GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio nº 77
As opiniões variavam sobre Tonico Bastos. Uns o consideravam bom rapaz, um pouco interesseiro e um pouco gabarolas mas de agradável conversa e, no fundo, inofensivo.
Outros achavam-no burro e cheio de si, incapaz e covarde, preguiçoso e suficiente. Mas a sua simpatia era indiscutível: aquele sorriso de homem satisfeito com a vida, a conversa cativante. O próprio Capitão o dizia quando falavam a seu respeito:
- É um canalha simpático, um irresistível mau carácter. Não conseguira Tonico Bastos passar do 3º Ano de Engenharia dos sete levados a cursar na Faculdade no Rio, para onde o enviara o coronel Ramiro, farto dos seus escândalos na Bahia.
Cansado de lhe remeter dinheiro, desiludido de ver aquele filho formado, exercendo a profissão com capricho, como Alfredo, o coronel fê-lo voltar a Ilhéus, arranjou-lhe o melhor cartório da cidade e a noiva mais rica.
Rica, filha única de viúva, órfã de fazendeiro que deixara a pele no fim das lutas. Dª. Olga era sobretudo incómoda. Não herdara Tonico a coragem do pai, por mais de uma vez haviam-no visto empalidecer e gaguejar quando envolvido em complicações nas ruas de mulheres, mas nem mesmo isso podia explicar o medo que tinha da esposa.
Medo, sem dúvida, de um escândalo a prejudicar o velho Ramiro, homem conceituado e respeitado. Pois dona Olga vivia ameaçando com escândalos, era uma boca de trapo, na sua opinião todas as mulheres andavam atrás de Tonico.
A vizinhança ouvia diariamente as ameaças da gorda senhora, os sermões ao marido.
- Se um dia eu souber que você anda metido com mulher!...
Em sua casa não parava empregada: Dª. Olga suspeitava de todas, despedia-as ao menor pretexto, andavam certamente cobiçando seu belo esposo.
Olhava com desconfiança as moças do Colégio das Freiras, as senhoras nos bailes no clube Progresso. Seu ciúme tornara-se lendário em Ilhéus. Seu ciúme e sua má educação, seus modos brutos, suas gaffes colossais.
Não que tivesse conhecimento das aventuras de Tonico, que suspeitasse estar ele em casa de mulheres quando saia, à noite, “para tratar de política” como lhe explicava. O mundo viria abaixo se soubesse.
Mas Tonico tinha lábia, encontrava sempre maneira de enganá-la, de acalmar seu ciúme. Não havia homem mais circunspecto do que ele quando, depois do jantar, dava uma volta com a esposa na Avenida da praia, tomava um sorvete no bar Vesúvio, ou a levava ao cinema.
- Olhem como ele vai sério com o seu elefante… – diziam ao vê-lo passar referindo-se ao seu ar tão digno e à gordura de Olga estourando os vestidos.
Era outro homem minutos depois, após conduzi-la de volta a casa, na Rua dos Paralelepípedos, onde também ficava o cartório, quando saia para “conversar com os amigos e fazer política”. Ia dançar nos cabarés, cear em casas de mulheres, muito requestado, por ele se engalfinhavam raparigas, trocavam insultos, chegavam a agarrar-se pelos cabelos.
- Um dia a casa cai… comentaram. – Dª. Olga sabe, vai ser o fim do mundo.
Várias vezes estivera para acontecer. Mas Tonico Bastos envolvia a esposa numa rede de mentiras, aplacava-lhe as suspeitas. Não era barato o preço a pagar pela posição de homem irresistível, de conquistador número um da cidade.
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Outros achavam-no burro e cheio de si, incapaz e covarde, preguiçoso e suficiente. Mas a sua simpatia era indiscutível: aquele sorriso de homem satisfeito com a vida, a conversa cativante. O próprio Capitão o dizia quando falavam a seu respeito:
- É um canalha simpático, um irresistível mau carácter. Não conseguira Tonico Bastos passar do 3º Ano de Engenharia dos sete levados a cursar na Faculdade no Rio, para onde o enviara o coronel Ramiro, farto dos seus escândalos na Bahia.
Cansado de lhe remeter dinheiro, desiludido de ver aquele filho formado, exercendo a profissão com capricho, como Alfredo, o coronel fê-lo voltar a Ilhéus, arranjou-lhe o melhor cartório da cidade e a noiva mais rica.
Rica, filha única de viúva, órfã de fazendeiro que deixara a pele no fim das lutas. Dª. Olga era sobretudo incómoda. Não herdara Tonico a coragem do pai, por mais de uma vez haviam-no visto empalidecer e gaguejar quando envolvido em complicações nas ruas de mulheres, mas nem mesmo isso podia explicar o medo que tinha da esposa.
Medo, sem dúvida, de um escândalo a prejudicar o velho Ramiro, homem conceituado e respeitado. Pois dona Olga vivia ameaçando com escândalos, era uma boca de trapo, na sua opinião todas as mulheres andavam atrás de Tonico.
A vizinhança ouvia diariamente as ameaças da gorda senhora, os sermões ao marido.
- Se um dia eu souber que você anda metido com mulher!...
Em sua casa não parava empregada: Dª. Olga suspeitava de todas, despedia-as ao menor pretexto, andavam certamente cobiçando seu belo esposo.
Olhava com desconfiança as moças do Colégio das Freiras, as senhoras nos bailes no clube Progresso. Seu ciúme tornara-se lendário em Ilhéus. Seu ciúme e sua má educação, seus modos brutos, suas gaffes colossais.
Não que tivesse conhecimento das aventuras de Tonico, que suspeitasse estar ele em casa de mulheres quando saia, à noite, “para tratar de política” como lhe explicava. O mundo viria abaixo se soubesse.
Mas Tonico tinha lábia, encontrava sempre maneira de enganá-la, de acalmar seu ciúme. Não havia homem mais circunspecto do que ele quando, depois do jantar, dava uma volta com a esposa na Avenida da praia, tomava um sorvete no bar Vesúvio, ou a levava ao cinema.
- Olhem como ele vai sério com o seu elefante… – diziam ao vê-lo passar referindo-se ao seu ar tão digno e à gordura de Olga estourando os vestidos.
Era outro homem minutos depois, após conduzi-la de volta a casa, na Rua dos Paralelepípedos, onde também ficava o cartório, quando saia para “conversar com os amigos e fazer política”. Ia dançar nos cabarés, cear em casas de mulheres, muito requestado, por ele se engalfinhavam raparigas, trocavam insultos, chegavam a agarrar-se pelos cabelos.
- Um dia a casa cai… comentaram. – Dª. Olga sabe, vai ser o fim do mundo.
Várias vezes estivera para acontecer. Mas Tonico Bastos envolvia a esposa numa rede de mentiras, aplacava-lhe as suspeitas. Não era barato o preço a pagar pela posição de homem irresistível, de conquistador número um da cidade.
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