A Minha cidade de Santarém |
Hoje é Domingo
(Na minha cidade de
Santarém)
No passado Domingo afirmei a
Trabalhamos e poupamos, não para pagar a
dívida, mas apenas os encargos, o tal prato a mais à mesa de todos os
portugueses ao qual não pode faltar a comida.
É certo que houve factores de natureza
externa, financeiros e políticos, em directivas da Comunidade Europeia que se
julgavam boas para o país e para a Europa e que acabaram por não o ser nem para
uns nem para outros, por culpa de todos, e isso contribuiu para a situação a
que chegámos.
Mas os políticos nacionais têm que ser
fortemente responsabilizados porque demonstraram espírito de megalomania que
incluía um novo Aeroporto Internacional e linhas de TGV num desmesurado
irrealismo e grande insensatez, assentes numa concepção cor de rosa da
avaliação do futuro para delírio das grandes empresas de obras públicas.
Estas despesas de investimento que
passaram pela cabeça de todos os políticos do arco do governo, - quem não se
lembra das discussões quanto a traçados e número de Linhas de TGV e a localizações
do novo Aeroporto - e tão ao gosto do
ego dos portugueses e dos seus interesses imediatos, têm, no entanto, um
retorno a muito longo prazo e até uma viabilidade económico-financeira duvidosa
podendo transformar-se em autênticos elefantes brancos para os seus
possuidores.
A propósito de "elefantes brancos" recordo o Porto de Sines, de águas profundas, decisão do governo de 1971 que durante anos foi considerado "um elefante branco" do regime e que hoje proporciona das maiores receitas para a balança comercial. O que esteve mal, neste caso, foi chamarem-lhe "elefante branco"...
A propósito de "elefantes brancos" recordo o Porto de Sines, de águas profundas, decisão do governo de 1971 que durante anos foi considerado "um elefante branco" do regime e que hoje proporciona das maiores receitas para a balança comercial. O que esteve mal, neste caso, foi chamarem-lhe "elefante branco"...
Estes grandes investimentos públicos não estão todos condenados à partida, longe disso, mas necessitam de uma ponderação muito responsável quanto à oportunidade, enquadramento no espaço europeu e às condições de financiamento e
pagamento.
Foi fácil governar um país e equi librar as Contas, adequando apenas os impostos às
despesas como fez Salazar no princípio da sua governação. Portugal estava muito
bem como estava de acordo com o seu pensamento. Então, os tempos e o regime
eram outros, a mentalidade outra e os portugueses não eram os mesmos, tal como
a europa e o mundo também não eram.
A liberdade e a democracia trazidas pela
revolução do 25 de Abril alteraram tudo, tardiamente e com custos, mas
alteraram. Ao princípio foi o caos e a balbúrdia. O país tentava viver de
discursos, reivindicações e protestos mas inutilmente…
Anunciar direitos, criar expectativas,
alimenta o espírito mas não a barriga. Desta fase ficou-nos a atracção pela
demagogia, as promessas como programa político, a mentira para conqui star votos e os portugueses, que nunca tinham
tido nada, foram levados nesta onda em que os eleitores tinham dificuldade em
descortinar a verdade.
E muitos, ingenuamente, perguntavam-se
por que não haveria de ser como dizia aquele senhor bem – falante?...
E o voto que conferia o poder passou a
depender de objectivos sedutores anunciados em lindas campanhas eleitorais
orquestradas ao som de músicas sedutoras que conferiam uma ilusão de felicidade e
bem – estar no futuro, sem que ninguém tivesse a coragem de chamar a atenção
para as realidades. Política partidária na sua pior expressão.
A democracia foi-se transformando, assim, num cortejo de promessas alimentadas – mal – pelos milhões dos Apoios Comunitários. Quem falasse verdade, de uma forma realista e sensata não ganhava eleições, nem sequer se atrevia a candidatar.
A democracia foi-se transformando, assim, num cortejo de promessas alimentadas – mal – pelos milhões dos Apoios Comunitários. Quem falasse verdade, de uma forma realista e sensata não ganhava eleições, nem sequer se atrevia a candidatar.
A mentira instala-se na política, a
habilidade dos discursos, a simulação, o gesto teatral, os expedientes da
argumentação, passaram a ser as grandes armas para a conqui sta
do poder.
Quem não for capaz de gerar expectativas
agradáveis e aparentemente credíveis, não conqui sta
o poder… Isto não era nenhuma novidade em política mas agora eram máqui nas de marketing, técnicas científicas,
infalíveis:
-
… “Vende-se” um Presidente como se vende um sabonete, diziam, atrevida e
provocatoriamente, os homens do marketing.
A democracia, sendo desejada, não estava
na nossa tradição e a sua aprendizagem faz-se a partir de níveis culturais e de
uma cidadania responsável que exige políticos sérios e competentes.
Perdemos a nossa autonomia, tão
proximamente não seremos livres para tomar decisões, não temos moeda nossa…
dolorosamente, estamos nas mãos dos nossos credores.
Os
sacrifícios do próximo ano continuarão a ser para o cortejo dos desempregados uma
cada vez mais dolorosa aprendizagem de uma dura realidade mas, os anos
seguintes como serão?...
Alguns dos nossos emigrantes que já
tinham regressado ao país há anos para viverem o resto das suas vidas, fecham a
porta das suas casas, pegam nas malas e regressam de novo à emigração com o
desânimo e a revolta estampados nos rostos.
Quando, há tempos, o governo suíço
perguntou à população se queria trabalhar menos horas, ela respondeu,
maioritariamente, que não.
A Noruega que tem imensas reservas de
petróleo que permitiria aos cidadãos pagar a gasolina a preços reduzidos. Tem,
contudo, os preços mais altos do mundo porque prefiram constituir um Fundo com
os lucros do petróleo para acautelar o futuro.
Num caso e no outro, suíços e
noruegueses pensaram no dia de amanhã, acautelaram-se, utilizaram os seus
poderes de cidadania preocupados com os filhos e os netos.
Isto
é democracia a sério porque são os cidadãos que decidem, em liberdade e de
forma responsável, contra o facilitismo de hoje porque o futuro é mais
importante.
Nós, por cá, celebramos contratos de
Parecerias Público Privadas para pagar uma rede de auto-estradas megalómana
cada vez com menos trânsito e que os nossos herdeiros irão pagar no futuro…
A “pedra de toque” para aferir da qualidade
de qualquer governo ou de qualquer regime é o país que se deixa para as nossas
crianças.
A história, como sempre, vai fazer-se no
futuro… será que aprenderemos alguma coisa?...
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