terça-feira, setembro 18, 2012


GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 195

No outro dia, ao sair, ele lhe avisou:

 - Depois do aperitivo da tarde, venho jantar em casa, me preparar para a conferência. Quero te ver toda elegante, vestido bonito, de fazer inveja a qualquer outra.

Sim, porque lhe comprara e continuava a comprar vestidos de seda, sapatos, chapéus, até luvas. Dera-lhe anéis, colares verdadeiros, pulseiras, não medira dinheiro.

Queria-a tão bem vestida como a senhora mais rica, como se isso apagasse o seu passado, as queimaduras do fogão, o sem jeito de Gabriela. Vestidos pendurados no armário, em casa ela andava de chita, em chinelas ou descalça, às voltas com o gato e com a cozinha.

Que adiantavam as duas empregadas? A arrumadeira mandara embora, para que prestava? Consentira em entregar a lavagem da roupa, mas fora para ajudar a mãe de Tuísca. A menina na cozinha de pouco servia.

Não queria ofendê-lo. A conferência estava marcada para as oito horas, o circo também. D.ª Arminda lhe disse que essa tal de conferência não durava mais de uma hora e Tuísca só aparecia na segunda parte do espectáculo. Era uma pena perder a primeira, o palhaço, o trapézio, a moça no arame. Mas não queria ofendê-lo, não queria magoá-lo.

Pelo braço de Nacib enfiado na roupa azul do casamento, vestida como uma princesa, os sapatos doendo, atravessou as ruas de Ilhéus e subiu, desajeitada, as escadas da Intendência.

O árabe parava para cumprimentar amigos e conhecidos, as senhoras olhavam para Gabriela de alto a baixo, cochichavam e sorriam. Ela sentia-se sem jeito, atrapalhada, com medo. No salão nobre, muitos homens de pé; ao fundo, senhoras sentadas.

Nacib a levou para a segunda fila de cadeiras, fê-la sentar-se, saíu para o lado onde estavam Tonico, Nhô-Galo e Ari a conversar. Ela ficou sem saber que fazer. Perto dela, a mulher do doutor do doutor Demóstenes, empertigada, de “lorgnon” e capa de pele – com aquele calor! – a mirou de relance, virou a cabeça.  Palestrava com a mulher do promotor. Gabriela começou a olhar o salão, era uma beleza, até doía na vista.

Em certo momento voltou-se para a esposa do médico, perguntou:

 - Que hora acaba?

Riram em redor. Ficou mais sem jeito, porque seu Nacib a fizera vir? Gostava não.

 - Ainda não começou.

Finalmente, um homem grandão e de peito estufado, subiu, junto com o Dr. Ezequiel, no estrado, onde tinham posto duas cadeiras e a mesa com moringa de vidro e um copo.

Todo o mundo bateu palmas. Nacib sentara-se a seu lado, Dr. Ezequiel levantou-se, pigarreou, encheu o copo de água.

 - Excelentíssimas senhoras, meus senhores: hoje é um dia marcado com vermelho na folhinha da vida intelectual de Ilhéus. Nossa culta cidade hospeda, com orgulho e emoção o estro inspirado do poeta Argileu Palmeira, consagrado…
(Click na imagem desta jovem que procura segurar a roda da vida naquele momento mágico em que ela é linda e jovem)

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