As Raízes da Religião (continuação. Parte III)
Richard Dawkins
Tampouco, os seguidores do
Darwinismo, se dão por satisfeitos com explicações de natureza política do
género «a religião é uma ferramenta usada pela
classe dirigente para subjugar as classes inferiores».
É verdade que se consolava
os escravos negros da América com promessas de outra vida, o que lhes embotava
o descontentamento com a vida neste mundo e beneficiava, assim, os seus donos.
Se as religiões são
deliberadamente criadas por sacerdotes cínicos ou por governantes, é uma
questão interessante à qual os historiadores deverão prestar atenção mas
nenhuma destas explicações servem o investigado darwiniano porque este, o que
pretende saber, é porque razão as pessoas são «vulneráveis» aos encantos da
religião, expondo-se, desse modo, à exploração por parte dos sacerdotes,
políticos e reis.
Um manipulador cínico pode
fazer uso do desejo sexual como instrumento de poder político, mas mesmo aí
precisamos da explicação darwiniana para compreender porque motivo ele
funciona. No caso do desejo sexual a resposta é fácil: os nossos cérebros estão
talhados para gostar de sexo porque o sexo, em estado natural produz filhos.
Um manipulador político pode
usar a tortura para atingir os seus objectivos. Uma vez mais o estudioso
darwiniano tem de suprir a explicação para o facto de a tortura ser eficaz e
fazermos quase tudo para evitar a dor intensa.
Poderá, enfim, ser óbvio a
ponto de soar a banalidade, mas o darwiniano precisa de repeti-lo com a maior
clareza: «a selecção natural armou a percepção da dor de maneira a ser
apercebida como um sinal de perigo físico mortal e programou-nos para a evitar.
As raras pessoas que não sentem a dor ou que a minimizam, normalmente morrem
jovens, vítimas de lesões ou de feridas que os restantes de nós teriam o
cuidado de evitar.
Quer ele seja cinicamente
explorado, quer se manifeste espontaneamente, o que explica, em última análise,
o apelo dos deuses?
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