quinta-feira, agosto 22, 2013

JUBIABÁ

Episódio nº 91



O Gordo contou a história da panela de Pedro Malazarte e as crianças dormiram. E uma delas ainda trás fechado na pequena mão negra um boneco de barro, aleijado de um braço.

E no seu sonho, o boneco preto de barro é uma boneca loira de louça que diz “mamãe” e fecha os olhos para dormir. Saíram para o lado do rio. Os homens cantam à lua cheia. Mulheres de vestidos remendados andam na amurada. O rio passa e desaparece em baixo da ponte.

O Gordo canta a “Cantiga do Vilela” que António Balduíno acompanha ao violão. Os homens estão todos atentos à luta heróica do cangaceiro Vilela com o “alferes negreiro”.

A cantiga é heróica. O alferes foi um herói: Vilela foi mais heróico ainda:


“O Alferes foi valente
          E de valente enforcou-se!
     Mais valente foi Vilela:
                     Morreu, foi santo e salvou-se…»


 - Bonito – fala um homem

 - Nunca vi dizer que jagunço virasse santo – atalha uma mulherzinha magra.

 - Tem muito jagunço que merece ser santo mesmo… - o homem que explica bate os dedos na muralha do cais. – Você já viu jagunço roubar pobre? Jagunço é pobre como a gente…

- Jagunço… eu gosto de jagunço…

 - T’ esconjuro sujo! Parece que não viu o que eles fizeram com o coronel Anastácio… Deixou o homem sem as orelhas… sem o nariz… até as coisas dele arrancou… Ficou parecendo um bicho, Deus me perdoe…

Riem se lembrando como ficara o homem. Mas o que está batendo na amurada do cais, diz:

 - Mas você não se lembra do que o Coronel Anastácio fez com as filhas do Simão maneta… Eram quatro, ele não deixou nem uma… papou todinha… O velho ficou doido… Mais tivesse e mais o Coronel chamava aos peitos. Jagunço é quem vinga a gente…

Virou-se para o Gordo:

 - Cante outra modinha, camarada.

Mas foi António Balduíno quem passou a cantar samba e modinha que fizeram as mulheres tristes…

Do sino da igreja vêem as batidas das nove horas.

 - Vamos ao samba da casa do Fabrício, minha gente? - convida um negro forte.

Vai um grupo. Os demais se dirigem para as casas ou ainda demoram no cais, olhando a lua, o rio, a ponte, cinema que eles têm.


Fabrício recebia os convidados com o copo da cachaça na mão.

 - Não quer matar o jejum?

Todos queriam e o copo passava de boca em boca, um copo grosso que Fabrício enchia conscienciosamente até transbordar.

O canoeiro apresentava António Balduíno e o Gordo:


 - Dois amigos…

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