendeiro despedia-se:
- Não há mesmo perigo desse troço virar? Com uma velocidade assim… Parece impossível.
Dos Notáveis na Banca de Peixe
Silenciaram um instante, ouvindo o apito do navio.
- Está pedindo prático… - disse João Fulgêncio.
- É o Ita que vem do Rio, Mundinho Falcão chega nele – informou o Capitão, sempre a par das novidades.
O doutor retomou a palavra, avançando um dedo categórico a sublinhar a frase:
- É como eu lhe digo: nuns tantos anos, um lustro talvez, Ilhéus será uma verdadeira capital. Maior que Aracaju, Natal, Maceió…Não existe hoje, no norte do país, cidade de progresso mais rápido. Ainda há dias li num jornal do Rio… - deixava cair as palavras lentamente; mesmo conversando, sua voz mantinha certo tom oratório e sua opinião era altamente considerada. Funcionário público aposentado, com fama de cultura e talento, publicando no jornal da Bahia longos e indigestos artigos históricos, Pelópidas de Assunção dÁvila, ilheense dos velhos tempos, era quase uma glória da cidade.
Em redor aprovavam com a cabeça, estavam todos contentes com o fim das chuvas, e o inegável progresso da região cacaueira era para todos eles – fazendeiros, funcionários, negociantes, exportadores – motivo de orgulho. À excepção de Pelópidas, do Capitão e de João Fulgêncio, nenhum dos demais a conversar junto à banca de peixe, naquele dia, nascera em Ilhéus. Tinham vindo atraídos pelo cacau, mas sentiam-se todos grapiúnas, ligados àquela terra para sempre.
O coronel Ribeirinho, a cabeça grisalha recordava:
- Quando eu desembarquei aqui, em 1902, para o mês faz vinte e três anos, isto era um buraco medonho. Um fim de mundo, caindo aos pedaços. Olivença é que era cidade...
Episódio Nº 8
Juntos andaram até à garagem; o coronel, afoito, anunciou:
- Dessa vez vou viajar nessa sua máquina. Me decidi…
O russo riu:
- Com a estrada seca a viagem vai durar pouco mais do que uma hora…
- Que coisa! Quem diria! Trinta e cinco quilómetros em hora e meia… Antigamente a gente levava dois dias, a cavalo… Pois, se Mundinho Falcão chegar hoje no Ita, pode-me reservar passagem para amanhã de manhã…
- Isso é que não, coronel. Amanhã, não.
- E porque não?
- Porque amanhã é o nosso jantar de comemoração e o senhor é meu convidado. Um jantar de primeira, com o coronel Ramiro Bastos, o Prefeito, o daqui e o de Itabuna, o Juiz de Direito e o de Itabuna também, Mundinho Falcão, tudo gente de primeira… o gerente do banco do Brasil… Uma festa de arromba!
- Quem sou, Jacob, para essas lordezas… Vivo no meu canto.
- Faço questão de sua presença. É no Bar Vesúvio, o do Nacib.
- Nesse caso, fico para pra ir depois de amanhã…
- Vou-lhe reservar lugar no primeiro banco.
O fazendeiro despedia-se:
- Não há mesmo perigo desse troço virar? Com uma velocidade assim… Parece impossível.
Dos Notáveis na Banca de Peixe
Silenciaram um instante, ouvindo o apito do navio.
- Está pedindo prático… - disse João Fulgêncio.
- É o Ita que vem do Rio, Mundinho Falcão chega nele – informou o Capitão, sempre a par das novidades.
O doutor retomou a palavra, avançando um dedo categórico a sublinhar a frase:
- É como eu lhe digo: nuns tantos anos, um lustro talvez, Ilhéus será uma verdadeira capital. Maior que Aracaju, Natal, Maceió…Não existe hoje, no norte do país, cidade de progresso mais rápido. Ainda há dias li num jornal do Rio… - deixava cair as palavras lentamente; mesmo conversando, sua voz mantinha certo tom oratório e sua opinião era altamente considerada. Funcionário público aposentado, com fama de cultura e talento, publicando no jornal da Bahia longos e indigestos artigos históricos, Pelópidas de Assunção dÁvila, ilheense dos velhos tempos, era quase uma glória da cidade.
Em redor aprovavam com a cabeça, estavam todos contentes com o fim das chuvas, e o inegável progresso da região cacaueira era para todos eles – fazendeiros, funcionários, negociantes, exportadores – motivo de orgulho. À excepção de Pelópidas, do Capitão e de João Fulgêncio, nenhum dos demais a conversar junto à banca de peixe, naquele dia, nascera em Ilhéus. Tinham vindo atraídos pelo cacau, mas sentiam-se todos grapiúnas, ligados àquela terra para sempre.
O coronel Ribeirinho, a cabeça grisalha recordava:
- Quando eu desembarquei aqui, em 1902, para o mês faz vinte e três anos, isto era um buraco medonho. Um fim de mundo, caindo aos pedaços. Olivença é que era cidade...
(click na imagem dos burros transportando as sementes do cacau das plantações para as eiras onde é espalhado e seco ao sol)
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