GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 48
- Bonita, hem? Coitados! Encontrei os dois no Rio sem saber o que fazer. Queriam viajar, mas não tinham dinheiro sequer para as passagens. Virei empresário…
- Nessas condições, meu caro, não é vantagem. Até eu viria. O marido parece ser da confraria…
- Que confraria?
- A de São Cornélio, a ilustre confraria dos maridos conformados, os naturais de bom génio…
Mundinho fez um gesto com a mão:
- Qual…Nem são casados, essa gente não se casa. Vivem juntos, mas cada um para seu lado. O que é que você pensa que ela faz quando não tem onde dançar? Para mim, foi uma diversão para quebrar a monotonia da viagem. E acabou-se. Está à disposição de vocês. Ali é só pagar, meu caro.
Os coronéis vão perder a cabeça… Mas não conte que não são casados. O ideal de cada coronel é dormir com mulher casada. Só que, se alguém quiser dormir com a deles, aí… Mas voltando ao caso da barra… Você está mesmo disposto a levar a coisa adiante?
- Para mim, agora, é uma questão pessoal. No Rio, entrei em contacto com uma empresa de cargueiros suecos. Estão dispostos a estabelecer uma linha directa para Ilhéus assim que a barra estiver em condições de dar passagem a navios de certo calado.
O Capitão ouvia atento, ruminando certas ideias a persegui-lo há muito, certos planos políticos. Chegara a hora de pô-los em execução. A vinda de Mundinho para Ilhéus fora uma bênção dos Céus. Mas como receberia ele tais propostas? Era preciso ir com cuidado, ganhar sua confiança, convencê-lo.
Mundinho sentia-se enternecido com a admiração do outro, estava em veia de confidência, deixava-se levar.
- Olhe, Capitão, quando eu vim para aqui… - silenciou um instante, como a duvidar se valia a pena falar - … vim meio fugido – novo silêncio – Não da polícia! De uma mulher. Um dia eu lhe conto a história toda, hoje não. Você sabe o que é paixão? Mais do que paixão, loucura? Por isso eu vim, larguei tudo. Já tinham me falado de Ilhéus, do cacau. Vim para ver como era, nunca mais fui embora.
O resto você sabe: a firma exportadora, a minha vida aqui, as boas amizades que fiz, o entusiasmo que tenho pela terra. Não é só pelos negócios, pelo dinheiro, você compreende? Podia ganhar tanto ou mais exportando café. Mas aqui estou fazendo alguma coisa, sou alguém, sabe? Faço com minhas mãos… - E olhava as mãos bem tratadas, finas, de unhas manicuradas como as de uma mulher.
- Sobre isso quero lhe falar…
- Espere. Deixe eu acabar. Vim por motivos íntimos, fugindo. Mas se fiquei, foi por causa dos meus irmãos. Sou o mais moço dos três, o caçula, muito mais moço, nasci fora do tempo. Tudo já estava feito, eu não precisava me esforçar para nada. Era deixarem as coisas correrem. Apenas eu era sempre o terceiro. Primeiro os outros dois. Não me servia.
O Capitão nadava em gozo, aquelas confidências chegavam na hora justa. Fizera-se amigo de Mundinho Falcão apenas o exportador chegara a Ilhéus, devido à fundação da nova casa exportadora. Era o colector federal, coube-lhe orientar o capitalista. Passaram a andar juntos, servia-lhe de cicerone.
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