Episódio Nº 133
Robert era um dos sargentos, António
Balduíno o outro. O grande equi librista
ficava elegantíssimo na sua farda de sargento francês. Porém a de António
Balduíno ficava pequena, que fora feita para o engolidor de espadas que trabalhara
no circo anos atrás.
Apertava o negro todo e o sabre ficava
ridículo de tão pequeno. Mas se fosse isso só, tudo estaria bem. O pior é que
Fifi queria receber os seus salários atrasados antes de começar a segunda
parte, na qual seria representada a célebre pantomina «Os cinco Sargentos».
Luigi ainda não fizera as contas das
despesas forçadas do Circo e não queria pagar, a não ser no dia seguinte, Fifi
não ia nisso:
-
Ou paga agora ou não entro em cena…
Ela fazia o papel do terceiro sargento e
ficava bela de roupa de homem. Vermelha de raiva, esticava o dedo, ameaçando. E
fardada de sargento, berrando, gritando, acabou fazendo Luigi ter um ataque de
riso.
-
A farda tomou conta de você… Você está pensando mesmo que é sargento.
-
Não deboche, ouviu?
Giusepe veio bêbedo lá de dentro falando
em arte, em palmas e chorou. Luigi pediu a Fifi que esperasse, que ele ia fazer
contas e pagaria esta noite mesmo. Que não demorasse a continuação do
espectáculo. Ouvisse: o público, lá dentro, já reclamava, batia os pés,
impaciente.
Luigi puxava os raros cabelos, num quase
desespero. Rosenda Rosedá se comoveu.
-
Deixe de ser desmancha-prazeres, mulher. O espectáculo hoje correu tão bem…
Fifi sabia disso, sabia. E não gostava
de ser estraga-prazeres tão pouco. Sim… o espectáculo correra bem, foram muitos
os aplausos, havia muita gente na plateia. Todos estavam satisfeitos e ela
também. Mas junto do seu seio estava a carta da directora do colégio.
E ela devia ser forte, devia resistir,
devia brigar. Fazia dois meses que não pagava o colégio da filha. Se não
pagasse dentro de dez dias, a directora mandaria a menina de volta para junto
dela.
E ela não queria a sua filha no circo.
Isso não. Devia ser forte, tinha que ser forte. Mas não pode espiar para os
olhos de Luigi que roga.
Luigi sempre fora bom para ela, a ajudara
mesmo. Mas se ela não exigisse, após o espectáculo, deixaria para o outro dia,
no outro dia apareceriam as despesas forçadas e a menina viria se bater ali, e
adeus todos os seus planos, todos os seus sonhos acalentados durante estes
longos quatro anos em que pagara com tanto sacrifício o colégio de Elvira.
Quando a filha nasceu ela acabara de ler
Elvira, a morta virgem. Agora nem dinheiro para comprar romances ela tinha.
Mandava tudo para a directora do colégio e assim mesmo mal dava.
Já estava no fim. Se ela não fosse
forte, se não resistisse, cairiam todos os seus castelos, alimentados à custa
de tanto sacrifício.
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