GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 175
Gabriela ia andando,
aquela canção ela a cantara em
menina. Parou a escutar a ver a roda a rodar. Antes da morte
do pai e da mãe, antes de ir para a casa dos tios.
Que beleza os pés
pequeninos no chão a dançar! Seus pés reclamavam, queriam dançar. Resistir não
podia, brinquedo de roda adorava brincar.
Arrancou os sapatos,
largou na calçada, correu prós meninos. De um lado Tuísca, do outro lado
Rosinha. Rodando na praça, a cantar e a dançar:
Palma, palma, palma
Pé, pé, pé.
Roda, roda, roda…
Caranguejo peixe é.
A cantar, a rodar, as
palmas bater, Gabriela menina.
Das Flores e dos Jarros
Atingira a luta política
também as eleições da confraria de São Jorge, em plena Catedral.
Muito desejara o Bispo conciliar as correntes, repetir o
tento lavrado por Ataúlfo Passos. Gostaria de ver reunidos em torno do santo
guerreiro os fiéis dos bastos e os entusiastas de Mundinho. Todo Bispo que era,
de barrete vermelho, não conseguiu.
A verdade era que Mundinho
não levava a sério aquela história da confraria. Pagava por mês e acabou-se.
Disse ao Bispo estar disposto a votar, se lá fosse votar, no nome que ele
indicasse. Mas o Doutor, de olho na presidência, fez pé firme. Começou a
cabalar. Dr. Maurício Caíres, devoto e devotado, era candidato à reeleição. E a
deveu sobretudo ao engenheiro.
Repercutira intensamente
na cidade o agitado fim do namoro. Apesar de o diálogo na praia, entre Melk e
Rómulo, não ter sido ouvido por ninguém, existiam dele pelo menos uma dez
versões, cada qual mais violenta, menos simpática ao engenheiro. Até de joelhos
o puseram junto ao banco da avenida, a suplicar piedade.
Transformaram-no num
monstro moral, de vícios inconfessáveis, aliciando mulheres, pavoroso perigo
para a família ilheense. O Jornal do sul dedicou-lhe um dos seus artigos mais
longos – toda a primeira página, continuando pela segunda – e mais grandiloquentes.
A moral, a Bíblia, a honra das famílias, a dignidade dos Bastos, sua vida
exemplar, a devassidão de todos os oposicionistas a começar pela do seu chefe,
Anabela e a necessidade de conservar ilhéus à margem da degradação de costumes
que ia pelo mundo, faziam desse artigo uma página antológica. Aliás, várias
páginas.
Para a Antologia da
imbecilidade… - dissera o Capitão.
Paixão política. Porque em
Ilhéus o saborearam, sobretudo as solteironas, quando o Dr. Maurício Caíres
repetiu grandes trechos do artigo como discurso de posse, reeleito que fora
para a presidência da Confraria: “… aventureiros vindos dos centros de corrupção,
a pretexto de discutíveis e inúteis trabalhos, querem perverter a alma
incorruptível do povo de ilhéus…”
(Click na imagem: Vamos beber à saúde?... mas de quem? - À nossa, á dos meus amigos e, porque não, à dela que foi da idéia?)
<< Home