GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 175
Mas Gabriela chorava na
areia, na fímbria do mar. A lua a cobria de ouro, seu perfume de cravo no vento
a passar.
Tu tá chorando, mulher.
Tocou o rosto de canela
com a mão de navalha.
- Porquê? Junto de mim mulher não chora, ri de
prazer.
- Se acabou, agora se
acabou.
- O que se acabou?
- Pensar que um dia…
- O quê?
- Que poderia voltar ao fogão, ao qui ntal, ao quarto dos fundos, ao bar. Não ia Nacib
abrir restaurante? Não ia precisar de boa cozinheira. Quem melhor do que ela.
Dona Arminda dizia para
ter esperança. Só mesmo Gabriela para assumir cozinha tão grande e dar conta
perfeita. Em vez dela um sujeito vindo do Rio, um boneco empalhado, falando
estrangeiro.
Daí a três dias, a
inauguração, uma festa das grandes. Agora, nem mesmo a esperança. Queria ir-se
de Ilhéus. Para o fundo do mar.
Sete Voltas era uma
liberdade plantada cada dia, ao amanhecer. Era uma oferta e uma decisão. Um
orgulho e uma dádiva. Feria como um raio, alimentava como a chuva, camarada do
campo de batalha.
- Um portuga?
Põe-se de pé o camarada do
campo de batalha. O vento arrefecia ao tocá-lo, empalidecia o luar em suas mãos,
as ondas vinham lamber-lhe os pés de capoeira, criadores do ritmo.
- Não chore, mulher. Junto de Sete Voltas
nenhuma mulher chora, só faz rir de prazer.
- Que posso fazer? – Pela primeira vez era uma
pobre e triste e desgraçada, sem desejo de viver. Nem mesmo o sol, nem o luar,
nem a água fria, nem seu gato arisco, nem o corpo de um homem, nem o calor de
um deus de terreiro, podia fazê-la rir, sentir o gosto da vida no peito vazio.
Vazio de seu Nacib, tão
bom, um moço bonito.
- Nada tu pode fazer. Sete Voltas é que pode
fazer e vai fazer.
- Que coisa? Vejo não.
- Se o portuga sumir, quem
vai cozinhar? No dia da festa, se ele sumir, que outro jeito senão te chamar? Pois
vai sumir.
Por vezes era escuro como
a noite sem lua e duro como a pedra do rochedo enfrentando o mar. Gabriela
tremeu.
- Que tu vai fazer? Matar ele? Quero não.
Quando ele ria era a
aurora surgindo, São Jorge na Lua, terra encontrada por náufrago em desespero,
uma âncora.
- Matar o portuga? Não me fez mal. Mando ele
embora um pouco depressa. Dar o fora daqui .
Só maltrato um pinginho se ele teimar.
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