Hoje é Domingo
(Da minha cidade de Santarém)
O meu país está bloqueado. É o que sinto,
é o que sente a maioria esmagadora dos meus concidadãos e afirma também o
ex-presidente da República Jorge Sampaio.
Repetitivos noticiários da televisão
massacram-nos diariamente, hora a hora, com dados e indicadores económicos,
financeiros e sociais, todos eles apontando nesse sentido fazendo com que os
portugueses esgotem os anti-depressivos nas farmácias…
Lembra-me a situação anterior ao 25 de
Abril em que por não haver saída política nem solução militar, incapazes de
vencer uma guerra para a qual não havia vitória e convencer o mundo de que
aquele era o caminho para as nossas colónias, a que pomposamente chamávamos
Províncias Ultramarinas, nos encontrávamos também bloqueados.
Vivíamos, então, numa espera do que iria
acontecer… e aconteceu uma revolução…
Por uns tempos, breves, os portugueses, na sua
inconsciente alegria, foram felizes nas chamadas “madrugadas de Abril”não obstante terem estado à
beira de uma guerra civil que só não aconteceu porque o Secretário Geral do
Partido Comunista, Álvaro Cunhal, não o permitiu.
Embora todo o paralelismo, agora, na
base, tudo é diferente: então havia esperança, hoje a nação afunda-se sem
perspectivas de revolução nem ameaças de guerra civil… sem esperança… sem madrugadas
de Abril…
Olhamos para a Europa, seguimos passo a
passo a evolução política na Alemanha mas os ventos que de lá vêm não mudam nem
afrouxam, embora alguns queiram ver o contrário.
A desorientação dos políticos, quer dos
que mandam quer dos que protestam, provoca gradualmente o acantonamento da
população no medo e na resignação.
Estamos perdendo o apoio do Estado que quer
retirar-se quando era nele que todos nós nos apoiávamos como empregados,
funcionários, pensionistas, reformados, clientes, fornecedores… e por ele
éramos assistidos na doença, na saúde, na educação, na juventude e na velhice,
na vida e na morte.
Dele, todos esperamos coisas e nunca, como
agora, nos apercebemos de como ele é frágil e impotente, incapaz de desempenhar
todas essas funções.
Caminhamos progressivamente para uma
orfandade sem que a Europa e o mundo se estejam a ralar muito com isso…apenas
um caminho nos é apontado: o do empobrecimento.
Em sonhos, transformados em pesadelos,
parece-me escutar as gargalhadas de sarcasmo dos senhores, grandes e louros,
que a abarrotarem de cerveja nos gritam lá do norte e centro da Europa: “com
que então queriam também ser ricos à custa do nosso dinheirinho…trabalhem
calões!...”
Isto são narrativas, como agora se diz…
Já se esqueceram dos Fundos Comunitários, o tal que devia estabelecer a coesão
entre todos os países da Comunidade Europeia?
Cento e cinquenta mil milhões de investimento de 1986 a 2011, 25 anos. Em
termos absolutos parece muito, não sei se o será em termos relativos… O que nós
sabemos é que mais de 40 mil milhões saíram do Estado que teve de aumentar a
sua dívida para o poder arranjar, a tal dívida que agora nos sufoca consumindo
todas as economias que possamos fazer, mesmo com a paragem de todas as obras que
estavam em curso: auto-estradas, TGV, etc...
Este esforço que o Estado Português fez
para acompanhar a locomotiva europeia na aplicação dos Fundos Europeus pode ter
sido a armadilha em que caímos com a agravante de que grande parte dessas obras
ao nível das auto-estradas, por exemplo, estão hoje sub-aproveitadas - perdem 16.000 carros diariamente - num país
em empobrecimento acelerado.
Somos diariamente fustigados com a ameaça do corte
de 4 mil milhões que, fatalmente, no todo ou em parte, vão sair do bolso dos
reformados e pensionistas mas, até lá, o debate vai ser inutilmente intenso e
polémico entre governantes e oposição e mesmo entre os próprios políticos do
governo.
E, por falar em governo, lembro-me de um jovem, de
óculos, que começou no governo de lambreta e agora se esganiça para afirmar que
aqueles que recebem as pensões mais baixas, a esses, não se lhes corta nada e
eles são a maioria… E o povo fica descansado quando vê confirmada a decisão de
que para o corte dos 4 mil milhões o Estado não vai buscar nada àqueles que
nada têm para se lhes tirar. Ufff… que alívio!
…E, no entanto, a nível interno, não
vejo alternativa a não ser o envio de uma “embaixada” à Comunidade Europeia, FMI e Banco Central Europeu, com
uma queixa formal de que estamos a ser descriminados, mal tratados e abusados
na nossa pequenez e fragilidade…
Este nível de endividamento com estas taxas de juro e estes prazos para equi librarmos
os deficits orçamentais, com a repercussão que se está a fazer sentir no
decréscimo da economia (produção de riqueza) e nível de desemprego, corresponde
a uma autêntica sentença de morte a curto prazo…
Este nível de endividamento com estas taxas de juro e estes prazos para e
Se tiverem alguma dúvida leiam a
transcrição do que disse Mariano Rajoy, Primeiro – Ministro de Espanha:
-
“Para se estar na Europa com força é preciso ser
grande. Os pequenos não contam.” … e não estava, com certeza, a pensar em
Portugal…
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