quinta-feira, janeiro 05, 2012

TEREZA

BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA





Episódio Nº 300




Vavá não se aproveitou sequer para insinuar uma palavra, guardou os olhos longe de Tereza. Não é pitéu para seu bico. Outra aparecerá, mais dia, menos dia, para rendê-lo de novo apaixonado. Não tão formosa, certamente, nem tão direita.

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Taviana mandou um recado para Almério, não quisera adiantar a notícia no receio de não passar igualmente de tapeação o acordo estabelecido pelo comissário com Vavá.

O padeiro tocou-se para o castelo, em disparada, os olhos fizeram-se húmidos ao ver Tereza, ficou mudo, sem palavras. Ela se aproximou e o beijou nas duas faces.

- Ela precisa de se restabelecer, virou um esqueleto, os cães comeram as carnes dela – disse Taviana, acrescentando: - O melhor é tirar Tereza uns tempos da circulação, o porqueira do Peixe Cação vai espumar quando souber que ela está na rua, é capaz de inventar outra miséria. Aquilo não é gente.
– Cuspiu com desprezo, esmagou na sola do sapato a sordidez do dito cujo.

Tereza não via necessidade de esconder-se, querendo retomar às pistas do Flor de Lótus naquele mesmo dia, às lides do castelo apenas melhorasse um pouco a fachada e entrassem carnes, assim lhe voltasse a cor de cobre. Mas Almério e Taviana não admitiram, nem pense nisso. Quer ir outra vez para a cadeia, inquietando os amigos, criando toda a classe de problemas, deixando todo o mundo feito doido? Tire da cabeça.

Já sei onde lhe vou botar – informou Almério.

Levou-a para o candomblé de São Gonçalo do Retiro, o Axé do Opô Afonxá, deixando-a aos cuidados de Senhora, a mãe-de-santo.

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Estando Tereza Batista adormecida na casa de Oxum onde a iyalorixá a hospedara, teve um sonho com Januário Gereba e acordou agoniada. No sonho ela o viu no meio do mar, em cima de um rochedo, entre ondas colossais, cercado de espuma e de peixes enormes. Janu lhe estendia os braços e Tereza se encaminhava para ele caminhando sobre as águas como se estivesse em terra firme. Próxima a alcançá-lo eis que do mar se elevou aparição divina, metade mulher metade peixe, uma sereia.

Nos cabelos longos e verdes, longos a cobrirem as escamas do rabo, verde da cor do fundo do mar, envolveu Januário e o levou consigo. Somente no último momento, quando já a sereia e o marujo desapareciam nas águas, Tereza enxergara a face da encantada e não era Iemenjá, como lhe parecera, mas sim a morte, o rosto de uma caveira, as mãos dois gadanhos secos.

A aflição de Tereza, por mais ela encobrisse, não passou despercebida à mãe-de-santo:

- Que ocorre com você, minha filha?

- Nada, mãe.

- Não minta a Xangô, jamais.

- Tereza relatou o sonho e mãe Senhora ouviu atentamente. Assim, de chofre, não soube dar solução à advinha. Só fazendo o jogo. Já jogaram alguma vez para saber de sua sina?

- Que eu pedisse, não.


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