quinta-feira, março 01, 2012

GABRIELA

CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 36





Falavam as duas ao mesmo tempo, era uma notícia a espalhar.

- Eu não esperava por uma dessas. E logo hoje: dia de feira, dia de muito movimento no bar. E ainda por cima eu tinha tomado a encomenda de um jantar para trinta pessoas.

- Jantar de trinta pessoas?

- Oferecido pelo russo Jacob e por Moacir da garagem. Para festejar a inauguração da Empresa de Ónibus.

- Ah! – fez Florzinha. – Já sei.

- Bem! - disse Quinquina – Ouvi falar. Diz que vem o Intendente de Itabuna.

- O daqui, o de Itabuna, o coronel Misael, o gerente do Banco do Brasil, seu Hugo Kaufmann, enfim, tudo gente de primeira.

_ O senhor acha que esse negócio de marinete vai dar certo? – quis saber Quinquina.

- Se vai… já está dando… daqui a pouco ninguém viaja mais de trem. Uma hora de diferença.

- E o perigo? - Perguntou Florzinha.

- Que perigo?

- Perigo de virar… Outro dia virou uma na Baía, li no jornal, morreram três pessoas…

- Eu é que não viajo nesses negócios. Automóvel não foi feito para mim. Posso morrer de automóvel se me pegar na rua. Mas de eu entrar dentro, isso não… - disse Quinquina.

- Ainda outro dia compadre Eusébio queria a pulso fazer a gente subir no carro dele para dar uma volta. Até a comadre Noca nos chamou de atrasadas… contou Florzinha.

Nacib riu:

- Ainda vou ver as senhoras comprar automóvel.

- Nós… mesmo que a gente tivesse dinheiro…

- Mas vamos ao nosso assunto.

Relutaram, fizeram-se rogar, terminaram aceitando. Não sem antes afirmar que só o faziam por se tratar de seu Nacib, moço distinto. Onde já se viu encomendar de véspera um jantar para trinta pessoas e todas importantes?

Sem falar nos dois dias perdidos para o presépio, não ia sobrar tempo de cortar uma figura sequer. Além de ter de arranjar quem as ajudasse…

- Eu havia apalavrado duas cabrochas para ajudar Filomena…

- Não. A gente prefere D. Jucundina e as filhas. Já estamos acostumadas com ela. E cozinha bem.

- Será que ela não aceitará cozinhar para mim?

- Quem? Jucundina? Nem pense nisso, seu Nacib: e a casa dela e os três filhos, já homens, o marido, quem ia cuidar?

Para nós, assim uma vez ela vem, por amizade…

Cobravam caro, um dinheirão. Pelo preço que lhe fizeram, o jantar não lhe ia render nada. Não fosse Nacib ter tomado o compromisso com Moacir e o russo…



(click na imagem das extensas praias da costa de Ilhéus)

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