CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 185
Novamente confundia-se – Isso é: não se
ofenda, quero dizer que são divertidas, não é? Sou um tabaréu, não tenho muitas
letras, conferência me dá um sono… Só perguntei por causa da patroa e das
meninas… Porque, de outro modo não podia levar, não é? – E para terminar com aqui lo: - Quatro entradas, quanto é?
Nacib ficava com duas, o sapateiro
Felipe com uma. Para a noite do dia seguinte, no salão nobre da Intendência,
com a apresentação do Dr. Ezequi el
Prado, colega de Argileu na Faculdade.
Passava o poeta à segunda fase da
operação, a mais difícil. Entrada quase ninguém recusava. Livro não tinha a
mesma aceitação. Muitos torciam o nariz ante as páginas onde os versos se
alinhavam em tipo miúdo. Mesmo aqueles que se decidiam, por interesse ou
gentileza ficavam sem saber como agir quando, ao informarem-se do preço, o
autor respondia:
-
À sua vontade… Poesia não se vende. Não deverá de pagar impressão e papel,
composição e brochura e destribuiría gratuitamente os meus livros, a mancheias,
como mandava o poeta. Mas… quem pode escapar do vil materialismo da vida?
Esse volume, que reúne as minhas últimas
e mais notáveis poesias, consagrado de norte a sul do País, com uma crítica
entusiasta em Portugal, custou-me os olhos da cara. Ainda nem o paguei… Fica a
seu critério meu caro amigo…
O que era de boa técnica quando se
tratava de exportador de cacau ou de fazendeiro.
Mundinho Falcão dera cem mil réis por um
livro, além de comprar uma entrada. O coronel Ramiro Bastos dera cinquenta; em
compensação comprara três entradas. E o convidara para jantar daí a dois dias.
Argileu informava-se com antecedência
dos particulares de cada praça a visitar. Soubera assim da luta política em Ilhéus. Viera armado
de cartas para Mundinho e Ramiro, de recomendações para os homens importantes
de um e de outro bando.
Experiente de muitos anos a colocar, com
paciência e denodo, as edições de seus livros, logo se dava conta o corpulento
vate se o comprador era capaz de resolver por si e soltar uma quantia maior ou
se devia ele insinuar-lhe:
-
Vinte mil réis e dou um autógrafo.
Quando o possível leitor ainda desistia,
ele ficava magnânimo, propunha o limite extremo.
-
Como sinto o seu interesse pela minha poesia, vou lhe deixar pelos dez. Para
que o senhor não fique privado do seu qui nhão
de sonhos, de ilusões, de beleza!
Ribeirinho, de livro enfiado na mão,
coçava a cabeça. Consultava o Doutor com os olhos, querendo saber quanto pagar.
Boa amolação tudo aqui lo, dinheiro
jogado fora. Meteu a mão no bolso, tirou mais vinte mil réis, fazia-o pelo
Doutor.
Nacib não comprava, Gabriela não sabia
ler, e, quanto a ele, tinha poesia de sobra com as que Josué e Ari Santos
declamavam no bar. O sapateiro Felipe recusou, estava bastante tocado:
- Perdoe-me usted, senhor poeta. Eu leio
sãmente prosa e certa prosa – acentuava o «certa».
(Click 2 vezes neste rosto de olhar em êxtase... lindo!)
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