domingo, junho 02, 2013

Hoje é Domingo 
(Da minha cidade de Santarém)




O meu país está bloqueado. É o que sinto, é o que sente a maioria esmagadora dos meus concidadãos e afirma também o ex-presidente da República Jorge Sampaio.

 Repetitivos noticiários da televisão massacram-nos diariamente, hora a hora, com dados e indicadores económicos, financeiros e sociais, todos eles apontando nesse sentido fazendo com que os portugueses esgotem os anti-depressivos nas farmácias…

Lembra-me a situação anterior ao 25 de Abril em que por não haver saída política nem solução militar, incapazes de vencer uma guerra para a qual não havia vitória e convencer o mundo de que aquele era o caminho para as nossas colónias, a que pomposamente chamávamos Províncias Ultramarinas, nos encontrávamos também bloqueados.

Vivíamos, então, numa espera do que iria acontecer… e aconteceu uma revolução…

 Por uns tempos, breves, os portugueses, na sua inconsciente alegria, foram felizes nas chamadas “madrugadas de Abril”não obstante terem estado à beira de uma guerra civil que só não aconteceu porque o Secretário Geral do Partido Comunista, Álvaro Cunhal, não o permitiu.

Embora todo o paralelismo, agora, na base, tudo é diferente: então havia esperança, hoje a nação afunda-se sem perspectivas de revolução nem ameaças de guerra civil… sem esperança… sem madrugadas de Abril…

Olhamos para a Europa, seguimos passo a passo a evolução política na Alemanha mas os ventos que de lá vêm não mudam nem afrouxam, embora alguns queiram ver o contrário.

A desorientação dos políticos, quer dos que mandam quer dos que protestam, provoca gradualmente o acantonamento da população no medo e na resignação.

 Estamos perdendo o apoio do Estado que quer retirar-se quando era nele que todos nós nos apoiávamos como empregados, funcionários, pensionistas, reformados, clientes, fornecedores… e por ele éramos assistidos na doença, na saúde, na educação, na juventude e na velhice, na vida e na morte.

 Dele, todos esperamos coisas e nunca, como agora, nos apercebemos de como ele é frágil e impotente, incapaz de desempenhar todas essas funções.

Caminhamos progressivamente para uma orfandade sem que a Europa e o mundo se estejam a ralar muito com isso…apenas um caminho nos é apontado: o do empobrecimento.

 Em sonhos, transformados em pesadelos, parece-me escutar as gargalhadas de sarcasmo dos senhores, grandes e louros, que a abarrotarem de cerveja nos gritam lá do norte e centro da Europa: “com que então queriam também ser ricos à custa do nosso dinheirinho…trabalhem calões!...”

Isto são narrativas, como agora se diz… Já se esqueceram dos Fundos Comunitários, o tal que devia estabelecer a coesão entre todos os países da Comunidade Europeia?

Cento e cinquenta mil milhões de investimento de 1986 a 2011, 25 anos. Em termos absolutos parece muito, não sei se o será em termos relativos… O que nós sabemos é que mais de 40 mil milhões saíram do Estado que teve de aumentar a sua dívida para o poder arranjar, a tal dívida que agora nos sufoca consumindo todas as economias que possamos fazer, mesmo com a paragem de todas as obras que estavam em curso: auto-estradas, TGV, etc...

Este esforço que o Estado Português fez para acompanhar a locomotiva europeia na aplicação dos Fundos Europeus pode ter sido a armadilha em que caímos com a agravante de que grande parte dessas obras ao nível das auto-estradas, por exemplo, estão hoje sub-aproveitadas - perdem 16.000 carros diariamente -  num país em empobrecimento acelerado.

Somos diariamente fustigados com a ameaça do corte de 4 mil milhões que, fatalmente, no todo ou em parte, vão sair do bolso dos reformados e pensionistas mas, até lá, o debate vai ser inutilmente intenso e polémico entre governantes e oposição e mesmo entre os próprios políticos do governo.

E, por falar em governo, lembro-me de um jovem, de óculos, que começou no governo de lambreta e agora se esganiça para afirmar que aqueles que recebem as pensões mais baixas, a esses, não se lhes corta nada e eles são a maioria… E o povo fica descansado quando vê confirmada a decisão de que para o corte dos 4 mil milhões o Estado não vai buscar nada àqueles que nada têm para se lhes tirar. Ufff… que alívio!


…E, no entanto, a nível interno, não vejo alternativa a não ser o envio de uma “embaixada” à Comunidade Europeia, FMI e Banco Central Europeu, com uma queixa formal de que estamos a ser descriminados, mal tratados e abusados na nossa pequenez e fragilidade…

 Este nível de endividamento com estas taxas de juro e estes prazos para equilibrarmos os deficits orçamentais, com a repercussão que se está a fazer sentir no decréscimo da economia (produção de riqueza) e nível de desemprego, corresponde a uma autêntica sentença de morte a curto prazo…

Se tiverem alguma dúvida leiam a transcrição do que disse Mariano Rajoy, Primeiro – Ministro de Espanha:

 - “Para se estar na Europa com força é preciso ser grande. Os pequenos não contam.” … e não estava, com certeza, a pensar em Portugal…

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