Episódio Nº 39
No outro dia Balduíno
ficou com Rozendo no mais escuro da escada. Pensava em chamar Jubiabá à
noite. Mas, pelo meio da tarde, Viriato, o Anão, trouxe uma preta gorda.
Rosendo delirava e não a
reconheceu. Ela se abraçou com ele e o levou. Foram. Foram num automóvel.
António Balduíno perguntou:
- Tem dinheiro, sinhá dona?
- Pouco, mas dá com a ajuda de Deus…
Aí António Balduíno se
lembrou do anel que trazia no pescoço:
- A gente dá isso pra Rozendo… Pró médico…
Os outros olhavam com os
olhos longos. A preta perguntou:
- Vocês roubaram isto? Vocês são ladrões? Meu
filho estava com ladrão?
- A gente achou isso na rua…
- A negra pegou no anel. António Balduíno
ainda perguntou:
- A senhora quer que eu leve Jubiabá a sua
casa, ele cura Rosendo…
Você leva Jubiabá?
- Levo, sim. Ele é meu amigo…
- Ah! leve, meu bem. Leve…
Rosendo foi gritando no
carro dizendo que queria a mãe dele, que ia morrer.
António Balduíno perguntou
a Viriato.
- Como foi que você encontrou ela?
- O mais difícil é que ela não tava mais
amigada com um carroceiro. Agora era um carpina…
Ficou olhando a rua que se
movimentava. De repente disse a Balduíno:
- E se eu ficar doente? Eu não tenho mãe, nem
pai, nem ninguém…
António Balduíno botou a
mão no ombro de Viriato., o Anão.
O Gordo tremia.
Jubiabá foi e curou
Rosendo. Numa manhã de muito sol o grupo apareceu para visitar o companheiro.
Rosendo já estava sentado numa cadeira que o padrasto construíra e riram muito
recordando as aventuras do grupo.
Rozendo contou que não ia
mais mendigar, que agora ia ser um homem e trabalhar de carpina com seu
padrasto. António Balduíno sorriu. Viriato, o Anão, ficou sério.
O imperador da cidade come
nos melhores restaurantes, anda nos automóveis mais luxuosos, mora nos
arranha-céus mais novos. E sem pagar nada.
Depois do meio-dia vai com
o seu grupo a um restaurante e diz qualquer coisa a um garçon. Ele bem sabe que
não é negócio brigar com estes moleques. Dá a sobra da comida embrulhada em
jornais.
Certas vezes até sobra
comida que eles jogam nas latas do lixo. E velhos mendigos comem a sobra das
sobras.
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