Escrava |
O PAÍS
DO
CARNAVAL
Episódio Nº 76
Os garotos tentaram
escalar o pau-de-sebo, seduzidos por uma nota de cinco mil réis que balançava
no alto. De um pote quebrado saíu um gato em disparada, louco, perseguido pelos
moleques. Ricardo Braz olhava tudo aqui lo
com um grande tédio. Enterrara a sua vida…
- Por que você não vai conversar com o
prefeito e com o juiz? Está aí como um urso…
E Ruth admirava-se do
marido.
Ricardo encaminhou-se para
o grupo. Falavam sobre a formação de um tiro de guerra.
- Aqui
o dr. Promotor será o professor.
- Obrigado. O presidente deve ser o Sr.
Prefeito.
- O Dr. Juiz o secretário.
O médico seria o
tesoureiro.
- E o Dr. Ricardo, o orador…
- Apoiado
Seu Leocádio dos Correios
aproximou-se
- Dr. Ricardo, chegou ontem uma carta para o
senhor. Está aqui .
Letra de Paulo Rigger.
Invadiu-o a impaciência. Notícias dos amigos. Iria saber deles. Mas teve que
esperar muito. Depois que acabou a festa houve bênção. Sermão do vigário sobre
a castidade…
Trancou-se no quarto.
Quando terminou a leitura da carta as lágrimas caíram-lhe dos olhos sujando a
conferência escrita há dias. Morrera Pedro Ticiano… E morrera afirmando que a
Felicidade é não desejar… E ele, Ricardo Braz, que tanto desejara… Viver por
viver… E ele que qui sera viver para
o amor… Infeliz… Infeliz…
Deitou a cabeça sobre a
mesa, inteiramente desanimado. Invadiu-lhe os membros uma grande lassidão…
- A felicidade só a alcançam os imbecis e os
cretinos…
- Toda a vitória na vida é um fracasso na arte.
E a voz de Pedro Ticiano
soava-lhe aos ouvidos, metálica. Revia a figura do amigo. Alto, magro, sempre
de preto, muito céptico a dizer paradoxos…
- Chegar à suprema renúncia de não desejar…
E Ricardo Braz chorou o
seu fracasso.
Bateram à porta. Ele não
respondeu. Bateram novamente.
- Quem é?
- Eu, Ruth…
- O que há?
- Você quer fazer esperar o Prefeito e o Juiz?
Já está na hora da conferência. Vamos.
E Ricardo Braz obteve,
naquela noite, um esplêndido triunfo, com a sua patriótica conferência.
Depois tédio…
A mesma coisa, sempre.
A Terra a girar em torno
do Sol 365 dias.
Um dia, outro dia.
A Terá a girar sobre si
mesma em 24 horas.
Dia. Noite.
Sempre a mesma coisa.
A maior tragédia: a tragédia
da monotonia…
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