Episódio nº 91
O Gordo contou a história
da panela de Pedro Malazarte e as crianças dormiram. E uma delas ainda trás
fechado na pequena mão negra um boneco de barro, aleijado de um braço.
E no seu sonho, o boneco
preto de barro é uma boneca loira de louça que diz “mamãe” e fecha os olhos
para dormir. Saíram para o lado do rio. Os homens cantam à lua cheia. Mulheres
de vestidos remendados andam na amurada. O rio passa e desaparece em baixo da
ponte.
O Gordo canta a “Cantiga
do Vilela” que António Balduíno acompanha ao violão. Os homens estão todos
atentos à luta heróica do cangaceiro Vilela com o “alferes negreiro”.
A cantiga é heróica. O
alferes foi um herói: Vilela foi mais heróico ainda:
“O Alferes foi valente
E de valente enforcou-se!
Mais valente foi Vilela:
Morreu, foi santo e
salvou-se…»
- Bonito – fala um homem
- Nunca vi dizer que jagunço virasse santo –
atalha uma mulherzinha magra.
- Tem muito jagunço que merece ser santo
mesmo… - o homem que explica bate os dedos na muralha do cais. – Você já viu
jagunço roubar pobre? Jagunço é pobre como a gente…
- Jagunço… eu gosto de
jagunço…
- T’ esconjuro sujo! Parece que não viu o que
eles fizeram com o coronel Anastácio… Deixou o homem sem as orelhas… sem o
nariz… até as coisas dele arrancou… Ficou parecendo um bicho, Deus me perdoe…
Riem se lembrando como
ficara o homem. Mas o que está batendo na amurada do cais, diz:
- Mas você não se lembra do que o Coronel
Anastácio fez com as filhas do Simão maneta… Eram quatro, ele não deixou nem
uma… papou todinha… O velho ficou doido… Mais tivesse e mais o Coronel chamava
aos peitos. Jagunço é quem vinga a gente…
Virou-se para o Gordo:
- Cante outra modinha, camarada.
Mas foi António Balduíno
quem passou a cantar samba e modinha que fizeram as mulheres tristes…
Do sino da igreja vêem as
batidas das nove horas.
- Vamos ao samba da casa do Fabrício, minha
gente? - convida um negro forte.
Vai um grupo. Os demais se
dirigem para as casas ou ainda demoram no cais, olhando a lua, o rio, a ponte,
cinema que eles têm.
Fabrício recebia os
convidados com o copo da cachaça na mão.
- Não quer matar o jejum?
Todos queriam e o copo
passava de boca em boca, um copo grosso que Fabrício enchia conscienciosamente
até transbordar.
O canoeiro apresentava
António Balduíno e o Gordo:
- Dois amigos…
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