GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 199
Comprimiam-se na ponta do Unhão, sob o
sol cada dia mais tórrido. Chegava-se ao fim da safra, o cacau secando nas
barcaças e estufas, enchendo os armazéns das casas exportadoras, os porões dos
pequenos navios da Baiana, da Costeira e do Lloyd.
Quando um deles saía ou entrava do
porto, os rebocadores ou dragas afastavam-se da barra. Para logo voltar, os
trabalhos progrediam rapidamente. Os escafandristas foram a grande sensação
daquela temporada.
Gabriela explicava a D.ª Arminda e ao
negrinho Tuísca:
-
Diz que no fundo do mar é mais lindo do que na terra. Tem de um tudo, só vendo.
Morro mais grande que a Conqui sta,
peixes de toda a cor, e pasto para eles pastar, jardim com flor, mais bonito
que o jardim da Intendência. Tem pé de pau, plantação, até cidade vazia. Sem
falar em vapor afundado.
O negrinho Tuísca duvidava:
-
Aqui só tem mesmo areia. E baraúna.
-
Tolo, falo do meio do mar, das profundas. Foi um moço que me contou, era
estudante, vivia com os livros, sabia das coisas. Numa casa onde tive empregada,
numa cidade. Contou cada coisa… – sorriu a lembrar.
-
Que coincidência! – Exclamou Dª. Arminda. – Sonhei com um moço batendo na porta
de seu Nacib, com um leque na mão. Escondia a cara no leque. Perguntando por
você.
-
T’esconjuro, Dª. Arminda! Até parece assombração.
Ilhéus inteiro vivia os trabalhos da
barra. Além dos escafandristas, as máqui nas
instaladas nas dragas causavam admiração e espanto. A remover a areia, a rasgar
o fundo da barra, a abrir e a ampliar canais.
Num ruído de terramoto, como se
estivessem revolvendo a própria vida da cidade, modificando-a para sempre. Com
a sua chegada já se modificara a correlação das forças políticas. O prestígio
do coronel Ramiro Bastos, bastante abalado, ameaçou ruir sob aquele golpe
colossal: dragas e rebocadores, escavadoras e engenheiros, escafandristas e
técnicos.
Cada dentada das máqui nas na areia, segundo o Capitão, significava dez
votos a menos no coronel Ramiro. A luta política tornara-se mais aguda e áspera
desde o crepúsculo em que os rebocadores haviam chegado, no dia do casamento de
Nacib com Gabriela.
Aquela noite fora tumultuosa: os
correligionários de Mundinho a cantar vitória, os de Ramiro Bastos a rosnar
ameaças. No cabaré houve pancadaria. Dora Cu de Jambo levara um tiro na coxa
quando Loirinho e os jagunços entraram atirando nas lâmpadas.
Se o que desejavam, como tudo indica,
era surrar o engenheiro chefe, obrigá-lo a ir-se de Ihéus, fracassaram. Na
confusão, o Capitão e Ribeirinho puderam retirar o avermelhado especialista,
que, aliás, demonstrou gosto pelo barulho: arrebentara a cabeça de um
adversário com uma garrafa de whisky. Segundo o próprio Loirinho contou, o
plano fora mal organizado, de última hora.
No outro dia, o Diário de Ilhéus clamou
dos céus: os antigos donos da terra, derrotados por antecedência, recorriam
novamente aos processos de há vinte ou trinta anos passados.
(Click na imagem. Como é que ela suporta todo aquele peso, tão magrinha... e em bicos dos pés? A menos que faça parte do grupo de escafandristas que está a desassorear a barra de Ilhéus)
(Click na imagem. Como é que ela suporta todo aquele peso, tão magrinha... e em bicos dos pés? A menos que faça parte do grupo de escafandristas que está a desassorear a barra de Ilhéus)
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